Os bioplásticos estão no topo de um debate sobre a sustentabilidade na indústria do plástico. Afinal, sua produção se dá a partir de fontes renováveis, não gera gases de efeito estufa e, quando biodegradáveis, se decompõem na natureza em um período muitíssimo menor.

Embora os estudos sobre estes polímeros venham sendo realizados há décadas, ainda há certa confusão sobre terminologias, aplicações e impactos ambientais. Para começar, a União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) faz distinção entre biopolímeros e bioplásticos. 

Segundo a entidade, biopolímeros são aqueles produzidos 100% a partir de fontes renováveis, enquanto bioplásticos são derivados parcial ou totalmente destas fontes. A IUPAC, inclusive, desencoraja o uso do termo bioplástico, sugerindo, em seu lugar, polímeros verdes ou biobaseados a fim de evitar a falsa percepção de que todo bioplástico é biodegradável. Com o passar do tempo, no entanto, ambos os termos acabaram sendo usados como sinônimos.

Classes e aplicações dos bioplásticos

De acordo com a origem e método de produção, os bioplásticos são diferenciados em três classes: 

A: Produzidos diretamente de biomassa, como amido, celulose, proteínas e aminoácidos, e utilizados principalmente na fabricação de embalagens flexíveis e na agricultura. São biodegradáveis.

B: Biossintetizados pelo uso de bactérias. Exemplos: polihidroxialcanoatos (PHAs) e ácido polilático (PLA), usados em embalagens flexíveis e/ou rígidas e em alguns bens de consumo. São biodegradáveis.

C: Preparados a partir de monômeros de origem biológica. Exemplos: o bio-polietileno (PE) e o tereftalato de bio-polietileno (PET) usados em embalagens flexíveis e/ou rígidas não são biodegradáveis; o tereftalato de adipato de polibutileno (PBAT) e o succinato de polibutileno (PBS) usados em embalagens flexíveis e/ou rígidas e na agricultura são biodegradáveis.

Como transformar

À medida que aumentam a conscientização e a demanda dos consumidores por embalagens sustentáveis, empresas vêm desenvolvendo opções de biopolímeros que podem ser utilizados pela indústria do plástico tradicional sem necessidade de adaptação do maquinário.

É o caso, por exemplo, da Biox001, biorresina formada por uma matriz biopolimérica desenvolvida pela startup de biotecnologia Biopolix. Esta matriz é extrudada na forma de grânulos em um processo livre de poluentes que economiza energia elétrica e não precisa de água. 

Segundo a CEO Luisa Vendruscolo, “para desenvolvermos a Biox001, antes estudamos os parâmetros operacionais e equipamentos utilizados pelos transformadores de plástico, isto é, a estrutura dos fabricantes de embalagens plásticas flexíveis, para que pudéssemos utilizar os mesmos equipamentos”.

Para ela, o maior impeditivo para uma maior utilização das biorresinas é que os transformadores, em sua grande maioria, têm falta de conhecimento sobre o desenvolvimento de novos materiais plásticos biodegradáveis que poderão substituir alguns plásticos convencionais.

Já o CEO da Earth Renewable Technologies (ERT), Kim Fabri, considera a escassez de matéria-prima um dos principais gargalos. “O bioplástico precisa ganhar escala de produção para se tornar cada vez mais competitivo em preço. O aumento dos investimentos em novas plantas dará às marcas ainda mais confiança na disponibilidade da cadeia em suprir matéria-prima para os grandes CPGs [indústrias de bens de consumo embalados] para que eles tenham segurança em fazer as mudanças necessárias.”

No ano passado, a ERT inaugurou uma planta em Curitiba para produzir compostos de PLA reforçado com microfibras com capacidade de 2 mil toneladas/ano. Agora, está trabalhando para assegurar uma produção de 3.500 toneladas/ano ainda em 2022 por meio do aumento de investimentos em linha de produção e contratos de fornecimento de matéria-prima.  

Reciclagem de bioplásticos

Por maiores que sejam os benefícios dos bioplásticos para o meio ambiente, é importante lembrar os outros pilares da sustentabilidade: o consumo consciente e a reciclagem. 

Neste último quesito, os bioplásticos ainda encontram um desafio a ser superado, pois na maioria dos casos eles não podem ser reciclados juntamente com o plástico tradicional.

Uma das soluções para resolver este problema é o NuPlastiQ, biopolímero, produzido com amido de milho, batata ou mandioca pela norte-americana BioLogiQ. Um blend de NuPlastiQ com o plástico tradicional não só pode ser utilizado nas linhas de produção dos transformadores sem qualquer adaptação, como também permite sua reciclagem com outros tipos de plástico.

Os testes de laboratório e de campo para comprovar esta vantagem foram realizados pela startup brasileira GreenPlat. Primeiro, os filmes produzidos com o blend passaram pelo processo de reciclagem de forma pura e os grãos foram usados na produção de novos filmes. Em seguida, voltaram para a reciclagem, agora misturados a sete tipos de plásticos comuns. 

“Os resultados foram bem claros em mostrar que em baixos percentuais – até 5% – ele passa sem nenhuma percepção do operador da reciclagem. Acima disso, começa a ser perceptível porque solta um pouco de fumaça na extrusora e exala um cheiro diferente. Mas não é nada que prejudique o processo, é só fazer alguns ajustes de regulagem de temperatura e você consegue produzir um grão de boa qualidade”, explica Raphael Guiguer, COO da GreenPlat.

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