“Todas as negociações e definições de COPs são executadas essencialmente pelo setor produtivo.”
A frase foi proferida pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, ao defender maior envolvimento e protagonismo do setor produtivo na agenda climática, durante o evento “Pré-COP30: O Papel do Setor Privado na Agenda de Clima”, em Brasília, dia 15 de outubro.
Como a indústria vai atuar na COP30?
Realizada neste ano no Brasil, em Belém/PA, entre os dias 10 e 21 de novembro, a COP30 é a 30ª edição da Conferência das Partes sobre Mudança do Clima da ONU.
Trata-se de um encontro global para debater ações contra as mudanças climáticas, do qual participaram delegações de mais de 190 países, especialistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil.
A CNI desenvolveu o documento “Visão da Indústria sobre a COP30”, no qual a elenca as propostas da indústria e que será levado à conferência mundial para contribuir com o debate.
Durante o Pré-COP30, do qual participaram também representantes da COP30 e o secretário-executivo do Ministério das Cidades, Hailton Madureira, foram levantados os chamados “10 Pontos Cruciais”:
- Cidades sustentáveis e resilientes
- Potencial brasileiro em biocombustíveis
- A COP30 não é um ponto de chegada, mas parte do caminho
- Habilidades e empregos verdes para uma transição justa
- Soluções baseadas na natureza como caminhos para a ação climática
- Inovação e financiamento para sistemas alimentares sustentáveis
- Caminhos de neutralidade climática sem perder competitividade
- Papel do Brasil no ambiente global
- Economia Circular: investimento de design criativo para facilitar uso e reaproveitamento
- Descarbonização da indústria energointensiva
Como a indústria colabora na redução das emissões de CO2?
Como citado pelo presidente da CNI, as ações propostas pela indústria como um todo se refletem no dia a dia das empresas.
Na avaliação de Márcio Grazino, diretor da Maximu’s Embalagens Especiais, empresa especializada em embalagens para proteção, acolchoamento e movimentação de produtos, a indústria tem papel direto na redução das emissões de CO2.
“Somos quem produz, quem inova e quem pode acelerar mudanças estruturais, especialmente quando falamos de processos mais eficientes, tecnologias limpas e desenvolvimento de produtos com menor impacto ambiental”, diz.
Desde 2022, a Maximu’s adotou uma política de reciclagem de plástico pós-industrial (PIR) com a instalação de uma extrusora com capacidade para reciclar 22 toneladas por mês das sobras do seu processo produtivo.
Assim, 100% das aparas são transformadas em resina de polietileno reciclado, que pode ser utilizada na produção de filmes de polietileno para plástico bolha e outros itens de proteção.
Segundo a empresa, foi investido mais de R$ 1 milhão, somando o valor da recicladora, adequações no maquinário e na estrutura para acomodá-la, e capacitação da equipe para operar os processos digitais que garantem rastreabilidade e eficiência.
Grazino lembra que, antes da reciclagem própria, as aparas plásticas eram vendidas como sucata. “Deixamos de vender esse material no mercado, o que depois nos custaria caro para comprá-lo novamente como matéria-prima reciclada. Agora, temos um maior controle de qualidade sobre o processo de reciclagem, reforçando o ciclo de sustentabilidade”.
Para se ter uma ideia do ganho de produtividade, o ciclo atual de reaproveitamento dos resíduos industriais leva, aproximadamente, 48 horas, enquanto no antigo processo terceirizado demorava 40 dias.
“Quando a empresa assume a responsabilidade de reaproveitar integralmente seus resíduos, fazer logística mais inteligente e adotar energia renovável, ela altera o destino do carbono no mundo real e não apenas no papel”, reforça o diretor. “Vemos a iniciativa privada como locomotiva e não como vagão das políticas climáticas. Quando a lei atrasa, a inovação precisa puxar o trem”.
Qual o impacto das ações locais de reciclagem?
A política de reciclagem de resíduos industriais da Maximu’s é um bom exemplo de como ações locais podem provocar impactos muito além de suas fronteiras.
Para Grazino, quando uma empresa de médio porte decide transformar 100% das suas sobras em matéria-prima circular, ela prova que é possível fazer diferente sem esperar uma resolução da ONU ou uma nova lei.
“Iniciativas assim são como pequenos pontos de luz criando constelações. A partir do momento em que boas práticas se espalham pela indústria, elas ditam um novo padrão para o setor. O impacto começa no bairro, inspira o país e pode alcançar o mundo. A mudança climática é global, mas a virada de chave é sempre local.”
De acordo com o diretor, o retorno do investimento feito até agora foi não só financeiro, mas, principalmente, em autonomia produtiva, redução de custos ambientais e fortalecimento da competitividade.
Atualmente, a empresa encontra-se em fase de planejamento estratégico e avaliação técnica para expandir suas ações sustentáveis.
As próximas etapas envolvem estudo para ampliação do uso de insumos sustentáveis, expansão de processos de circularidade e o projeto de instalação de painéis solares para geração de energia limpa.
Plástico é parte da solução ambiental
Grazino defende que a COP30 é uma excelente oportunidade para que o plástico deixe de ser visto como problema e passe a ser tratado como parte da solução.
Mesmo o Tratado Global dos Plásticos, que não chegou a um consenso na última reunião, realizada em agosto, em Genebra, é fundamental para trazer a poluição plástica para o centro das discussões internacionais, e esse eco deve ressoar na COP30.
A expectativa é que o debate avance para medidas práticas, metas de circularidade, estímulo a tecnologias de reaproveitamento e compromissos concretos com políticas de logística reversa.
“O que fazemos aqui na Maximu’s, em Ribeirão Pires (SP), é tentar dialogar diretamente com essa agenda. Acreditamos que a circularidade não é tendência, é questão de sobrevivência”, afirma Grazino.
Como superar os desafios da reciclagem?
Apesar dos avanços que a empresa vem conquistando com suas ações sustentáveis, Grazino vê que ainda existem desafios a serem superados, principalmente na reciclagem pós-consumo, para que o plástico deixe de ser tratado como o “vilão” do meio-ambiente.
Entre eles, a falta de incentivo à reciclagem, à logística reversa, à educação ambiental e à economia circular.
“O primeiro passo é entender que não existe solução isolada. Governos, empresas e sociedade precisam agir como um ecossistema”. Ele lista algumas sugestões para superar esses desafios:
- Políticas públicas que incentivem a reciclagem e combatam o descarte irregular;
- Investimentos em inovação e padronização de materiais recicláveis;
- Educação ambiental que forme novos hábitos desde a infância; e
- Logística reversa acessível e integrada à cadeia produtiva.
Grazino considera que a separação dos resíduos, como o plástico, ainda acontece de forma insuficiente e, principalmente, inadequada, o que contamina o material e o torna impróprio para o processo de reciclagem.
“Durável, reciclável e presente em mais de 95% da matriz industrial, o plástico é um material altamente apto para a implementação da economia circular”, reafirma.
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