Todo e qualquer produto ou serviço provoca um impacto no meio ambiente, que pode vir do seu processo produtivo ou da sua criação, das matérias-primas utilizadas ou devido ao seu uso e descarte.
Para mensurar isso, a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é uma técnica bastante utilizada.
Com uma abordagem sistêmica, a ACV é conhecida como do “berço ao túmulo”, na qual são levantados os dados em todas as fases do ciclo de vida do produto.
Também vale ressaltar que o plástico é um produto em que a técnica de ACV é cada vez mais demandada, principalmente pelo potencial de reciclabilidade deste elemento.
Avaliação do ciclo de vida (ACV): entendendo o conceito
Por definição, a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é uma técnica desenvolvida com o objetivo de mensurar os possíveis impactos ambientais que são resultado da fabricação e utilização de determinado produto ou serviço.
Com uma abordagem sistêmica, a ACV é conhecida como do “berço ao túmulo”. Isso ocorre porque, na ACV, são levantados os dados em todas as fases do ciclo de vida de um produto, desde o seu nascimento até o descarte.
Dessa forma, o ciclo de vida faz referência a todas as etapas de produção e uso do produto, relativas à extração das matérias-primas, passando pela produção, distribuição até o consumo e disposição final, contemplando também reciclagem e reuso quando for o caso.
Avaliação do ciclo de vida em produtos plásticos
Como citado anteriormente, a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é uma técnica que visa quantificar os diversos impactos ambientais que ocorrem ao longo de todo o ciclo de vida de um produto.
“Em outras palavras, a ACV permite conhecer as trocas que ocorrem com o meio ambiente em cada etapa de um processo”, complementa Letícia Barrantes, analista da ACV Brasil.
Ao aplicar a ACV para produtos plásticos, temos a possibilidade de conhecer todos os efeitos deste material sobre o meio ambiente.
Para isso, a analista da ACV Brasil explica que há a adoção de um inventário do ciclo de vida que reúne todos os fluxos de material, energia e emissões existentes em cada uma das etapas do seu ciclo de vida, que englobam:
- Extração do petróleo;
- Destilação desta matéria-prima;
- Polimerização da resina;
- Acabamentos do produto final;
- Transporte do produto acabado até o revendedor;
- Transporte do revendedor até o consumidor final;
- Todos os fluxos envolvidos no fim de vida dos plásticos.
“Por fim, traduzimos todas as informações deste inventário em potencial de impactos ambientais”, complementa Letícia.
Com esta visão completa e quantificada do desempenho ambiental do produto plástico, a analista explica que é possível entender com profundidade onde se concentram os principais contribuintes para cada tipo de impacto e quais são as oportunidades de melhoria.
“Com isso, uma indústria de plástico pode definir suas estratégias empresariais com foco na sustentabilidade, e pautadas em uma metodologia robusta e mundialmente aceita com alto grau de confiança”, complementa.
Metodologia essencial para a aplicação de estratégias sustentáveis
Na busca por estratégias de sustentabilidade, a aplicação da ACV em produtos plásticos é, segundo Letícia Berrantes, de extrema importância.
“Essa metodologia olha para além dos portões da fábrica e contabiliza as cargas ambientais totais do produto, incluindo as cargas trazidas por toda cadeia de suprimentos e os efeitos da distribuição, uso e descarte do plástico”, explica.
Com isso, a técnica pode ser usada para a promoção de compras verdes, onde as áreas de sustentabilidade e suprimentos definem requisitos e indicadores de sustentabilidade a serem cumpridos pelos fornecedores.
Assim, com o apoio da ACV, a gestão de fornecedores passa a ser direcionada por meio de priorização de empresas que atendem aos requisitos importantes para o bom desempenho ambiental do ciclo de vida do plástico produzido, trazendo a sustentabilidade para a cadeia como um todo.
Outra importância crucial da aplicação da técnica ACV citada pela analista envolve o conhecimento profundo sobre o desempenho ambiental dos processos praticados em uma companhia.
“Quando conhecemos os vilões de cada produto para cada tipo de impacto ambiental, temos a possibilidade de priorizar ações que trarão melhorias significativas no design de produtos e ajustes de processos.”
Por ser normatizada pelas normas ISO 14.040 e ISO 14.044, a ACV é também relevante para as ações de benchmarking, comunicações e marketing ambiental, já que atribui elevada confiança acerca dos seus resultados.
Etapas do estudo do Ciclo de Vida de produtos plásticos
Para a realização de um estudo de ciclo de vida em plásticos, há algumas etapas que devem ser seguidas em sequência.
1. Objetivo e Escopo
Nessa etapa são definidas inicialmente as aplicações pretendidas com o estudo, as razões para a realização do estudo, o público-alvo e a intenção de se realizar análises comparativas ou não.
O escopo abrange a definição do produto estudado, as funções deste produto, a unidade funcional que quantifica a referência quantitativa a ser usada, a fronteira do sistema analisado, procedimentos de alocação, a metodologia e interpretação a serem usadas na avaliação, os requisitos dos dados e pressupostos, dentre outras informações relevantes para o projeto.
2. Análise de Inventário do Ciclo de Vida (ICV)
Este inventário abrange a coleta dos dados primários e secundários necessários para a realização do estudo, avalia coerências e realiza validações.
3. Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida (AICV)
Nessa etapa, Letícia Barrantes explica que há o uso de um método de avaliação que traduz o ICV em potenciais de impacto ambiental a partir de indicadores representativos de cada categoria de impacto.
“O método mais conhecido é o indicador da categoria de Mudanças Climáticas. Ele é medido em kg de dióxido de carbono equivalente”, salienta a analista.
Este indicador traduz todas as emissões de gases de efeito estufa gerados no processo em kg de CO2 equivalente.
Neste ponto, Letícia diz que é oportuno o uso de softwares específicos para compilar todos os dados e realizar todos os cálculos necessários para obtenção dos resultados. “Um software de grande relevância no mercado e que é utilizado nos estudos da ACV Brasil é o SimaPro, criado pela PRé Sustainability”, sugere.
4. Interpretação do ciclo
Nessa etapa são analisados os pontos críticos de cada impacto. “Nela, checamos coerências entre dados e resultados e ainda podemos fazer avaliações comparativas”, explica Letícia.
Por fim, a analista da ACV Brasil explica que a Análise do Ciclo de Vida é uma técnica iterativa.
“Devido à grande quantidade de dados e informações envolvidas no estudo, é frequente a necessidade de se retornar a uma etapa anterior para reajustar decisões, premissas e cálculos”, explica.
A especialista salienta que existem ainda as etapas de normalização, agrupamento e ponderação. “Essas são análises opcionais não exigidas pelas normas ISO devido à alta incerteza que ainda carregam”, finaliza.
Quer saber mais? Então confira este artigo e conheça iniciativas sustentáveis de 5 setores consumidores de plástico.