Na comparação com outros países, o Brasil ainda recicla uma quantidade de resíduos aquém do necessário para proteger o meio ambiente.
Segundo a ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, atual ABREMA), em 2021 apenas 4% dos resíduos sólidos que poderiam ser reciclados seguiram para esta destinação.
Para se ter uma ideia, segundo o Escritório de Reciclagem Internacional, a indústria da reciclagem movimenta US$ 200 bilhões por ano no mundo.
Doutora em Ecologia e professora do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP), Rosângela Braz aponta que os países que mais reciclam são Reino Unido e Alemanha, onde a reciclagem é exigida por lei.
Fora da Europa, a Coreia do Sul é que quem tem o maior índice de reciclagem, de aproximadamente 53%.
“Contraditoriamente, duas décadas atrás, Reino Unido e Alemanha, bem como Estados Unidos e outros países, enviavam grande parte de seus resíduos para outros países, que não possuem legislação que os proteja”, comenta.
Fatores que influenciam a reciclagem
Rosângela enumera alguns dos fatores que impactam nos baixos índices de reciclagem no Brasil:
- Falta de programas de coleta seletiva;
- Falta de incentivos às recicladoras e aos catadores;
- A reciclagem restringe-se apenas às demandas econômicas do setor. Ou seja, a reciclagem prioriza produtos com interesse econômico, e não produtos poluentes ou com potencial degradante para o ambiente.
Além disso, ela destaca que há certo descaso dos governos e da população: “Em um quarto das cidades brasileiras não há coletiva seletiva de resíduos. Em mais de 4.000 municípios, a coleta é ineficiente e não há políticas públicas que incentivem esta prática. Ainda, segundo dados nacionais, 70% da população não faz separação de resíduos”.
Bons exemplos na reciclagem
Na outra ponta, uma das “campeãs” de reciclagem, a Alemanha, possui uma política pública eficiente de reaproveitamento, que reduz a produção de novos resíduos.
“Já no Japão, criou-se uma mentalidade de responsabilizar produtores, consumidores e governos quanto a quantidade de resíduos gerados. Este mecanismo abre possiblidade para mudanças no tipo de materiais utilizados e sua durabilidade”, completa Rosângela.
Outro bom exemplo vem da Suécia. Com menos de 10 milhões de habitantes, o país reciclou 1,5 bilhão de garras e latas em 2019. A população produziu apenas 461 kg/habitante ano, e menos de 1% tem como destino os aterros sanitários.
Problema complexo
A doutora em Ecologia reconhece que alcançar níveis satisfatórios de reciclagem é um problema complexo e que, portanto, exige soluções complexas e que envolvem múltiplos setores da sociedade.
Investir na educação da população para incentivar o consumo consciente e o descarte correto, em novas tecnologias de polímeros e embalagens e na infraestrutura de reciclagem fazer parte da solução, mas não só.
“Um dos aspectos que precisam ser discutidos é a obsolescência programada, que reduz o tempo de vida dos produtos, aumenta a sobrecarga para produção e aumenta o consumo e a produção de resíduos”, diz.
Lições na gestão de resíduos
Tomando como base os países que estão lidando com a questão dos resíduos sólidos de forma mais eficiente do que o Brasil, uma boa lição a ser aprendida é que a conscientização de todos os atores envolvidos precisa partir dos detentores de informação e estrutura – ou seja, os governos.
“Naqueles países, a ação dos governos, com criação de políticas públicas, catalisou o movimento social e o interesse sobre o assunto. A educação social é um processo lento, que precisa ocorrer e ser exigida dos diferentes segmentos da sociedade”, observa a doutora Rosângela.
Voltando a exemplo da Suécia, por exemplo, a coleta de lixo é bastante rigorosa: o lixo orgânico deve estar de acordo com as especificações fornecidas pelo governo para que seja recolhido, e o contribuinte paga taxa de recolhimento proporcional à quantidade de resíduos que gera. Isso exige da população um maior controle do próprio descarte.
Em relação à reciclagem, os resíduos são separados nas residências e estabelecimentos comerciais, e aqueles que podem ser reciclados são levados pelos cidadãos aos centros de coleta.
Vale lembrar que, no Brasil, a indústria, em especial a do plástico, também vem fazendo sua parte.
De acordo com a mais nova versão do estudo da indústria de transformação e reciclagem do plástico elaborado pela Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), de 2020 para 2021, a produção de plástico pós-consumo reciclado passou de 884 mil toneladas para 1 milhão de toneladas, e o índice de reciclagem do plástico subiu 0,3 pontos percentuais, de 23,1% para 23,4%.
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