Em função das preocupações ambientais, há uma busca crescente em todo o mundo por fontes renováveis na indústria de termoplásticos, bem como de matérias-primas químicas alternativas à petroquímica – que hoje, responde por mais de 90% da matéria-prima para síntese de moléculas orgânicas.

“Nesse sentido, rotas de produção química, suplantadas pela petroquímica, quando o modelo econômico baseado no petróleo acessível e abundante se tornou hegemônico, voltam a ser foco da pesquisa e do desenvolvimento de empresas e da academia”, afirma Helena Borges, engenheira em materiais pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e pós-graduada em Engenharia de Plásticos pela UniSociesc.

Uma dessas alternativas é a alcoolquímica, que utiliza o álcool etílico (ou etanol) obtido de carboidratos, como o amido (de cereais) e o açúcar (da cana), como matéria-prima. Outra possibilidade é a sucroquímica, que utiliza a sacarose como matéria-prima para a manufatura de produtos, como o ácido acético, o ácido láctico, o ácido fumárico e o ácido levulínico. Já a oleoquímica, fabrica matérias-primas químicas a partir de gorduras e óleos, de origem vegetal ou animal, e tem ganhado destaque mundial após o biodiesel.

A Braskem, líder latino-americana em produção de resinas, por exemplo, investiu US$ 5 milhões em pesquisa e desenvolvimento para chegar a um polietileno certificado a partir de álcool da cana, chamado de “polímero verde”, transformando o Brasil em um dos principais responsáveis pelo crescimento dos bioplásticos, especialmente por ser um dos maiores fornecedores mundiais de etanol para a produção de polietileno e PET verdes.

O bioplástico na indústria dos termoplásticos

Boa parte dos plásticos pode ser reciclada, mas há casos em que o reaproveitamento não é admitido porque o material resultante não apresenta o desempenho mecânico mínimo exigido. A indústria de polímeros vem se preocupando em avaliar o impacto ambiental de sua produção e desenvolver produtos a partir de fontes renováveis.

No entanto, o chamado bioplástico tem aumentado significativamente sua presença nas indústrias do plástico, despontando como uma importante oportunidade de negócio. Seus componentes, derivados de resíduos agropecuários, como cana-de-açúcar, soja, milho, amido de arroz, entre outros produtos vegetais e animais, se destacam por, também, possibilitar uma grande versatilidade de aplicação, o que ajuda a manter a eficiência produtiva industrial, sem agredir a natureza.

No entanto, de acordo com Helena, “apesar da origem biológica desses plásticos, é preciso considerar as atividades de plantio e colheita, o processamento, o consumo de energia envolvido, a infraestrutura comercial em sua aplicação e performance. A densidade de alguns bioplásticos, por exemplo, é bastante superior à de certos polímeros de fonte fóssil, acarretando um consumo mais elevado de material para a confecção de uma mesma peça, o que não ocorre com o polietileno verde”, destaca.

Cana-de-açúcar entre as fontes renováveis para a tecnologia de termoplásticos

Entre todas as matérias-primas de bioplástico, a engenheira destaca a cana-de-açúcar, e lista algumas vantagens para a produção de plástico:

  • O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Além disso, estudos apontam que a cana nacional se beneficiará dos cenários de mudanças do clima, que indicam elevação de temperatura nas próximas décadas.
  • Sua cultura demanda menos fertilizantes e defensivos.
  • A produtividade da cana-de-açúcar na produção de etanol é maior: 7 mil litros por hectare plantado, contra 5,5 mil litros por hectare de beterraba na Europa, e 3,8 mil litros por hectare de milho nos Estados Unidos. Sua produtividade ainda pode ser aumentada com a implementação de novas tecnologias, sendo possível ampliar o plantio sem desmatar, aproveitando áreas degradadas que podem ser recuperadas.
  • O custo de produção do etanol de cana chega a ser um quarto de seus principais concorrentes, como o etanol de açúcar de beterraba.

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