A reciclagem é uma etapa fundamental para a economia circular. No Brasil, a indústria do plástico é uma das que mais vêm registrando avanços nesta questão.

De acordo com o Perfil 2022 elaborado pela Abiplast, no ano passado foram produzidas 1 milhão de toneladas de plástico pós-consumo reciclado (PCR).

O índice de reciclagem mecânica do plástico é de 23,4%; em alguns polímeros, como o PET, chega a 54,4%.

Especialista do Movimento Circular em reciclagem de plástico e gerente de sustentabilidade para Embalagens e Especialidades Plásticas da Dow no Brasil, Giancarlo Montagnani afirma que a reciclagem do plástico começa no descarte correto, e o consumidor desempenha um papel crucial nessa cadeia.

“O processo de reciclagem do plástico depende da coleta adequada dos resíduos plásticos para que possam ser encaminhados aos centros de reciclagem.”

Passo a passo da reciclagem

Mas você sabe o que acontece depois que os resíduos descartados pelos consumidores são coletados?

A pedido do Mundo do Plástico, Montagnani descreveu as etapas do processo de reciclagem mecânica do plástico:

 

Separação

Os plásticos são separados de outros materiais, como papel, vidro e metais, por meio de processos como triagem manual, separação magnética, flotação, dentre outros.

Moagem

Os plásticos são triturados em pedaços menores para facilitar o processamento subsequente, usando-se máquinas de trituração ou moinhos, que podem variar de acordo com o tipo de plástico e o volume de material a ser processado. Os mais comuns são moinhos de facas, de martelo e de rolos.

Lavagem

Os pedaços moídos passam por este processo para remover sujeira, resíduos de alimentos, tinta e outras impurezas. Para isso, são utilizadas lavadoras industriais, que empregam água e detergentes, bem como peneiras para separar impurezas maiores.

“Esse é um processo crucial para garantir a qualidade do plástico reciclado.”

Secagem

A remoção do excesso de umidade é essencial para evitar problemas durante o processamento subsequente. No Brasil, são utilizados secadores industriais que empregam ar quente ou outros métodos de secagem.

Extrusão

É a etapa final. O plástico limpo e seco é derretido e forçado através de um molde para formar um novo produto ou ser transformado em grânulos (resina PCR) para posterior uso na fabricação de novos produtos.

Esse processo é realizado com o uso de extrusoras, que aquecem o plástico a altas temperaturas e o forçam através de uma matriz para moldagem.

Moldes ou cabeças de extrusão específicas para o formato desejado do produto final também são empregados nesse processo.

Ainda segundo o estudo anual da Abiplast, as mais de 1.300 empresas do setor de reciclagem de material plástico geram quase 15 mil empregos no país.

Novidades da reciclagem mecânica

À medida que o tema da reciclagem ganha força na sociedade, métodos mais modernos vão surgindo para aumentar sua eficiência.

É o caso, por exemplo, da tecnologia de separação por infravermelho próximo (NIR – Near Infrared), método que utiliza a luz infravermelha para identificar e separar diferentes tipos de plásticos com base em suas propriedades espectrais únicas.

Os resíduos plásticos são expostos a uma fonte de luz infravermelha e cada tipo de plástico reflete essa luz de maneira diferente devido às suas propriedades moleculares únicas.

Um sensor detecta essas diferenças espectrais e classifica automaticamente os plásticos em diferentes categorias.

“Isso permite uma separação mais precisa e eficiente dos materiais, reduzindo a necessidade de triagem manual e melhorando a pureza dos materiais reciclados” explica Montagnani.

Segundo ele, a tecnologia de separação por NIR vem sendo gradualmente adotada em centros de reciclagem mais avançados, especialmente em instalações de maior escala que processam grandes volumes de resíduos plásticos.

Desafios e soluções

Essa e outras tecnologias vêm ao encontro da busca por soluções para uma das etapas mais críticas do processo de reciclagem do plástico, a separação.

Na avaliação do especialista do Movimento Circular, isso se dá pela variedade de materiais coletados e complexidade de distinguir os plásticos dos demais, como papel, vidro e resíduos orgânicos.

“Isso, por si só, já é um desafio considerável. Soma-se ainda o fato de que cada tipo de plástico, na reciclagem mecânica, é separado de forma individual e, portanto, também precisa ser separado”, comenta.

A contaminação dos plásticos por sujeira e outros resíduos também é um agravante desta etapa, pois, se for significativa, torna a separação ainda mais complexa.

Montagnani defende que uma estratégia-chave para superar esse desafio é a adoção do conceito de design para circularidade desde a concepção dos produtos.

Ou seja, as indústrias devem projetar embalagens e produtos plásticos que promovam o reuso ou formas para facilitar a separação e reciclagem no final de sua vida útil.

“Utilizar materiais facilmente identificáveis, pensar em estruturas que sejam monomateriais ou que possuem compatibilidade no processo de reciclagem são algumas práticas que podem ser incorporadas ao design dos produtos”, reforça.

“Por isso, iniciativas como o Movimento Circular têm papel fundamental em promover a economia circular dos materiais, apoiando projetos de educação para um consumo consciente e que vise à correta disponibilização do material para a coleta seletiva e subsequente separação.”

O Movimento Circular contabiliza, hoje, 2 milhões de pessoas impactadas por suas ativações e conteúdo.

A reciclagem é um dos elos da economia circular. Conheça quem são e o que fazem todos os agentes desta cadeia.