O avanço da tecnologia no ambiente industrial, particularmente no contexto da Indústria 4.0, por meio da qual muitas funções são informatizadas e interligadas, pode ter efeitos na saúde dos trabalhadores.
A constatação é de Antonino Germano, gerente de Saúde do SESI-Rio Grande do Sul. Ao mesmo tempo, ele afirma que essa tecnologia tem potencial de colaborar para a redução de acidentes de trabalho.
Entre os exemplos benéficos, estão:
IoT (Internet das Coisas): desde dispositivos vestíveis que podem monitorar sinais vitais, movimentos e exposição a perigos até sensores de máquinas, que fornecem dados que ajudam a detectar e prevenir condições inseguras ou rastrear condições ambientais, como qualidade do ar, temperatura e umidade.
Drones: por meio de vigilância aérea, realiza inspeções em locais de trabalho, infraestrutura e áreas para avaliar a segurança e identificar perigos potenciais, ou mesmo para localizar trabalhadores em resgates de emergência.
Robôs: assumem tarefas repetitivas, perigosas ou fisicamente exigentes, a fim de reduzir o risco de lesões dos trabalhadores. Ainda, podem ser utilizados em casos de inspeção remota de áreas potencialmente perigosas.
Inteligência Artificial (IA): podem analisar dados históricos para prever possíveis riscos à segurança ou falhas de equipamentos, permitindo a tomada de medidas preventivas.
Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR): utilizadas em simulações de treinamento de segurança imersivo, permitindo que os trabalhadores pratiquem procedimentos de segurança no ambiente virtual antes de executá-los em situações da vida real.
Aprendizado de Máquina e Big Data: analisa dados de comportamento dos trabalhadores e identifica padrões que podem levar a acidentes, permitindo intervenções de segurança direcionadas.
Impactos da tecnologia
Os efeitos da tecnologia sobre a saúde do trabalhador tendem a ser positivos ou negativos, segundo Germano.
Positivos:
- Reduz o esforço físico e o risco de lesões musculoesqueléticas;
- Melhora a ergonomia;
- Monitora a saúde do trabalhador em tempo real;
- Simula cenários perigosos no ambiente virtual.
Negativos
- Aumento do estresse mental, gerado pela conectividade constante e a sobrecarga de informações, que pode evoluir para problemas de saúde mental como ansiedade e depressão;
- As rápidas mudanças tecnológicas podem resultar em lacunas de competências (o trabalhador receia não ter formação adequada às novas funções), conduzindo à insegurança e ao estresse;
- As ameaças à cibersegurança podem afetar o bem-estar dos trabalhadores com potenciais violações de dados ou falhas de sistema, causando stress e ansiedade.
- A tecnologia pode levar a uma sensação de isolamento (mais interação com as máquinas do que com os colegas), afetando potencialmente a saúde mental e o bem-estar social.
Gestão de SST
Germano alerta que o contexto de avanço tecnológico tem reflexos evidentes na Gestão de SST (Segurança e Saúde do Trabalho).
“Os gestores devem realizar avaliações de riscos completas que considerem, além dos riscos químicos, físicos, biológicos, ergonômicos e de acidente, os fatores psicossociais associados à tecnologia. Isto inclui a identificação de potenciais fontes de estresse pelo impacto da automação nos trabalhadores.”
Além de garantir a conformidade legal, a SST está fortemente relacionada com a produtividade e a competitividade de uma indústria.
“Quando os funcionários se sentem seguros e saudáveis no local de trabalho, é mais provável que estejam mais motivados, engajados e produtivos”, reforça Germano.
Outros benefícios elencados por ele são: redução do tempo de inatividade devido à suspensão do trabalho ou necessidade de substituições; prevenção da aplicação de multas e penalidades legais; reputação positiva junto aos clientes, o que amplia as oportunidades de negócios; e aumento da competitividade numa economia globalizada.
Como aplicar a SST na indústria
Para muitas indústrias, em especial as menores e menos orientadas para a tecnologia, a Gestão de SST e até mesmo sua adaptação ao cenário de mudança impulsionado pela inovação tecnológica pode ser um desafio.
Antonino Germano lista alguns passos para a SST contribuir com o sucesso das empresas:
- Reconhecer a SST como uma prioridade estratégica, e não apenas um requisito legal;
- Definir objetivos específicos, mensuráveis e delimitados no tempo, que se alinhem com os objetivos estratégicos e valores globais da empresa;
- Garantir os recursos financeiros e de pessoal necessários para implementar eficazmente os programas de SST;
- Criar uma política abrangente de SST que descreva o compromisso da empresa e estabeleça fluxos de ações e responsabilidades para alcançar os objetivos;
- Estimular capacitações e programas de formação e sensibilização para funcionários em todos os níveis para melhorar a compreensão dos procedimentos e do papel de SST;
- Promover uma cultura de segurança, na qual os funcionários sejam incentivados a prevenir os perigos e os incidentes sem medo de represálias;
- Envolver e incluir as perspectivas e contribuições dos principais stakeholders (trabalhadores, sindicatos, fornecedores e clientes) nas discussões sobre SST, quando relevante;
- Estudar as melhores práticas da indústria e fazer comparações com os concorrentes para identificar oportunidades de melhoria nos padrões e desempenho de SST.
Ele lembra que pequenas e médias empresas (PME) podem enfrentar desafios maiores na implementação da SST, devido a restrições de recursos.
“Os governos e as associações industriais devem fornecer apoio e recursos para ajudar as PME a melhorar a segurança no local de trabalho”, reforça.
Para Germano, a SST deve ser vista como um processo contínuo de melhoria. “Revisões, auditorias e atualizações regulares dos protocolos de segurança são essenciais para se manter à frente da evolução dos riscos”.
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