Dentre os muitos processos e conceitos que vêm sendo adotados pelas indústrias para tornar suas atividades mais sustentáveis, o ecodesign é um dos que mais vem ganhando popularidade.

Isso se torna especialmente importante diante do contexto das mudanças climáticas observadas no mundo, que tornam urgentes que os processos sejam revistos e novas formas de produzir sejam desenvolvidas.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, ecodesign é “todo o processo que contempla os aspectos ambientais nos quais o objetivo principal é projetar ambientes, desenvolver produtos e executar serviços que de alguma maneira irão reduzir o uso dos recursos não-renováveis ou, ainda, minimizar o impacto ambiental destes durante seu ciclo de vida”

Confira a seguir um pouco mais sobre esse processo. 

Ecodesign na indústria do plástico

Traduzindo este conceito amplo para a indústria do plástico, Aparecido Borghi, professor de Gestão da Cadeia de Suprimentos, Projetos de Produtos e de Engenharia de Embalagens do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), explica que o ecodesign representa uma abordagem holística, que leva em conta os impactos ambientais do produto ao longo de todo o seu ciclo de vida, da seleção dos materiais até o descarte final. 

“A implementação do ecodesign na indústria do plástico é um processo contínuo e que exige o compromisso de toda a cadeia produtiva, desde os fabricantes até os consumidores. Através dessa abordagem, é possível reduzir significativamente os impactos ambientais do plástico e contribuir para a construção de um futuro mais sustentável”, explica.

Dentro desta abordagem, destacam-se:

  • Processos produtivos eficientes, com diminuição de refugos e perdas de produção, e que busquem continuamente a redução do consumo de energia;
  • DfE (Design for Environment, ou Design para o Meio Ambiente), metodologia que busca integrar considerações ambientais em todas as etapas do processo de design, visando à diminuição do consumo de recursos naturais, da geração de resíduos e das emissões.
  • Otimização calculada da quantidade de material plástico no produto, sem comprometer sua performance e vida útil.

Sobre este último aspecto, Borghi chama atenção para o fato de que a redução de materiais deve ser bastante criteriosa a fim de evitar que o efeito seja exatamente o contrário do esperado. Isso porque a redução de massa sem suporte técnico pode fragilizar a embalagem, resultando em maior perda de produtos e, consequentemente, em maior impacto ambiental.

Embalagens com ecodesign

Principalmente no caso das embalagens, é importante reforçar que por mais que se busque diminuir o impacto ambiental, não se pode perder de vista sua função primária: proteger o conteúdo. 

“Conciliar o ecodesign com os atributos das embalagens é um desafio, mas é possível projetar sistemas que sejam ambientalmente responsáveis e eficazes na segurança e na comunicação com o consumidor”, acrescenta.

O professor reforça que um projeto de embalagem de sucesso prioriza a funcionalidade, utiliza materiais e processos produtivos de menor impacto ambiental e tem um olhar atento no design, oferecendo ergonomia e usabilidade.

Marcas com maior maturidade sustentável já têm como prática avaliar se mudanças ou lançamento de um novo produto e embalagem têm impacto ambiental igual ou inferior ao produto a ser substituído. 

Uma das metodologias utilizadas neste processo decisório é chamada de Análise de Ciclo de Vida (ACV), que avalia o impacto ambiental – consumo de recursos naturais, emissões de poluentes, geração de resíduos e uso de energia – de um produto, serviço ou processo ao longo de todo o seu ciclo. 

“Na prática, as equipes de desenvolvimento de produtos e embalagens devem mostrar os cálculos da nova alternativa e provar que o impacto ambiental é igual ou menor. Programas computacionais específicos são utilizados para esse fim, garantindo a credibilidade no processo”, relata Borghi.

Ciclo de vida

Existe uma família de conceitos que definem a filosofia de um design mais abrangente e que consideram todo o ciclo de vida de um produto. É o chamado DfX (Design para Excelência), que engloba:

Design for Manufacturability (DfM): Leva em conta a facilidade de fabricação do produto, buscando simplificar o processo de produção e reduzir custos;

Design for Assembly (DfA): Foca na facilidade de montagem dos componentes do produto, visando a reduzir o tempo e o custo da montagem;

Design for Serviceability (DfS): Visa a facilitar a manutenção e o reparo do produto ao longo de sua vida útil, aumentando sua durabilidade e reduzindo os custos de manutenção;

Design for Environment (DfE): Como já citado, tem como objetivo reduzir o impacto ambiental do produto, considerando aspectos como seleção de materiais, eficiência energética e reciclabilidade; e

Design for Disassembly (DfD): Concentra-se na facilidade de desmontagem do produto no final de sua vida útil, permitindo a recuperação de materiais e componentes para reciclagem ou reutilização.

Ecodesign em outras indústrias

Como se pode notar pela abrangência dos conceitos expostos, o ecodesign na indústria do plástico vai muito além das embalagens e beneficia, por exemplo, indústrias de eletrodomésticos e automóveis. 

No primeiro caso, o design modular facilita o reparo e a substituição de peças, prolongando a vida útil do produto e evitando o descarte prematuro. 

Já em automóveis, a utilização de materiais leves pode reduzir o peso dos veículos, resultando em melhor eficiência energética, menor consumo de combustíveis e possível diminuição das emissões de gases poluentes. 

O ecodesign estende-se inclusive a outras indústrias que não utilizam o plástico como matéria-prima, como têxtil e de vidro.

“Podemos concluir que o ecodesign é crucial para construir uma economia circular e sustentável em todos os setores. Ao implementar seus princípios, as empresas podem reduzir o impacto ambiental de seus produtos e serviços, além de contribuir para um futuro mais sustentável”, diz.

O professor relembra que os consumidores estão cada vez mais conscientes do impacto ambiental do que consomem e desejam que suas marcas preferidas lhes ajudem a adotar hábitos de menor impacto.  

“Em suma, ao incorporar o ecodesign em seus produtos as empresas podem contribuir para a construção de um futuro mais sustentável para todos”, conclui Borghi.

Quer ficar por dentro do que há de novo em iniciativas sustentáveis para a indústria do plástico? Então não deixe de visitar a seção de Reciclagem do Mundo do Plástico.