Dando sequência à série de conteúdos com detalhamento dos polímeros mais utilizados pelas indústrias, o Mundo do Plástico conta tudo sobre o BOPP.
Acompanhe!
O que é BOPP?
BOPP é a sigla para o filme plástico polipropileno biorientado.
Ele recebe este nome porque, no processo de fabricação, o polipropileno é estirado em dois sentidos: no da máquina (vertical) e na transversal (horizontal).
Ricardo Cuzziol, técnico em plásticos pelo SENAI Mario Amato, engenheiro Químico pela E. E. Mauá e mestre em Engenharia Química com ênfase em Ciência e Tecnologia de Polímeros pela FEQ/Unicamp, explica que, assim como em uma corrente, a resistência mecânica de um material tende a ser maior na direção em que as moléculas estão orientadas.
“Na fabricação do BOPP, aplicamos uma tensão no sentido do comprimento e em seguida outra tensão no sentido da largura. Com isso, uma parte das moléculas fica orientada no sentido do comprimento e outra parte, no sentido da largura, garantindo boas propriedades mecânicas nas duas direções”, completa.
Como o BOPP é produzido?
O processo tem início com a produção do polipropileno (PP) a partir de dois insumos do petróleo, a nafta e o gás de refinaria, que dão origem ao propeno.
A adição de catalisadores provoca a polimerização do propeno, da qual resulta o polipropileno.
Em seu canal no YouTube, Cuzziol demonstra como o PP, com espessura de uma chapa translúcida, passa pelo processo de extrusão (ou coextrusão). A primeira etapa é o aquecimento e estiramento, que tensiona as moléculas do polímero no sentido do comprimento.
Em seguida, o sistema de orientação transversal insere o PP (que aqui já se encontra com uma espessura menor) na extensa parte da linha de produção responsável por esticar o polímero no sentido da largura.
O resultado é um filme fino, transparente, flexível e bem mais largo do que quando entrou na máquina. Um conjunto de lâminas elimina as irregularidades laterais e as aparas viram plástico reciclado pós-industrial (PIR).
O filme, então, segue para as unidades de medição e controle de qualidade e embobinamento.
Como é transformado?
Este processo é responsável por garantir as principais características do BOPP – entre elas, resistência a umidade, tração, agentes químicos e raios UV, estabilidade térmica, baixa elasticidade com alguma flexibilidade, propriedade de barreira e facilidade de moldagem e impressão.
Por isso, ele é amplamente utilizado pela indústria de embalagens, rótulos e etiquetas, que submete o filme a processos de corte, impressão flexográfica, laminação (junção de dois ou mais materiais) e acabamento (solda, colagem) de acordo com a necessidade do cliente.
Aplicações do BOPP
O BOPP pode ser fabricado em diferentes apresentações, como pérola (base branca e opaca), transparente e metalizado, o que amplia ainda mais seu leque de aplicações.
A indústria que mais consome este material é a alimentícia, uma vez que, além de preservar os produtos, as embalagens flexíveis de BOPP tem forte apelo visual nas gôndolas.
De acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast) com seus associados, as vendas de 2022 no geral apresentaram crescimento de 5,5% sobre o ano anterior; o segmento de BOPP+BOPET foi o que mais cresceu, 13,3%.
As aplicações pela indústria alimentícia são as mais diversas, de embalagens flexíveis de café, salgadinhos, biscoitos, massas, sopas instantâneas, chocolates e muitos outros, até etiquetas envolventes.
O filme BOPP é bastante usado também pela indústria de tabaco, fitas adesivas e embalagens para presente.
Reciclagem do filme BOPP
Na segunda edição do Fórum de Economia Circular promovido pela revista Plástico Sul, em maio, Alceu Lorenzon, da Alcaplás, indústria especializada no reaproveitamento e transformação de materiais plásticos, apontou o plástico flexível como o maior desafio dos recicladores.
Segundo o dirigente, ele é o mais difícil de higienizar, o que acaba aumentando o custo.
“O flexível é o que mais chega em quantidade na reciclagem, mas é o menos reciclado”, disse na ocasião.
De acordo com a eCycle, as embalagens BOPP só não têm um índice maior de reciclagem devido à falta de identificação correta e a pouca informação dos recicladores e produtores acerca das possibilidades de reaproveitamento.
Por isso, iniciativas de grandes indústrias de alimentos são fundamentais para aumentar o reaproveitamento do BOPP.
É o caso, por exemplo, da PepsiCo, que anunciou a recuperação de 8 mil toneladas de plástico flexível pós-consumo em 2022.
Em parceria com a eureciclo, todo este resíduo foi destinado para a indústria cimenteira, que o utiliza como combustível nos fornos e também na matéria-prima do cimento.
Ricardo Cuzziol reforça que o BOPP é, sim, reciclável, apesar de demandar cuidados específicos em termos de equipamentos (aglutinadores e alimentação forçada) para uma maior eficiência.
Em alguns casos, isso pode limitar as empresas que tenham capacidade de reciclar o material.
“Outro ponto muito importante é a laminação com outros materiais. Embora existam soluções técnicas para esta reciclagem, suas aplicações ainda podem demandar menores volumes do que o BOPP virgem. À medida que a sociedade se conscientiza da importância da sustentabilidade e requisita mais produtos que utilizem materiais reciclados, o incentivo à reciclagem desses produtos também será favorecido”, defende.
Interessou-se pelo assunto? Então venha conhecer exemplos de inovação e eficiência em embalagens da indústria de alimentos.