A indústria brasileira é um dos setores que mais contribuem para a economia circular e vem adotando práticas de melhor aproveitamento dos recursos naturais.

É o que comprova a mais recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Centro de Pesquisa em Economia Circular da Universidade de São Paulo (USP), que ouviu 253 indústrias de transformação e construção entre 17 de maio e 30 de julho de 2024.

O levantamento revelou que 85% das indústrias no Brasil desenvolvem pelo menos uma prática de economia circular – ou seja, adotam algum sistema em que o modo de produção é redesenhado para permitir um fluxo circular dos recursos, minimizar os resíduos e contribuir para o desenvolvimento sustentável.

Evolução da circularidade

A nova edição da pesquisa, apresentada pela primeira vez no dia 15 de outubro no Rio de Janeiro, em evento com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), mostra uma evolução em relação à realizada em 2019, quando o índice de empresas que adotavam alguma prática de economia circular foi de 76,4%.

Segundo Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da CNI, a pesquisa deste ano abordou com mais detalhes as ações de economia circular empregadas pelas empresas, entre as que adicionam, retêm e recuperam valor.

Os resultados mostram que a economia circular tem se estabelecido como uma das principais estratégias empresariais para enfrentar os desafios ambientais contemporâneos.

“Ao revisar e aperfeiçoar a forma como extraímos, transformamos, usamos e descartamos recursos naturais e produtos, as empresas podem se tornar mais eficientes, competitivas e sustentáveis”, reforça. “Assim, beneficiam-se das novas tendências de produção e consumo, como o compartilhamento e a oferta de produtos como serviço, entre outras possibilidades”.

Práticas comuns

Muniz explica que o levantamento aponta ações nas três categorias, e indica quais as práticas mais comuns em cada uma delas:

Recuperação

  • 53% das empresas reutilizam materiais na produção;
  • 30,8% garantem ou realizam a reciclagem do produto; e
  • 26,4% realizam logística reversa dos produtos.

Retenção

  • 39,5% ofertam manutenção ou reparo dos produtos durante seu uso;
  • 18,5% ofertam soluções de compartilhamento do produto durante seu uso; e
  • 12,2% ofertam produto como serviço.

Adição

  • 41,5% desenvolvem produtos para sua recuperação;
  • 39,5% desenvolvem produtos para aumento de sua durabilidade; e
  • 24,1% praticam a simbiose industrial.

Motivadores da circularidade

Neste cenário, a busca por uma maior sustentabilidade nas empresas e na sociedade tem se mostrado o maior motivador da transição para uma economia circular.

Além disso, os riscos relacionados à escassez ou à disponibilidade limitada de substâncias e materiais conduzem as empresas a ampliar seu leque de modelos de negócio e oferta de bens e serviços.

“Hoje, temos clareza de que o modo como extraímos, beneficiamos, usamos e descartamos aquilo que retiramos da natureza tem potencial de produzir significativos impactos ambientais, sociais e econômicos, e o grande objetivo da economia circular é melhorar essa dinâmica, com benefícios para as empresas, o ambiente e a sociedade”, diz Muniz.

Ele acrescenta que essas práticas contribuem para uma transição para a economia de baixo carbono – menos emissão de gases de efeito estufa, menor extração de novos recursos e melhor uso de energia.

De fato, a pesquisa CNI/USP apontou que 68% dos empresários afirmam que as práticas circulares contribuem para a redução de gases de efeito estufa e para o combate às mudanças climáticas.

As empresas reduzem a pegada de carbono da atividade industrial e evitam agravar outras questões, como a redução da vida útil dos aterros, por exemplo. Também contribuem para uma gestão mais eficiente dos recursos e a valorização dos produtos desde a criação até o fim do ciclo de vida”, completa.

Transição de linear para circular

Mas como se dá a transição das indústrias para uma economia circular? Segundo o diretor de Relações Institucionais da CNI, esse é um processo contínuo e, ao mesmo tempo, muito particular de cada organização.

Isso porque existem diferentes níveis de circularidade e de adoção das ações de economia circular pelas empresas em seus processos, produtos e serviços, e, em cada caso, as estratégias se comportam de forma distinta, com resultados comparáveis apenas consigo mesmas ao longo do tempo.

“Na maioria dos casos, o principal obstáculo é vencer as resistências e transformar os sistemas atuais de produção e consumo, atualmente com foco linear, para uma nova realidade, mais circular”, orienta.

A pesquisa demonstrou que 50% das empresas entrevistadas consideram a falta do conhecimento sobre o assunto e/ou sua relevância para a indústria como o principal desafio, enquanto 40% apontam a escassez de recursos financeiros para implementar as mudanças necessárias.

“Independentemente das ações a serem realizadas por cada empresa, devemos promover mudanças sistêmicas em alguns aspectos-chave, como na infraestrutura, educação, legislação e outros, para que atuem não como obstáculos, mas como formas de apoio nesta transição.”

Apoio

Muniz cita alguns tipos de organização de, além adotar práticas de economia circular em suas próprias gestões, podem contribuir de forma direta para disseminar essa transição.

É o caso, por exemplo, de instituições financeiras, que poderiam financiar iniciativas de transição, ou das universidades, ao incluir a economia circular na grade de formação básica de seus cursos.

Para apoiar a transição para a economia circular, o diretor acrescenta outras ações importantes:

  • Qualificação profissional para reparo de equipamentos e campanhas de engajamento de clientes nos modelos de geração de valor;
  • Desenvolvimento de materiais compostáveis para embalagens e plataformas de compartilhamento de produtos;
  • Ações na área de legislação e políticas públicas; e
  • Compensação tributária para criação de infraestrutura na economia circular.

A CNI tem dado uma contribuição importante para apoiar a transição das empresas. É o caso da Rota de Maturidade, uma ferramenta gratuita que permite que as empresas façam uma autoavaliação e recebam um diagnóstico sobre o grau de adoção de práticas de economia circular.

A partir desse relatório, a ferramenta apresenta recomendações, com sugestões de práticas que podem ser implementadas para alavancar a sustentabilidade da organização.

Em outra frente, CNI e FIESP realizaram chamada pública (já encerrada) para selecionar boas práticas da indústria (no âmbito da América Latina e Caribe) em economia circular.

As escolhidas serão divulgadas no Fórum Mundial de Economia Circular (WCEF2025), maior evento anual sobre o tema que ocorrerá pela primeira vez na América Latina, nos dias 13 e 14 de maio de 2025, em São Paulo.

Confira os principais insights da pesquisa.