O trabalho de reciclagem de plástico no Brasil é relevante, mas ainda tem muito espaço para melhoria. Boa parte do plástico reciclado se origina do uso doméstico, mas há relevância também do pós-consumo não doméstico e do resíduo pós-industrial.
Veja a seguir os principais dados sobre o trabalho de reciclagem de plástico no Brasil.
Tamanho do mercado de reciclagem de plástico no Brasil
Um estudo encomendado pelo Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico (o PICPlast), realizado pela MaxiQuim, trouxe dados referentes à reciclagem de plástico no Brasil em 2018. Ele demonstra um avanço da reciclagem pós-consumo no mercado brasileiro.
As principais informações trazidas pelo estudo são muito interessantes:
- Foram geradas 3,4 milhões de toneladas de resíduo plástico pós-consumo. Apenas a título comparativo, em 2016, haviam sido geradas 2,1 milhões de toneladas de plástico pós- consumo. Ou seja, é um crescimento de 61% em apenas dois anos.
- Destes 3,4 milhões, com 991 mil toneladas destinadas à coleta seletiva, às cooperativas, aos centros de triagem e/ou aos sucateiros. Deste volume, 234 mil toneladas se perderam no processo de reciclagem e acabaram nos aterros.
- O volume total de resíduos plásticos pós-consumo reciclados de forma mecânica foi de 757 mil toneladas em 2018. Comparado ao último estudo (2016), em que o volume atingiu 550 mil toneladas, houve um aumento de 37% na quantidade de plástico reciclado.
- Das 757 mil toneladas recicladas, 328 mil toneladas (43,3%) foram transformadas em PET, 18% transformadas em PEAD, 17% em PEBD/PELBD, e 15% em PP.
- O uso do plástico reciclado é bem diverso, sendo 18% utilizado pela indústria de Higiene Pessoal e Limpeza Doméstica, 13% na Construção Civil, 10% no segmento de Bebidas (somente o PET tem regulação válida da ANVISA para contato com alimentos e bebidas), 9% no segmento de vestuário e têxtil e 9% em utilidades domésticas.
- O volume total de resíduos plásticos consumidos chegou a 1,3 milhão de toneladas (34% gerado por PET, 21% por PEBD/PEBDL e 18% de PP). A maior parte dos resíduos (52%) vem do Sudeste, especialmente do Estado de São Paulo (30%).
Diante desses dados, podemos concluir que o número de reciclagem de plástico no Brasil pode ser muito melhor. Em 2017, o consumo aparente de plástico foi de 6,5 milhões de toneladas, um aumento de 3,8% na comparação com 2016. Mas o salto em dois anos foi de 37%, o que demonstra o potencial de crescimento desse mercado.
Novos entrantes no mercado
Um dos maiores problemas da reciclagem na atualidade é a descontaminação do material a ser reciclado. “O processo de limpeza chega a ter o custo igual ou maior que a matéria-prima virgem e, dessa forma, inviabiliza qualquer processo de aproveitamento dos resíduos”, explica Vitório Donato, pesquisador do Instituto SENAI de Inovação em Logística e autor do livro Logística Verde – uma abordagem socioambiental.
Do universo pesquisado, 64% das empresas recicladoras são pequenas e médias empresas, 19% de microempresas e 17% são de grandes empresas. Perceba que há muita margem para novos entrantes no mercado.
O estudo mapeou indústrias de reciclagem mecânica de plásticos, com a presença de 716 empresas em operação, sendo que 88,54% da recicladores se encontram no sul e no sudeste.
Solange Stumpf, sócia da MaxiQuim, destaca que houve um aumento relevante na geração de plástico pós-consumo e na reciclagem de mais de 750 mil toneladas de resíduos plásticos foram recicladas, ainda que a coleta seletiva e a reciclagem dos materiais estejam restritas aos grandes centros.
Para ela, “se compararmos com outros países da União Europeia ou dos Estados Unidos, sabemos que fazemos um excelente trabalho de reciclagem mecânica. Contudo, precisamos evoluir também na reciclagem energética, já que os plásticos são fundamentais no processo e já servem como combustível para que o processo ocorra com eficiência, bem como na reciclagem química”.
Aparece aí mais uma possibilidade de novos players no mercado de reciclagem de plástico no Brasil.
Possibilidades e oportunidades
A reciclagem de plástico no Brasil, além de ser altamente necessária para nós enquanto sociedade, também pode ser uma boa oportunidade de negócio para a indústria. Apesar disso, a coleta de resíduos ainda é um gargalo para o avanço da reciclagem, como apontamos.
Considerando o potencial do trabalho de reciclagem de plástico no Brasil, devemos buscar modos de tornar a coleta e a reciclagem do plástico bons negócios para as empresas. Isso passa, necessariamente, pela valorização dos resíduos plásticos, que ainda são tidos como de menor valor agregado, seja para quem coleta e recicla, seja para quem fabrica produtos a partir do material reciclado. A tecnologia na reciclagem também pode ser fundamental.
“Se todos os envolvidos nesse setor tratarem os resíduos como resíduo e não como lixo, estaremos dando início a um processo de reciclagem rentável”, defende Vitório Donato.
Outro ponto de atenção para aprimorar o trabalho de reciclagem de plástico no Brasil são as perdas no processo de reciclagem. A pesquisa aponta que o principal motivo permanece sendo a contaminação da sucata plástica com materiais indesejados, em decorrência da triagem desqualificada. Além disso, “materiais com adesivos, sujeira orgânica e, dependendo do material, cores indesejadas, contribuem para o descarte da sucata adquirida”, destaca Solange.
O potencial do mercado de reciclagem de plástico no Brasil é enorme. Novos entrantes no mercado podem alavancar esse trabalho e colocar o país como referência no mundo quando o assunto é reciclagem.