A vida moderna é indissociável do plástico. Basta olhar ao redor: do teclado do computador aos eletrodomésticos, do interior do avião a uma sala de cirurgia, do automóvel às embalagens.

O plástico está presente até onde não se vê, atrás das paredes e sob o chão na forma de tubos e conexões.

Para se ter uma ideia, em 2022 foram produzidas globalmente 400,3 milhões de toneladas de plásticos.

“Do ponto de vista da inovação tecnológica, o plástico é uma das maiores maravilhadas criadas pelo homem até hoje”, declara Junior Facin no episódio de abertura da webserie Plastificando, uma iniciativa da Câmara Setorial de Máquinas e Acessórios para a Indústria do Plástico (CSMAIP) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ).

Tamanha abrangência foi alcançada pelo plástico em razão de suas propriedades únicas, como durabilidade, leveza, isolamento elétrico e térmico, resistência mecânica e química, facilidade de processamento e moldagem, versatilidade e muitas outras.

Mas para alcançar essas qualidades, manifestadas em seus diferentes tipos, o plástico percorreu um longo caminho.

Os primórdios do plástico

Antes do plástico, peças de decoração, talheres e muitos produtos eram fabricados a partir do marfim dos elefantes e de chifres e cascos de bovinos. O mesmo acontecia com as bolas de bilhar, esporte bastante popular no século XIX e cuja necessidade de modernização deu importante impulso para a invenção do plástico.

Segundo Facin, a presa de um elefante adulto era suficiente para produzir apenas três bolas de bilhar. Além de serem imperfeitas em formato e equilíbrio, sua fabricação discriminada poderia levar à extinção desses animais.

“Então, em 1860, uma empresa de bilhar de Nova York ofereceu um prêmio de US$ 10 mil para quem conseguisse substituir o marfim por um produto sintético”, lembra.

Por esta época, o metalúrgico e inventor inglês Alexander Parkes vinha trabalhando no que se tornaria o primeiro plástico semissintético do mundo. Batizado de parquesine, era uma mistura de solventes (como álcool) e nitrato de celulose, uma substância plastificante oriunda de árvores.

Muito quebradiço, inflamável e caro para produzir, o parquesine não se popularizou até que o inventor norte-americano John Wesley Hyatt, de olho no prêmio do concurso das bolas de bilhar, comprou as patentes de Parkes e modernizou a fórmula, criando uma massa que poderia ser moldada e até pigmentada.

Primeiro plástico 100% sintético

Vale lembrar que mesmo com todas as melhorias, o plástico de Hyatt ainda é considerado semissintético. O primeiro polímero sintético da história surgiu décadas depois, no início do século XX, pelas mãos do químico industrial belga-americano Leo Hendrik Baekeland.

Batizada de baquelite em referência a seu criador, a invenção era uma resina termofixa – ou seja, que não pode ser derretida novamente após moldada –  formada a partir do fenol e do formaldeído, à prova de calor e com ótimo isolamento elétrico.

Utilizada largamente em telefones, rádios e outros aparelhos eletrônicos, a baquelite foi perdendo espaço à medida que novos polímeros sintéticos surgiram, mas ainda hoje é possível encontrá-la, por exemplo, em cabos de panelas.

Petróleo deu novo impulso ao plástico

O plástico é um material polimérico, ou seja, é composto por moléculas gigantes (macromoléculas) formadas pela repetição de unidades menores (monômeros). É esta estrutura molecular que confere aos plásticos suas conhecidas propriedades de flexibilidade, resistência e facilidade de moldagem.

Em sua maioria, os plásticos são produzidos a partir de fontes não renováveis – no caso, o petróleo, do qual se extrai a nafta, matéria-prima para fabricação dos principais tipos de polímeros usados na indústria de transformação. Estima-se que, atualmente, a nafta responde por 4% a 5% da produção mundial de petróleo.

A fabricação de poliestireno, PVC (policloreto de vinila) e polímeros acrílicos a partir do petróleo se deu na década de 1930, o que impulsionou a indústria do plástico e popularizou ainda mais sua aplicação.

Em 1938, surgiu o nylon (poliamida), cujas propriedades de resistência a desgaste, estabilidade térmica e química, amortecimento mecânico, deslizamento e baixa densidade revolucionaram a indústria têxtil.

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) impulsionou ainda mais a indústria do plástico, que se tornou estratégico na substituição de outros materiais. O nylon tomou o lugar do algodão e da seda na fabricação de paraquedas, cordas e uniformes; o polietileno foi essencial na produção de cabos de radar.

Explosão de consumo

A demanda da guerra por mais inovações estimulou a pesquisa e aprimoramento dos processos de produção dos plásticos. Mas nada se compara ao pós-guerra, no qual grandes mercados, como os Estados Unidos e Europa, observaram uma explosão de bens de consumo.

A produção em escala industrial de plásticos facilitou a fabricação de uma enorme gama de produtos que antes eram caros ou impraticáveis. Entre exemplos clássicos deste período estão os recipientes da marca Tupperware, que modernizou o armazenamento de alimentos, e os blocos de montar Lego – que até 1949 eram feitos de madeira.

Embalagens descartáveis dominaram o mercado ao oferecer facilidade de transporte e conservação, transformando o estilo de vida e os hábitos de consumo.

Nas décadas seguintes, as aplicações de resinas plásticas continuaram se espraiando para as mais diferentes indústrias, como a aeroespacial (década de 1960), móveis e brinquedos (1980), automotiva e embalagens (1990) – esta última alavancada com a expansão dos super e hipermercados.

Plásticos e desafios ambientais

A quase onipresença do plástico na vida moderna carregou no seu bojo um desafio significativo: a preservação ambiental. A principal origem do problema está no descarte incorreto dos produtos feitos com plástico, que acabam em aterros sanitários ou na natureza.

Nas últimas décadas, a indústria do plástico colocou seu foco na sustentabilidade e na busca de soluções. Uma delas foi o desenvolvimento dos bioplásticos, originados a partir de matérias-primas renováveis, como milho, cana-de-açúcar e outros. É um mercado em crescente evolução, que atingiu a marca de 2,2 milhões de toneladas produzidas em todo o mundo em 2022.

Porém, nem todo bioplástico é biodegradável, ou seja, se degrada ao término de seu ciclo de vida pela ação de microrganismos sob certas condições ambientais.

Assim, o maior investimento e atenção da indústria do plástico estão voltados para a economia circular, que substitui o modelo linear de produzir, usar e descartar para outro que busca manter os materiais em uso pelo maior tempo possível por meio da reciclagem, reutilização e design para longevidade.

Em 2022, quase 10% das 400,3 milhões de toneladas de plástico produzidas foram provenientes da produção circular (reciclagem e biomateriais). É um índice que precisa ser melhorado, e, para isso, estão surgindo diversas legislações e iniciativas de educação ambiental e reciclagem na grande maioria dos países.

O futuro do plástico

Com o aumento da demanda por produtos mais sustentáveis, o futuro do plástico está intrinsicamente ligado à economia circular.

Enquanto investe em materiais de origem renovável, a indústria do plástico avança em projetos que minimizam o desperdício, otimizam o uso dos recursos e aumentam a vida útil dos materiais.

No Brasil, a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST) desenvolve uma série de projetos orientados para a economia circular, logística reversa de embalagens, boas práticas, certificações e gestão de resíduos sólidos urbanos.

Muitas marcas vêm combinando ecodesign e tecnologias para redução de matéria-prima, peso, diminuição de geração de carbono, eficiência na linha de produção, redução de perdas nos processos de industrialização e logística, aumento de matéria-prima reciclada e integração com a economia circular na busca por embalagens mais sustentáveis.

Paralelamente, a indústria do plástico continua avançando na pesquisa e desenvolvimento de produtos para avançar no desenvolvimento tecnológico, proteção ao meio ambiente, prosperidade econômica e melhoria dos padrões das pessoas.

Entre esses avanços, é possível citar o plástico que imita hemoglobina para substituição do sangue em emergências, biomateriais de grau médico e implantáveis para aplicações neurológicas e réplicas de órgãos humanos impressas em 3D, entre tantos outros.

Como se vê, a jornada do plástico, desde sua descoberta até a busca por um futuro sustentável, reflete a complexidade e a adaptabilidade da própria inovação humana.

Fontes:

Websérie Plastificando
Movimento Plástico Transforma (Você sabe como se fabrica plástico?)
ABIPLAST – Perfil da Indústria Brasileira de Transformação e Reciclagem de Material Plástico