Você já ouviu falar em reciclagem energética? Este é um processo que usa tecnologias específicas para transformação de resíduos sólidos em energia térmica e/ou elétrica, objetivando recuperar parte da energia contida nestes resíduos.
Para a reciclagem energética, há uma série de resíduos que podem ser utilizados, tais como restos de alimentos, materiais higiênicos descartáveis, entre outros.
Entretanto, o material descartado mais viável é o plástico, que possui alto poder calorífico, viabilizando sua utilização na produção energética.
Para entender mais sobre a importância e as vantagens deste processo para a sociedade e o meio ambiente, conversamos com Yuri Schmitke, presidente da ABREN (Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos).
Reciclagem energética: entenda o processo
Também conhecida como recuperação energética de resíduos, a reciclagem energética é um termo utilizado para designar aqueles métodos e processos que possibilitam recuperar parte da energia contida nos resíduos sólidos, transformando-o em energia térmica e/ou elétrica.
Segundo Yuri Schmitke essa é a forma ambientalmente mais adequada para a disposição final dos resíduos sólidos urbanos (RSU) que não podem ser reciclados. “A reciclagem energética é uma excelente alternativa aos lixões e aterros sanitários”, diz.
A recuperação e o aproveitamento energético acontecem na forma de calor, eletricidade ou combustíveis alternativos, como:
- Coprocessamento de combustível derivado de resíduos (CDR) em usinas de cimento;
- Produção de biogás a partir de resíduos orgânicos em biodigestores;
- Captação de gás metano de aterros sanitários; além do
- Tratamento térmico por meio de usinas de recuperação energética (UREs).
Segundo o presidente da ABREN, a metodologia de recuperação por meio do tratamento térmico, por exemplo, é uma tendência mundial, bastante utilizada em diversos países, mas ainda dá os primeiros passos no Brasil.
“Enquanto há mais de 2,5 mil UREs em todo o mundo, o país constrói sua primeira URE, localizada em Barueri (SP), que terá 20 MW de potência instalada e deve entrar em operação a partir de 2025”, salienta.
Por outro lado, 29% de todo o combustível utilizado para fabricar cimento é composto por CDR (Combustível Derivado de Resíduo), o que reduz sensivelmente as emissões de gases de efeito estufa.
Principais objetivos da reciclagem energética
Com o crescimento desordenado das cidades, a destinação do lixo urbano representa um dos mais graves problemas socioambientais da sociedade. As prefeituras enfrentam falta de espaço para aterros, além de altos encargos às administrações municipais.
Para termos uma ideia, o Brasil produz anualmente mais de 78 milhões de toneladas de resíduo urbano, segundo cálculos da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
O maior problema é que 41% do volume do lixo coletado no país é descartado em local inadequado, gerando uma série de problemas ambientais.
Diante deste desafio, a Reciclagem Energética funciona como uma solução com menor ônus para os cofres públicos, além de reduzir significativamente o impacto ambiental, principalmente por dar um melhor destino ao lixo sólido.
Para Schmitke, o grande objetivo da reciclagem energética é dar uma destinação ambientalmente mais correta para os resíduos sólidos não recicláveis, por meio da recuperação de materiais.
“A recuperação energética é uma solução de saneamento básico que, ao mesmo tempo, resolve dois grandes desafios brasileiros: a destinação dos resíduos sólidos e a geração de energia limpa”, salienta.
No país, a importância da reciclagem energética é crescente, tanto que na Política Nacional de Resíduos Sólidos, este processo está previsto como uma das destinações possíveis aos resíduos.
Vantagens da aplicação da reciclagem energética no Brasil
Devido aos benefícios econômicos limitados de muitas das técnicas de reciclagem, a utilização de diversos resíduos, caso dos resíduos plásticos, para a produção de energia ganhou destaque nos últimos anos.
Para Yuri Schmitke, todo esse destaque se confirma pela série de benefícios que a reciclagem energética proporciona, dentre os quais o presidente da ABREN cita:
- Destinação ambientalmente mais correta do lixo não reciclável, minimizando os impactos sobre aterros e lixões;
- Geração de energia em alta quantidade. “Temos potencial de gerar energia suficiente para mais de 100 milhões de pessoas no Brasil, considerando-se as 28 regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes”, cita Schmitke;
- Diminuição de gastos em saúde pública, com uma economia equivalente a cerca de 150 R$/MWh. Segundo estudos da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), o custo do atendimento médico à população afetada pela má gestão dos RSU é calculado entre 10 e 20 $/T de RSU, correspondendo a uma média de 75 R$/t (para uma taxa de câmbio de 5 R$/US$);
- Diminuição de gastos com transporte dos resíduos sólidos urbanos. “Ao adotar a reciclagem energética teremos uma economia equivalente a cerca de 300 R$/MWh, evitando-se o transporte para locais mais distantes dos pontos de coleta”, salienta o presidente da ABREN;
- Diminuição de gastos com a transmissão de energia, com uma economia equivalente a cerca de 37 R$/MWh. “As usinas de recuperação energética estão localizadas próximas às cargas, não utilizando a rede de transmissão comum”, complementa.
Além destes benefícios econômicos, vale destacar também os benefícios ambientais e sociais, tais como:
- É a alternativa recomendada pela ONU (IPCC 2007) para a destinação do lixo urbano;
- Possibilita a recuperação energética dos materiais plásticos;
- Pode ser aplicada perto de centros urbanos, reduzindo o custo do transporte do lixo para aterros distantes;
- A área exigida para a implantação de uma usina de reciclagem é inferior à de um aterro.
Apesar de todas essas vantagens e benefícios, Yuri Schmitke cita o alto custo como um desafio, sendo o processo de reciclagem mais custoso de todos. “Pode-se dizer que o custo de construção e operação de uma URE é 50% maior que um aterro sanitário”, cita.
No entanto, o presidente da ABREN salienta que, se calculado o custo evitado no meio ambiente e na saúde pública, uma URE tende a ser mais barata.
“Se bem mensurados o custo e o benefício da reciclagem energética, essa é a melhor solução que pode ser adotada para as regiões metropolitanas, havendo ainda grandes possibilidades para as regiões próximas às usinas de cimento que podem receber o CDR como combustível sustentável”, finaliza.
Quer saber mais? Então entenda porque as cooperativas de reciclagem são um dos pilares da sustentabilidade.