Leveza, durabilidade, resistência, versatilidade e comprometimento com a sustentabilidade são alguns dos atributos que vêm levando a indústria automotiva a intensificar a utilização de plásticos em seus processos produtivos.
Segundo o mais recente estudo A Indústria de Transformação e Reciclagem de Plástico no Brasil, elaborado pela Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST), o setor é o quarto maior consumidor de transformados plásticos do país, respondendo por 7,25% do total.
Plástico pós-consumo
A boa notícia é que esta indústria vem intensificando o uso de plástico reciclado pós-consumo (PCR) na fabricação de veículos e autopeças, principalmente em componentes internos, acabamentos e suportes, e até para manutenção da qualidade e desempenho das resinas tradicionais, visando à durabilidade e a segurança dos veículos.
Outro estudo recente, o Monitoramento dos Índices de Reciclagem Mecânica de Plásticos Pós-consumo no Brasil, solicitado pelo Movimento Plástico Transforma, iniciativa do PICPlast, e desenvolvido pela MaxiQuim, a indústria automotiva consumiu, em 2023, 71 mil toneladas de resinas recicladas pós-consumo (PCR).
De acordo com Maurício Jaroski, diretor de Química Sustentável e Reciclagem da MaxiQuim, os dados do acompanhamento anual feito pela empresa mostram que o consumo de PCR pela indústria automotiva vem crescendo de forma consistente ao longo dos anos, em um ritmo mais acelerado que o crescimento do uso de plásticos em geral no setor.
“Acreditamos que, com a expansão da frota de veículos elétricos, que têm exigido ainda mais foco em sustentabilidade e veículos ainda mais leves, essa demanda por PCR deve acelerar ainda mais nos próximos anos”, diz.
Tipos e aplicações
Veja os principais plásticos reciclados pós-consumo e suas aplicações na indústria automotiva:
- Polipropileno (PP): peças automotivas de segunda linha e compostos. Corresponde a 54% do consumo total;
- Polietileno Tereftalato (PET): tapetes, revestimentos internos, forros e cintos de segurança (28%);
- Poliestireno (PS): peças de segunda linha e reposição (4%);
- ABS (Acrilonitrila Butadieno Estireno) e PA (poliamida): peças de reposição, incluindo itens cromados como grades frontais, maçanetas, componentes internos e acabamentos (14%).
Jaroski destaca que, além do PCR, a indústria automotiva utiliza também plásticos reciclados pós-industriais (PIR), muitas vezes, inclusive, em blendas com PCR para garantir o equilíbrio entre propriedades técnicas e requisitos de desempenho.
“O uso de PIR é particularmente estratégico em aplicações que exigem alta performance ou maior controle de qualidade, aproveitando materiais oriundos de processos industriais com menor grau de contaminação”, explica.
Benefícios e desafios dos plásticos reciclados
No e-book Plásticos em movimento, o Movimento Plástico Transforma aponta que a integração de plásticos reciclados ao processo de fabricação de veículos, juntamente com a desmontagem e reciclagem de autopeças, são passos cruciais para a Economia Circular.
Entre os benefícios desta prática estão:
Redução de resíduos: a reintegração de resíduos plásticos ao ciclo de produção diminui a necessidade de novos plásticos e a quantidade de resíduos descartados de maneira incorreta.
Conservação de recursos naturais: A diminuição da demanda por matérias-primas virgens conserva recursos naturais e reduz o impacto ambiental associado à extração e processamento de novas matérias-primas.
Eficiência energética: a produção de plásticos reciclados geralmente consome menos energia do que a produção de plásticos a partir de matérias-primas virgens. Isso resulta em menor emissão de gases de efeito estufa e contribui para a mitigação das mudanças climáticas.
Inovação e competitividade: adotar práticas de economia circular estimula a inovação, o que garante vantagem competitiva no mercado e atende à crescente demanda por produtos mais sustentáveis.
O e-book elenca também uma série de desafios para a integração de plásticos reciclados à produção de veículos, tais como:
- Garantir a mesma qualidade e desempenho dos plásticos novos;
- Necessidade de cooperação entre fabricantes, recicladores e agentes públicos;
- Regulamentações favoráveis para impulsionar a mudança; e
- Melhoria da infraestrutura de reciclagem a partir de investimentos em instalações, logística de coleta e processamento de resíduos.
Estímulo à reciclagem
Em relação a este último desafio, a infraestrutura de reciclagem, Jaroski não acredita que haja risco de faltar matéria-prima para uso em larga escala pela indústria automotiva.
Ao contrário: na sua avaliação, o uso crescente pode até estimular a melhor estruturação dessa cadeia.
“O Brasil possui um enorme potencial de resíduos plásticos que ainda não são aproveitados pelos sistemas de coleta e reciclagem. Com o desenvolvimento do mercado, é esperado que a estrutura de coleta, seja por meio da coleta seletiva, pontos de entrega voluntária (PEVs) ou iniciativas privadas, se expanda, aumentando a disponibilidade de material reciclável.”
Para ele, o verdadeiro desafio não é a escassez de resíduos, mas sim garantir que a cadeia de reciclagem se desenvolva de maneira organizada, eficiente e economicamente viável.
“Para isso, é fundamental valorizar o resíduo reciclável, criar incentivos para sua coleta e transformação e promover políticas públicas que estimulem a reciclagem em todas as suas etapas”, conclui.
Sobre o uso dos plásticos reciclados, entenda as diferenças entre PIR e PCR.