Você já ouviu falar sobre Design for Disassembly e sua relação com as embalagens? Este termo é amplo, mas faz referência ao desenvolvimento de produtos de uma forma que facilite sua desmontagem. 

No contexto da indústria do plástico, Design for Disassembly significa adotar medidas que permitam a desmontagem de toda uma linha de pensamento sobre embalagens plásticas, respaldando a economia circular.

Diante da importância deste tema, Antonio Cabral, coordenador do curso de pós-graduação em engenharia de embalagens do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), ministrou uma palestra no Parque de Ideias da Plástico Brasil 2023

Produzimos muito, mas desperdiçamos em excesso

Em todo o mundo, a fome apresentou um crescimento nos últimos dois anos, alcançando quase 10% da população. Mesmo assim, cerca de 17% dos alimentos produzidos em todo o planeta são desperdiçados.

Estima-se que 828 milhões de pessoas no mundo passam fome, enquanto outras 2,3 bilhões sofrem com a insegurança alimentar.

Esses números são resultado de uma série de ações – ou, mais especificamente, da falta delas. Entre elas, é possível citar a falta de infraestrutura da cadeia de suprimentos, perdas na colheita e perdas nos domicílios.

Neste último caso, as perdas são decorrentes de falhas no desenvolvimento de embalagens, com a falta de alternativas para o preparo integral do alimento ou falta de opções no tamanho das porções e das embalagens.

Mas, segundo Antonio Cabral, a ideia central para reduzir o desperdício não está na eliminação da embalagem e sim na sua evolução. “Não é preciso eliminar as embalagens, é necessário adequá-las!”.

Segundo o professor, é preciso aliar a necessidade do produto com as características da embalagem ideal para ele. “Um produto que tem vida útil de 6 meses não precisa de uma embalagem que garanta sua proteção por 3 anos, por exemplo. Isso é desperdício”, exemplifica.

Assim, dentro do conceito de “Design for Disassembly”, Cabral destaca que é preciso “desmontar” a embalagem e todo o contexto a ela relacionado, sendo essa a melhor forma para conhecê-la. 

No contexto das embalagens, a economia circular é, acima de tudo, desmontar nosso pensamento para pensar uma embalagem que seja específica para cada necessidade.

É preciso desmontar para entender e para inovar

Montar uma embalagem dentro do contexto de “Design for Disassembly” exige, acima de qualquer coisa, uma série de conhecimentos, que englobam muito mais do que os materiais escolhidos.

Cabral destaca que o desenvolvimento de qualquer embalagem depende do que chamamos de sistema de embalagem. Ele engloba todo um conjunto de decisões que partem do entendimento das demandas do consumidor, passando pelo projeto, processos, seleção de fornecedores, até a devolução do produto.

No sistema de embalagem, pensar apenas no material é pensar muito pequeno! Precisamos olhar para o todo e sermos mais realistas”, recomenda.

O professor destacou também que há basicamente 4 indicadores de gestão para o desenvolvimento de embalagens:

  1. Custo total
  2. Impacto ambiental
  3. Capital humano
  4. Inovação 

Durante a palestra, Cabral fez uma provocação aos presentes: “Como o seu produto estraga? Por que você usa essa embalagem ou invés daquela?”. 

O professor complementou: “Para proteger o conteúdo de uma embalagem, precisamos entender como ele funciona. Para isso, devemos desmontar para entender e desmontar para inovar!”.

Como desenvolver uma boa embalagem?

Durante a palestra, o professor do IMT destacou que uma boa embalagem é aquela que seja eficiente para proteger um produto, mas que seja reciclável e pensada para um lugar específico.

Diante disso, um bom projeto de embalagem depende de alguns pontos essenciais e que sigam o conceito de “Design for Disassembly”.

Para Cabral, toda boa embalagem começa com um bom briefing. “Precisamos de arte para preparar e inteligência para interpretar!”.

Neste briefing, o professor sugeriu algumas perguntas que o projeto deve responder. São elas:

  • O que o consumidor deseja?
  • Como o produto estraga? Qual o tipo de proteção que o produto requer durante o manuseio, transporte, distribuição e estocagem?
  • O sistema de embalagem projetado atende os anseios do consumidor? Ele segue a legislação e as convenções em vigor?
  • Qual é o impacto que essa embalagem causa ao meio ambiente? O sistema de embalagem é ético?
  • O sistema de embalagem projetado atende aos custos pré-estabelecidos?

O professor também destacou que um bom sistema de embalagem depende da troca contínua de ideias. “Para desenvolver uma embalagem mais responsável precisamos adotar um ambiente de troca contínua de ideias que resultem em competências. Isso vira inovação, que vira vantagem competitiva, gerando dinheiro”, conclui.

Design for Disassembly em embalagens: principais recomendações

Por definição, o “Design for Disassembly” é um processo de desmontagem para melhor entendimento!

Na área de embalagens, esse conceito é essencial para reduzir custos, perdas e desperdícios. Também contribui com o aumento do potencial de melhoria dos indicadores de qualidade e demais questões.

Assim, ao final da sua palestra, Antonio Cabral destacou algumas recomendações bastante interessantes para o desenvolvimento de uma embalagem plástica, tais como:

  • Simplificar para facilitar a montagem;
  • Minimizar o número de partes;
  • Padronizar;
  • Usar materiais reprocessáveis;
  • Alinhar o design ao processo e ao sistema de manufatura;
  • Projetar cada parte para que seja fácil de montar;
  • Projetar para a quantidade esperada de produção;
  • Maximizar o compliance;
  • Reduzir ajustes;
  • Reduzir o número de operações;
  • Gerenciar o projeto adequadamente;
  • Avaliar sempre outras alternativas de design.

Ainda dentro desse contexto, o professor do IMT sugeriu a necessidade de estudar a jornada do consumidor e a jornada da embalagem. “Esse estudo será de grande valia para identificar oportunidades”, destacou.

Por fim, o professor afirmou em sua palestra que a economia circular depende cada vez mais do atendimento ao conceito de “Design for Disassembly”.

Precisamos cada vez mais de situações que unam metodologia, tecnologia e fatores humanos. Eles são essenciais e contribuem com a circularidade da cadeia do plástico.

Quer ver mais insights sobre esse tema? Então confira a palestra completa de Antonio Cabral gravada na Plástico Brasil.