Embora não seja uma novidade, a neoindustrialização ganhou destaque no atual governo e se converteu em uma das suas principais bandeiras econômicas.
O termo refere-se ao processo de modernização da indústria, com ênfase em aspectos como inovação, produtividade, competitividade, compromisso ambiental e integração com o mercado internacional.
Na prática, a neoindustrialização busca reverter economias que sofreram desindustrialização nas últimas décadas, como é o caso do Brasil.
“O parque industrial brasileiro está envelhecido. Se não melhorarmos a eficiência, como você vai competir?”, comentou Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do MDIC no final de 2023.
Segundo a ABIMAQ, as máquinas e equipamentos do parque industrial brasileiro têm, em média, 14 anos.
Estágio avançado na neoindustrialização
Enquanto alguns segmentos industriais ainda estão longe da excelência no que diz respeito à neoindustrialização, outros encontram-se em estágio bastante avançado.
É o caso da indústria química em geral, e da de cloro e derivados em particular.
Para Milton Rego, presidente-executivo da Abiclor (Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados) e da Clorosur (Asociación Latinoamericana de la Industria del Cloro, Álcalis y Derivados), parte deste desenvolvimento tem origem na concorrência internacional.
A indústria de cloro e derivados é uma parte da indústria química responsável pelas matérias-primas para uma enorme gama de processos, desde a própria indústria química até outras, como medicamentos e saúde, celulose, petroquímica e defensivos.
“Cada uma dessas utilizações exige características específicas, mas existe um ponto comum: todas elas estão sendo desafiadas pela competição de produtos importados. Nesse caso, exigem-se matérias-primas que sejam competitivas tanto em preço como qualidade e, agora, um novo aspecto: a baixa pegada de carbono”, analisa Rego.
Em razão disso, os investimentos do setor em pesquisa e desenvolvimento voltam-se para obtenção de produtos mais econômicos, com baixa pegada de carbono – o que inclui eficiência de processo e, especialmente, eficiência energética – e maior qualidade.
“É uma questão de sobrevivência”, reforça. “Nossa indústria é estratégica nas grandes economias, pela sua interconexão com todos os ramos industriais. Isso significa estar sempre desenvolvendo novos produtos e processos”.
Ao mesmo tempo os compromissos ambientais da indústria em geral e a necessidade de os clientes finais ofertarem produtos com baixa pegada de carbono acabam impactando toda a cadeia produtiva, alcançando os fornecedores de matérias-primas, como é o caso da indústria de cloro e derivados.
A situação industrial brasileira
Na avaliação de Milton Rego, com exceção de algumas ilhas de excelência, a indústria brasileira não está nada bem.
“Ficamos sem crescer a nossa produtividade por décadas. A indústria diminuiu sua participação no PIB e nas exportações, perdeu complexidade e sofisticação e investe pouco em termos de PD&I”, afirma.
Neste contexto, a neoindustrialização preconizada pelo atual governo nada mais é que retomar os esforços de reindustrialização do país, agora amparada por novos parâmetros, principalmente a economia verde.
A questão não é simples e o Brasil tem muitos desafios. A CNI elenca alguns caminhos para superá-los: políticas industriais bem planejadas, mecanismos de facilitação do comércio exterior, investimentos em infraestrutura, educação e P&D, e reformas regulatórias que visam a reduzir o Custo Brasil.
“Acho fundamental ter uma política industrial ativa – o que significa um direcionamento do governo em termos de incentivos para objetivos abrangentes, que estão sendo chamados de ‘missões’. As principais economias do mundo – e nossos principais competidores – estão fazendo isso: Estados Unidos, Europa, Índia e, é claro, China”, acrescenta Rego.
Ele alerta, no entanto, que para uma política industrial funcionar o ambiente macroeconômico também tem de ser competitivo em termos de expectativas, inflação, juros, taxa cambial, acesso a crédito, saneamento e outros.
Políticas públicas
O governo vem implementando algumas ações, como, por exemplo, priorizar a neoindustrialização no Plano Plurianual 2024-2027, que prevê R$ 900 bilhões de investimentos para esta finalidade, e a nova etapa do programa Brasil Mais Produtivo, que destinará R$ 2 bilhões para o engajamento digital de 200 mil indústrias, principalmente de micro, pequeno e médio porte.
Para Milton Rego, a maneira como o governo está lidando com a questão faz sentido, considerando que o país precisa ser competitivo para que sua indústria, inclusive a química, também seja.
“Uma coisa podemos dizer: o entendimento de que a política econômica precisa ser feita visando à competitividade industrial no plano internacional é fundamental. Competitividade na indústria significa ter todo um ambiente industrial competitivo, desde matérias-primas, passando por energia, custo do capital, taxa de câmbio, capital humano e isonomia com as condições dos importados”, conclui.
Você está preparado para a neoindustrialização? Quais você considera os principais desafios para sua indústria avançar neste tema?
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