A pressão por metas de ESG e a busca por competitividade colocaram as resinas plásticas recicladas no centro da estratégia industrial. O mercado reflete essa demanda, e é preciso evitar ao máximo os erros ao escolher resinas recicladas.

Dados do setor de reciclagem, compilados pelo PICPlast (ABIPLAST/Braskem), mostram que a produção de resina plástica reciclada pós-consumo (PCR) atingiu 1,012 milhão de toneladas em 2024, um crescimento de 7,8% sobre o ano anterior.

Contudo, essa transição não é uma simples substituição de material. Adotar um reciclado sem o devido critério técnico é um risco que pode levar a paradas de máquina, aumento de refugo e perda de qualidade no produto final. Os erros ao escolher resinas recicladas custam caro. Este artigo é um guia técnico para detalhar as falhas mais críticas nesse processo e como um processo de seleção correto garante o sucesso da sua aplicação.

Entendendo a resina reciclada na indústria do plástico

Para evitar falhas, o primeiro passo é entender o material. O que é resina reciclada? Diferente da virgem, a resina reciclada é um polímero que já possui um histórico térmico e mecânico. Ela passou por pelo menos um ciclo de processamento (injeção, sopro, extrusão) e foi coletada, triada e reprocessada.

Existem dois tipos principais:

  • PIR (Pós-Industrial): Originada de aparas e refugos do próprio processo industrial. Geralmente é mais limpa, controlada e tem propriedades mais próximas da resina virgem.
  • PCR (Pós-Consumo): Vinda de produtos descartados pelo consumidor (ex: embalagens, garrafas PET). Seu desafio é a maior variabilidade, mas seu valor para a economia circular e metas de sustentabilidade é imenso.

Compreender as diferenças entre resina virgem e reciclada é fundamental, pois suas propriedades reológicas, mecânicas e estéticas nunca serão idênticas.

Os 5 maiores erros ao escolher resinas recicladas

Analisar um material reciclado exige um olhar técnico que vai além da simples comparação de custos. Vemos muitas indústrias cometerem as mesmas falhas. Detalhamos as 5 principais abaixo.

1. Não avaliar as propriedades mecânicas (e reológicas) necessárias

Este é um dos erros mais críticos. O subtópico não avaliar as propriedades mecânicas necessárias resume a falha: tratar todo material reciclado da mesma família (ex: “PEAD reciclado”) como se fosse igual.

  • Problema: achar que um polietileno reciclado terá o mesmo Índice de Fluidez (MFI) ou resistência ao impacto (IZOD) que um grau virgem específico.
  • Consequência: problemas graves de processamento, como falhas no preenchimento do molde (MFI muito baixo) ou rebarbas (MFI muito alto). No produto final, isso resulta em quebras, trincas ou falha em testes de queda, comprometendo a aplicação.
  • Solução: exija a ficha técnica (data sheet) completa do fornecedor. Compare as propriedades críticas – MFI, IZOD, resistência à tração e densidade – com os requisitos mínimos do seu produto. Não aceite um material sem dados técnicos.

2. Não escolher um fornecedor confiável e homologado

O segundo grande erro é não escolher um fornecedor confiável. No mercado de reciclados, a consistência é o maior desafio e o maior diferencial.

  • Problema: comprar de fornecedores sem rastreabilidade, certificação ou um processo industrial robusto, muitas vezes baseando-se apenas no preço.
  • Consequência: inconsistência entre lotes. Um lote pode funcionar perfeitamente, enquanto o seguinte (com a mesma especificação) apresenta variação de cor, odor ou contaminação, forçando paradas constantes para ajuste de parâmetros.
  • Solução: implemente um processo de homologação de fornecedores. Questione sobre o processo de triagem, lavagem, extrusão (com ou sem desgaseificação) e aditivação. Peça certificados, como ISO 9001, e visite a planta do fornecedor, se possível.

3. Ignorar a origem e a contaminação do material

De onde veio o plástico? Um PCR de bombonas industriais é muito diferente de um PCR de embalagens de produtos de limpeza ou de um PIR de aparas de filme.

  • Problema: não saber a fonte do material. Isso impacta diretamente o nível e o tipo de contaminação.
  • Consequência: contaminação por outros polímeros (ex: PP no meio do PEAD, o que causa delaminação) ou por resíduos químicos e orgânicos. Isso pode gerar odor no produto final ou inviabilizar aplicações que exigem maior pureza (ex: brinquedos).
  • Solução: priorize fornecedores que garantam a origem do material. Pergunte se o material é PCR ou PIR. Valide a compatibilidade química e a conformidade com normas (ex: ANVISA para contato com alimentos, embora restrito para PCR, ou normas para brinquedos).

O que impede a reciclagem de um material?

Frequentemente, o que impede a reciclagem é a contaminação. Isso inclui a mistura com outros polímeros (plásticos incompatíveis), resíduos orgânicos, metais, papel ou produtos químicos. Se o custo ou a complexidade técnica para separar e limpar esses contaminantes forem muito altos, o material é rejeitado no processo de triagem, tornando-se refugo.

Além da contaminação pós-consumo, o próprio design do produto (Design for Recyclability – DfR) é um fator crítico. Embalagens multicamadas (que misturam polímeros incompatíveis como PE e PET), adesivos de difícil remoção ou pigmentos muito escuros (como o carbon black) podem impossibilitar a separação óptica por infravermelho (NIR) nas centrais de triagem.

Esses elementos, embora funcionais para o produto virgem, tornam o processo de reciclagem economicamente inviável ou tecnologicamente complexo, aumentando o volume de rejeito.

arte sobre o ciclo de reciclagem, que apontam os erros ao escolher resinas recicladas

4. Focar apenas no preço, ignorando o custo-benefício

Entre os erros comuns em resinas, este é o que mais ilude o setor de compras. O R$/kg da resina reciclada é quase sempre menor, mas o custo final da peça pode ser maior.

  • Problema: tomar a decisão de compra 100% baseada no menor preço por quilo.
  • Consequência: o “barato sai caro”. Um material muito barato pode ter alta variação de cor, exigindo maior consumo de masterbatch para cobertura. Pode ter propriedades degradadas, exigindo mais aditivos (como modificadores de impacto). Ou, pior, pode gerar um índice de refugo de 5% a 10% maior, destruindo qualquer economia inicial.
  • Solução: calcule o custo total da peça aprovada. Considere: (Preço da resina + Preço dos aditivos/master) + (% de refugo) + (Tempo de ciclo). Muitas vezes, um reciclado 15% mais caro, mas mais estável, é a opção mais lucrativa.

5. Não realizar testes práticos (Try-Out) na produção

Confiar cegamente na ficha técnica, mesmo de um fornecedor homologado, é um risco. O datasheet informa as propriedades, mas não simula a interação do material com seu molde e sua máquina.

  • Problema: comprar um lote grande (ex: um caminhão) baseado apenas na aprovação da ficha técnica.
  • Consequência: o material “não roda”. Na prática, ele exige ajustes drásticos de temperatura, pressão ou velocidade de injeção. Pode não preencher completamente a peça, apresentar manchas ou grudar no molde, causando paradas de produção.
  • Solução: sempre solicite uma amostra (25kg a 50kg) e realize um try-out (teste prático). Use o molde e a injetora/extrusora que serão usados na produção em escala. Documente todos os parâmetros de processo. Só aprove o lote grande após o sucesso do try-out.

Saiba mais: PET-PCR: conheça a resina reciclada para uso na indústria alimentícia

Guia: como escolher resinas recicladas sem erros

Para facilitar o processo, transformamos os erros em um checklist positivo. Este é um guia para escolher resinas recicladas sem erros:

  1. Defina: quais são as propriedades mecânicas, reológicas e estéticas críticas e mínimas que sua peça exige?
  2. Investigue: quem é o fornecedor? Ele possui certificações? Qual a rastreabilidade do processo dele?
  3. Audite: qual a origem do material? É PCR ou PIR? Qual o nível de contaminação esperado?
  4. Teste: peça uma amostra técnica e faça um try-out supervisionado na sua máquina e molde.
  5. Calcule: qual o custo-benefício real (custo total da peça), não apenas o preço por quilo?

Veja também: Como garantir a rastreabilidade de resinas recicladas no processo produtivo

Como escolher um bom fornecedor de resinas recicladas?

A escolha do fornecedor é mais da metade do sucesso do projeto. Falhar na gestão de fornecedores significa trazer a instabilidade para dentro da sua fábrica. O maior risco é escolher parceiros sem um histórico comprovado de qualidade e consistência. Isso leva à necessidade de reajustar parâmetros de máquina a cada novo lote recebido.

Além disso, a falta de um plano de amostragem e testes robustos no recebimento do material na sua empresa pode permitir que um lote ruim entre na linha de produção, gerando milhares de peças defeituosas antes que o problema seja notado.

Quais são os 5 erros (ou principais problemas) da reciclagem?

Do ponto de vista sistêmico, os principais desafios da reciclagem começam na origem. A baixa adesão à coleta seletiva é um gargalo inicial, pois mistura recicláveis com resíduos orgânicos, encarecendo e dificultando a triagem. Isso leva diretamente ao segundo problema: a alta contaminação dos fardos.

Mesmo o material que chega às cooperativas muitas vezes contém misturas de diferentes tipos de plásticos, além de resíduos de alimentos, líquidos ou produtos químicos, o que pode inviabilizar o processamento de lotes inteiros.

Superada a triagem, surgem os desafios técnicos. Existe uma dificuldade intrínseca na separação de polímeros similares, como o Polietileno (PE) e o Polipropileno (PP), que possuem densidades muito próximas, confundindo os sistemas de separação.

Além disso, o plástico sofre uma degradação natural de suas propriedades (como a resistência mecânica) a cada novo ciclo térmico de reprocessamento. Por fim, a falta de padronização do material coletado torna um desafio enorme para o reciclador produzir lotes homogêneos e consistentes, que é exatamente o que a indústria transformadora precisa.

Confira: Entenda quando vale a pena usar resina virgem ou reciclada nas produções

Evitar erros ao escolher resinas recicladas traz sucesso à indústria

Os erros ao escolher resinas recicladas são, em sua maioria, falhas de processo e não de material. Eles são evitáveis quando a decisão de compra deixa de ser puramente comercial e passa a ser técnica, envolvendo engenharia de produto, processo e qualidade.

A adoção de materiais reciclados é um passo estratégico e irreversível para a indústria do plástico. Com os fornecedores corretos, um processo de validação robusto e o foco no custo-benefício total, é perfeitamente possível aliar sustentabilidade, redução de custos e competitividade.

Para saber mais sobre como evitar erros ao escolher resinas recicladas, além de ficar por dentro de tudo o que acontece no setor de plásticos do Brasil e do mundo, continue acompanhando o Mundo do Plástico, o canal de conteúdo da feira Plástico Brasil.

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