O Brasil produz muito lixo e recicla muito pouco. Segundo a ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, atual ABREMA), em 2021 apenas 4% dos resíduos sólidos que poderiam ser reciclados seguiram para esta destinação.
“Isso também se deve a uma falta de informação sobre como incorporar as práticas de reciclagem no nosso dia a dia. Então, explicar sobre reciclagem desde os primeiros anos do ensino formal pode ajudar muito a adotar práticas mais adequadas para a destinação correta dos resíduos” – avalia Filippe Barros, professor da Fundação Vanzolini – “seja como consumidor final, que usou um produto e está fazendo o descarte, seja como profissional, atuando numa empresa que possa ser uma grande geradora de resíduos”.
Educação multidisciplinar para a sustentabilidade
Como exemplo deste tipo de ação educativa, Barros cita um curso via WhatsApp promovido pelo Instituto Meio, do qual ele é gestor de Metodologia, que utilizou princípios de microlearning (oferta de conteúdos curtos) e andragogia (ensino voltado à vivência das pessoas adultas), em uma cidade de Minas Gerais.
Com objetivo de ampliar a quantidade de material coletado pela associação local de catadores, o curso abordou temas como separação e destinação dos resíduos.
Ao final, o volume de materiais recicláveis coletados aumentou em 60%.
Para Barros, a educação voltada para a sustentabilidade precisa ser multidisciplinar e refletir a complexidade dos desafios atuais, ajudando as pessoas a assumirem seu papel como cidadãos, consumidores e profissionais.
Do ponto de vista das organizações, a sustentabilidade deve deixar de ser responsabilidade de uma única área e ser entendida como algo transversal, influenciando o modelo de negócio, a estratégia e, por consequência, as várias áreas funcionais.
“A educação para a sustentabilidade precisa estar conectada ao core business das organizações. Ao ensinar marketing, é importante abordar marketing verde, consumo consciente e outros temas correlatos. Se a gente vai ensinar a cadeia de suprimentos, é importante falar sobre circularidade e assim por diante”, reforça.
Já do ponto de vista de educar a sociedade civil, Barros acredita que é importante abordar todos os elos da cadeia da reciclagem, desde aspectos relacionados à sustentabilidade e ao capital natural, até a produção, comercialização, compra, uso, descarte de produtos.
Do mesmo modo, é fundamental envolver todos os atores relacionados à cadeia – caso dos catadores, cooperativas, associações e poder público.
“No caso do plástico, especificamente, as informações sobre separação dos materiais são muito importantes para estimular a diferenciação entre os vários tipos no momento da separação e destinação desses resíduos”, acrescenta.
Ensino profissionalizante
Barros lembra que nos cursos de graduação e pós-graduação, inclusive de Engenharia, já há disciplinas específicas para reciclagem, tanto de forma mais abrangente quanto mais específicas, como as orientadas para reciclagem de resíduos de construção civil, mineração e até mesmo de polímeros.
Neste sentido, o professor da Fundação Vanzolini destaca o Principles for Responsible Management Education (PRME), iniciativa apoiada pela ONU que visa a elevar o perfil de sustentabilidade nas salas de aula.
A iniciativa envolve escolas de negócios e de gestão para proporcionar aos futuros líderes as competências necessárias para equilibrar os objetivos econômicos, ambientais e sociais.
Ao mesmo tempo, atua para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e alinha as instituições acadêmicas com o Pacto Global da ONU.
De acordo com Barros, estes cursos têm o desafio de trazer para o ensino técnico e superior as diretrizes que vão preparar os profissionais para a sustentabilidade por meio da gestão responsável e da conexão com as várias áreas de negócios.
“Eles se propõem a formar gestores responsáveis e que sejam catalisadores de transformações. E, para isso, a gente sempre enfatiza a necessidade de uma abordagem holística da sustentabilidade, de maneira aplicada e prática.”
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