Muito se debate sobre o descarte de embalagens plásticas e seus impactos ambientais. Em razão disso, eventualmente surgem debates sobre a necessidade de substituir o plástico por outros materiais (papel, vidro, aço etc.) visando à melhoria da sustentabilidade. 

Em artigo publicado em meados de 2024, Yuri Tomina, head do Cazoolo, Lab de design de embalagens circulares da Braskem, explica que não é bem assim.  

Citando o estudo “Replacing Plastics with Alternatives is Worse for Greenhouse Gas Emissions in Most Cases”, publicado pela Universidade de Sheffield, Tomina aponta que a substituição do plástico aumentaria a emissão dos gases de efeito estufa, levando em conta unicamente a liberação de carbono para a atmosfera. 

O head do Cazoolo acrescenta que esse não seria o único benefício do plástico sobre os demais materiais. 

“Encontramos casos nos estudos de ACV (Avaliação de Ciclo de Vida) realizados pela Braskem nos quais a solução em plástico, além de contribuir para uma menor emissão de gás carbônico (CO²), também promove menores usos de água, solo ou inorgânicos inaláveis.” 

Benefícios do plástico 

Estudos recentes, realizados aqui mesmo no Brasil, comprovam a superioridade ambiental do plástico. 

Em um deles, divulgado no último mês de outubro, a ABIPET (Associação Brasileira da Indústria do PET) comprovou a maior eficiência desse tipo de polímero em relação a embalagens de alumínio, vidro e aço.  

O PET se destacou em áreas como menor emissão de gases de efeito estufa, chuva ácida e também: 

  • Menor gasto de energia; 
  • Menor quantidade de resíduos sólidos liberados no solo; 
  • Menor consumo de água em sua produção. 

Eficiência do ACV 

Tomina chama atenção que a grande contribuição da análise feita pela Universidade de Sheffield, que mapeou os impactos na emissão dos gases de efeito estufa de diferentes materiais em 16 aplicações, está na avaliação correta da aplicação e do cenário envolvido.  

“Generalizações podem nos induzir a erros, principalmente se o material for avaliado fora de contexto – por exemplo, papel versus plástico versus vidro”, alerta.  

Vem daí, segundo ele, a importância da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) para evitar afirmações genéricas de que um material é ambientalmente superior ao outro. 

A ACV é a maneira mais segura e confiável para realizar estudos sobre o impacto do plástico e outros materiais no meio ambiente. Essa avaliação analisa, como próprio nome indica, toda a vida do material, desde a coleta de matérias-primas até o fim da vida.  

Tomina ressalta a importância desse método para empresas buscarem aumentar a sustentabilidade de seus processos e produtos. 

“A ACV é fundamental para mapear os diferentes impactos ambientais e guiar as empresas a reduzi-los, focando sempre na oferta de produtos cada vez menos impactantes. Além disso, é fundamental lembrar que toda cadeia deve atuar de forma integrada para obter melhores resultados.” 

Ele reforça que esse método faz parte da jornada da economia circular que enfatiza a importância do plástico na sociedade, com destaque para as embalagens dos alimentos.  

“Outro ponto importante”, completa, “é o uso da metodologia de DfE (Design for Environment) em qualquer nova embalagem desenvolvida. Isso permite o aprimoramento e a garantia da sustentabilidade de ponta a ponta dos processos, o que resulta na visualização das melhores ferramentas para entender possíveis caminhos alternativos.” 

A boa notícia, de acordo com Tomina, é que a indústria de embalagens em geral, independentemente do material, vem evoluindo rapidamente no caminho da sustentabilidade e circularidade, e que todos os segmentos e elos da cadeia têm buscado entregar soluções nessa direção.  

“A indústria de plástico tem uma grande oportunidade nesse sentido, já que produz um material vencedor para diversas aplicações de embalagens. E a ideia é explorar os benefícios do plástico, como leveza, maleabilidade, força e resistência, sempre combinando com a incorporação de materiais renováveis ou reciclados e até mesmo novos modelos de reuso.” 

Falta de consenso  

Entre 25 de novembro e 1 dezembro de 2024, mais de 100 nações participaram da quinta reunião do Comitê de Negociação Intergovernamental da ONU, realizada em Busan, Coreia do Sul, para negociar um tratado global que busca a redução da poluição causada pelo plástico. 

Encontros anteriores ocorreram no Uruguai (novembro de 2022), França (junho de 2023), Quênia (novembro de 2023) e Canadá (abril de 2024). 

Em Busan, o principal embate se deu entre países que apoiam a limitação da produção do plástico, como o Panamá, e nações que se opõem a isso e sugerem aumentar o investimento em reciclagem – caso, entre outros, da Arábia Saudita.  

Embora não tenha sido a última conferência (as próximas devem ocorrer já em 2025), Tomina considera que as discussões foram relevantes para que um possível pacto seja firmado no futuro. 

“Apesar da falta de consenso, as discussões na INC-5 foram muito positivas no sentido de fazer avançar e concluir o quanto antes o Acordo. Os países avançaram em tópicos muito relevantes e o futuro dos plásticos – inclusive no design, na transição justa e nos planos nacionais de ação”, avalia 

Ele destaca que a indústria química global está comprometida e trabalhando em todo o mundo com as principais partes interessadas na cadeia de valor (associações industriais, academia, ONGs, formuladores de políticas e sociedade) em busca de soluções para superar os desafios da sustentabilidade do plástico. 

Para se aprofundar no tema e entender o impacto dos materiais, saiba mais sobre a Avaliação do Ciclo de Vida.