A indústria química brasileira é a sexta maior do mundo, com faturamento anual de US$ 142,8 bilhões em 2021, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

Deste montante, U$ 71,9 bilhões vêm dos produtos químicos industriais, dos quais a petroquímica representa cerca de 65%.

A entidade define a indústria petroquímica como aquela que se caracteriza “por utilizar um derivado de petróleo (a nafta) ou o gás natural como matérias-primas básicas”.

Gerente de Assuntos Regulatórios e Comissões Setoriais da Abiquim, Camila Hubner Barcellos Devincentis lembra que, como todos os demais setores industriais, a operação da química está fortemente apoiada no paradigma petroquímico, que tem como base principal, mas não exclusiva, o uso de insumos fósseis.

Por conta disso, uma das questões ambientais mais comumente atribuídas ao segmento está relacionada à emissão de gases causadores do efeito estufa, os chamados GEEs.

“A química no Brasil tem trabalhado fortemente para mitigar a emissão desses gases, atingindo a neutralidade em 2050, de acordo com os compromissos assumidos pelo país em fóruns internacionais”, reforça Camila.

Luiz Carlos Assumpção, consultor parceiro da Ohxide Consultoria, empresa com expertise no setor petroquímico, plástico e reciclagem, acrescenta:

“Questões que no passado eram muito citadas, como efluentes das indústrias, questões ligadas à operação das unidades, entre outras, atualmente estão bem equacionadas. Foram desenvolvidas tecnologias que permitem aproveitar os efluentes do processo e reduzir desperdícios de energia e água, por exemplo.”

ESG nas petroquímicas

Também da Ohxide, o diretor e consultor Flávio Ferreira da Silva destaca que, ao longo das últimas décadas, a preocupação ambiental foi incorporada às empresas do setor “não apenas pelo conceito de não prejudicar o meio ambiente, mas para evitar perdas financeiras com multas, perda de imagem que geraria perda nas vendas, entre outros”.

Tais preocupações vão ao encontro dos conceitos de ESG, sigla em inglês para Environmental, Social and Governance, e que pode ser traduzida como Governança Ambiental, Social e Corporativa.

Trata-se de um conjunto de políticas e melhores práticas orientadas para sustentabilidade empresarial e que tem impacto cada vez maior na atração de investimentos.

Para a gerente da Abiquim, o grau de adesão da indústria química ao ESG é de extrema relevância, sobretudo porque as empresas que não estiverem alinhadas a estes princípios não terão espaço dentro do atual contexto, em que a sustentabilidade se transformou em um compromisso mundial.

E isto não é de hoje. “A química tem um longo histórico de realização de esforços para diminuir a sua pegada ambiental e para tornar suas operações mais seguras e eficazes”, diz Camila. Entre estes esforços, ela destaca:

  • Importantes esforços para a desfossilização, ou seja, para substituir o uso de insumos fósseis por outros de origem renovável;
  • O hidrogênio de origem renovável, cuja matéria-prima basicamente é água e que pode ser produzido utilizando-se energia limpa, como a eólica ou solar;
  • A chamada “simbiose entre indústrias” para captura de carbono, ou seja, quando o GEE gerado por uma empresa que necessita da queima como energético é usado por outra empresa como matéria-prima, sem que vá para a atmosfera;
  • O desenvolvimento das tecnologias de Captura, Armazenamento e Uso de Carbono (CCUS) para sua utilização enquanto insumo na fabricação de produtos químicos.

Bons exemplos de sustentabilidade

Como se pode notar, não faltam bons exemplos de sustentabilidade na indústria petroquímica.

Flávio, da Ohxide, cita como uma das mais bem sucedidas o projeto do polietileno verde da Braskem, em Triunfo (RS), que produz o mesmo plástico oriundo da nafta, mas a partir do etanol via produção de cana de açúcar.

A Abiquim coordena, desde 1992, o Programa Atuação Responsável®, que a partir de 1998 tornou-se obrigatório para as empresas associadas à entidade.

O programa tem como objetivo comprometer a indústria química no desenvolvimento e implantação de práticas seguras para o meio ambiente e para as pessoas.

“Essas ações passam pela concepção de instalações adequadas, efetivos controles operacionais, desenvolvimento de produtos mais seguros, gestão de stakeholders, capacitação, ações junto à cadeia de valor e transparência frente a sociedade”, explica Camila.

Como exemplos práticos, ela lista alguns Indicadores de Desempenho do programa que demonstram como a indústria química vem avançando na transformação de resíduos em recursos valiosos:

Redução: de 2006 a 2020, a indústria química reduziu em 8% a geração de resíduos (perigosos e não perigosos) medida em quilo por tonelada de produto;

Reaproveitamento: em 2006, a indústria química reaproveitou cerca de 7% dos resíduos perigosos; em 2020, esse índice atingiu quase 75%. Já no caso dos resíduos não-perigosos, o índice saltou de 15% para 44% no mesmo período.

Para Camila, uma vez que a indústria química fornece insumos para basicamente para todos os setores da economia, como construção civil, automotivo, têxtil, farmacêutico, agroquímica e outros, “uma inovação em prol do desenvolvimento sustentável gerada na química reverbera em toda a economia, impulsionando a sustentabilidade”.


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