Ao longo dos anos, o consumo de produtos plásticos vem produzindo grande número de resíduos desse material, ainda não absorvidos pelas plantas de reciclagem.
Igualmente, é crescente a necessidade de produzir resinas que não dependem do petróleo e de outros recursos limitados.
Para minimizar este problema, o biopolímero vem sendo motivo de muitas pesquisas e investimentos.
A indústria do plástico começa a entender que essa é uma alternativa menos agressiva ao meio ambiente, sem perda de qualidade.
No entanto, a aplicação do biopolímero na indústria do plástico ainda tem desafios a serem melhor entendidos e solucionados, principalmente no âmbito do custo.
Para entender melhor sobre este contexto e as possibilidades de aplicação do bioplástico, a equipe Mundo do Plástico conversou com Martin Clemesha, Technical Advocacy Lead da Braskem e com especialidade no segmento.
O que é um biopolímero?
Antes de entender as possibilidades de uso de biopolímeros na indústria do plástico, precisamos entender o que são estes plásticos sustentáveis.
Todo biopolímero é um tipo de polímero produzido a partir de matérias-primas de fontes renováveis, que vão desde fontes agrícolas primárias, como a cana-de-açúcar e o milho, até resíduos como o bagaço da cana, o óleo de cozinha usado e até mesmo o sebo proveniente de frigoríficos.
Para Martin Clemesha, a motivação para o desenvolvimento dos biopolímeros é reduzir a pegada de carbono da cadeia dos plásticos.
Outro foco é a redução da dependência de matérias-primas não renováveis, como o petróleo e o gás.
“Na Braskem produzimos, desde o ano de 2010, em escala industrial e comercial, um polietileno renovável feito a partir do etanol da cana-de-açúcar. Este é o primeiro polietileno do mundo proveniente de fonte renovável”, destaca.
O desenvolvimento e a produção de eteno e resinas a partir de fontes biológicas é resultado do investimento contínuo da companhia em inovação e tecnologia disruptiva.
“Em 2023, nossa companhia ampliou a produção de biopolímeros em 30% com investimento de US$ 87 milhões. Nossa unidade industrial tinha capacidade produtiva anual de 200 mil toneladas e passou a ter, a partir de junho deste ano, capacidade de produção de 260 mil toneladas anuais”, complementa Clemesha.
Benefícios da adoção do bioplástico
Desde o seu desenvolvimento, o biopolímero vem apresentando muitos benefícios. O grande diferencial da resina renovável é a contribuição para a redução da emissão dos gases do efeito estufa na atmosfera.
“Esses são produtos que capturam gás carbônico durante o seu processo produtivo”, diz.
O diretor da Braskem ainda explica que o polietileno renovável captura até 3,09 toneladas de gás carbônico por cada tonelada produzida. A modo de comparação, na produção de EVA renovável a captura é de até 2,1 toneladas de CO2 por tonelada produzida.
Assim, a produção de plástico feito a partir do etanol da cana-de-açúcar traz ganhos significativos para a indústria e para seus clientes em questões relacionadas à sustentabilidade.
“Nossa companhia acredita que a neutralização de carbono é um dos caminhos mais viáveis para minimizar os impactos das mudanças climáticas e tem como meta alcançar a neutralidade até 2050”, afirma Clemesha.
Aplicações dos biopolímeros que estimulam sua adoção
Na indústria de plástico, as aplicações do biopolímero são bastante amplas.
Os biopolímeros recicláveis, por exemplo, podem substituir seus contratipos de origem fóssil sem prejudicar a cadeia de reciclagem, por possuir exatamente a mesma composição do plástico tradicional.
Clemesha destaca que nem todos os plásticos tradicionais possuem alternativas de fonte renovável, mas há alguns exemplos de maior destaque, caso do polietileno (PE), poli (acetato de vinila) e o poli (tereftalato de etileno) também conhecidos como EVA e PET, respectivamente.
As principais aplicações destes biopolímeros são nos segmentos de embalagens de alimentos (rígidos e flexíveis), sacolas, filmes para agricultura e produtos de consumo.
No caso da Braskem, o portfólio de resinas de origem renovável é utilizado em produtos de mais de 250 grandes marcas, como Allbirds, DUO UK, Grupo Boticário, Johnson&Johnson, Natura & Co, Nissin e Tetra Pak.
“Essas resinas ‘bio-based’ são utilizadas na fabricação de embalagens, bolsas, brinquedos, utilidades domésticas, cabos e fios industriais, filmes para embalagens flexíveis, garrafas de água reutilizáveis, entre muitos outros produtos”, salienta o especialista da companhia.
Alto custo ainda é desafio!
Para especialistas no segmento, o principal desafio para uma maior aplicação do biopolímero pela indústria é sem dúvida o seu custo.
Isso ocorre porque o processo de produção do plástico convencional derivado do petróleo passou por várias otimizações e ganhos de escala ao longo de décadas.
No entanto, os bioplásticos estão apenas “entrando na adolescência” em comparação ao maduro mercado de plásticos convencionais.
Clemesha acredita que essa lógica irá mudar com a crescente conscientização de empresas, legisladores e da sociedade em geral em relação à necessidade de se buscar alternativas que combatam as mudanças climáticas e nossa dependência de combustíveis fósseis.
Para o especialista da Braskem, uma forma de estimular a transição seria a criação de metas crescentes de conteúdo renovável para produtos plásticos, assim como ocorre com os combustíveis.
“Isso permitirá que a transição ocorra de forma gradual e sem sobrecarregar o custo de fabricação dos produtos finais”, opina.
A boa notícia é que o Brasil possui enorme potencial tanto em fontes primárias quanto secundárias para a produção de biopolímeros, que vai ter sua demanda crescente tanto no mercado externo como também em outras regiões do mundo.
Portanto, certamente o uso do biopolímero tende a crescer entre as indústrias ao longo do tempo, contribuindo com o desenvolvimento sustentável da indústria do plástico.
Aproveite para entender como as Startups impulsionam maior aplicação dos bioplásticos.