Já fazem alguns anos que a sustentabilidade dita muitas das regras do ambiente industrial. A indústria do plástico, por exemplo, busca alternativas menos agressivas ao meio ambiente, tendo nos biopolímeros uma possibilidade bastante interessante.

Produzidos a partir de amido de vegetais, os biopolímeros estão revolucionando esse segmento industrial. Adotados em diversas aplicações, a produção destes plásticos sustentáveis resulta em menor impacto ambiental.

Para entender melhor sobre este plástico produzido com amido de vegetais, conversamos com Raphael Guiguer, COO da GreenPlat. Essa é uma cleantech que estuda a possibilidade de reciclagem de biopolímeros associados a plásticos tradicionais e vem obtendo resultados animadores.

Soluções inteligentes e sustentáveis em plástico: Necessidade atual!

O mundo está mais sustentável (e precisa disso!). Já temos décadas de estudos feitos por ecologistas que listam os inúmeros perigos que o plástico representa para o meio ambiente. 

Segundo Guiguer, o plástico, em si, não é exatamente o maior problema. “O plástico não é o maior problema, o real problema é a forma como lidamos com ele. Temos de pensar no consumo consciente.

O plástico tem características muito positivas em diversas aplicações e é reciclável na sua grande maioria de variações. Mesmo o plástico de origem fóssil, se descartado corretamente, pode ser reciclado e reinserido na cadeia inúmeras vezes. 

Porém, é preciso viabilizar a logística para coletar, triar e reciclar. E esse é o maior desafio da atualidade, especialmente em países continentais como o Brasil.

Mas, segundo explica Raphael Guiguer, utilizar apenas fontes renováveis também não resolve totalmente o problema. 

Inúmeras empresas e centros de produção e pesquisa continuam investigando soluções: alguns bioplásticos são recicláveis individualmente, mas quando há a mistura desse biopolímero com o polímero convencional na reciclagem, contamina a resultante e tem um impacto negativo na cadeia de reciclagem.

Essas foram as premissas que levaram a companhia norte-americana BioLogiQ a desenvolver o NuplastiQ. Este é um bioplástico produzido a partir de fontes renováveis plant based e que trabalha em conjunto com os polímeros tradicionais para não impactar negativamente a cadeia de reciclagem.

Solução: biopolímero + plástico tradicional que pode ser reciclado

Para atender as necessidades do cenário atual, era necessário desenvolver um bioplástico que, quando ligado ao plástico tradicional, ainda poderia ser reciclado sem qualquer comprometimento.

A partir daí, surgiu a ideia de fazer um blend entre o biopolímero e o plástico tradicional e que poderia aumentar as chances de reciclagem sem problemas. 

Assim, anos de pesquisa levaram ao composto chamado NuplastiQ, desenvolvido pela BioLogiQ, que funciona da seguinte forma: 50% de plástico tradicional e 50% de NuplastiQ (bioplástico), misturados no processo de injeção de polímeros convencionais.

A grande vantagem deste blend, segundo Raphael Guiguer, é não mudar a cadeia do plástico. “Este blend permite trabalhar com os sistemas legados que são de origem fóssil, mas diminui a pegada de carbono, tirando recursos de origem não renovável e colocando recursos de origem renovável.

Para testar este material no Brasil, Guiguer explica que a GreenPlat (em parceria com a BioLogiQ) realizou diversos estudos.

Realizamos diversos ensaios físico-químicos com o produto para entender suas propriedades e como elas se comparam ao polietileno comum. Buscamos entender inclusive como esse material se comportaria na cadeia de reciclagem após ‘estresse’ de diversas condições climáticas ou de utilização.

O principal propósito do estudo foi garantir aos fabricantes de produtos plásticos que materiais feitos com este bioplástico poderiam ser reciclados. “Essa era a principal preocupação tanto da BioLogiQ quanto da associação dos recicladores de plástico dos EUA”, complementa o COO da GreenPlat.

Vantagens do uso deste biopolímero

Com o uso deste biopolímero, a expectativa das empresas é conquistar alguns benefícios muito significativos. 

Inicialmente é possível aumentar o uso de matérias-primas renováveis, reduzindo automaticamente o consumo de fontes fósseis para produção de plásticos e as emissões de gases do efeito estufa. 

Além disso, por não impactar negativamente na cadeia de reciclagem, esse bioplástico pode ser reciclado em conjunto com os plásticos tradicionais usando sistemas legados de produção e reciclagem, com a mesma eficiência.

Outro benefício é que, mesmo se o resíduo plástico “escapar” para o meio ambiente, o fato de ele ser biodegradável acelera a degradação em ambiente natural.

Dentro dessa última vantagem, Guiguer cita uma pesquisa da USP (Universidade de São Paulo). “Conforme este estudo da USP, ao se degradar em ambiente marinho, este bioplástico não se transforma em microplástico, protegendo este ecossistema.

Por fim, estudos realizados no Brasil e na França mostram que este bioplástico diminui a pegada de carbono, além de não impactar negativamente na reciclagem e tem degradação mais rápida, quando comparado com outros plásticos.

É importante salientar que esse plástico já é utilizado comercialmente em alguns lugares. Nos EUA, Raphael Guiguer ressalta que ele já é utilizado nas embalagens para batata. “Por coincidência essa embalagem é feita com amido de batata”, complementa. 

Ou seja, a solução já opera em escala industrial, que ainda é pequena no mercado global, mas já é um produto de prateleira e uma solução inteligente para o uso do plástico com caraterísticas renováveis e sustentáveis.