De 10 a 21 de novembro, o Brasil vai sediar, em Belém/PA, a COP30, 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. 

É o evento mais importante do mundo para a discussão e negociação de ações globais contra as mudanças climáticas e principal instância de decisão da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) para estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera. 

Entre os temas incluídos na programação dos dois primeiros dias (10 e 11), dois se relacionam à indústria do plástico: Resíduos e Economia Circular

Como o plástico será abordado na COP30? 

Na análise de Flávio Ribeiro, embaixador do Movimento Circular, consultor e professor em Economia Circular, mestre em Energia e doutor em Ciências Ambientais, o plástico entra nas discussões da conferência dentro do escopo maior da economia circular

“A economia circular contribui no combate às mudanças climáticas de várias maneiras. Uma delas é quando você reaproveita melhor as coisas, e aí a gente já começa a olhar para o plástico.” 

Um dos princípios da economia circular é  que os materiais permaneçam em uso por mais tempo, diminuindo a extração de recursos para a fabricação de um novo produto. 

“Então, reutilizar e reciclar o plástico, que são ações de economia circular, são também maneiras de reduzir emissões de gases de efeito estufa”, aponta.  

Quais os pontos de atenção da COP30 para a indústria do plástico? 

Para Flávio, os plásticos devem entrar na programação temática da COP30 como uma possível área de atuação no contexto da economia circular como instrumento de combate às mudanças climáticas. 

O professor, que é também Conselheiro para Economia Circular do Pacto Global da ONU, antevê vários pontos de discussão na conferência que a indústria do plástico deve ficar atenta. 

O principal deles é o ciclo de vida, considerado fundamental quando se fala em economia circular. Flávio divide esse ciclo do plástico em seis degraus: 

Matéria-prima: a maior parte do plástico é oriunda de matéria-prima fóssil (petróleo e gás natural), o que tem sido grande ponto de crítica nas últimas COP. Por outro lado, vêm surgindo alternativas, como a crescente produção de bioplásticos a partir de fontes renováveis (amido, cana-de-açúcar).  

“Esse é um primeiro ponto que a indústria do plástico está atenta, já há empresas posicionadas neste sentido, mas é uma pauta que deve crescer de importância.” 

Emissões: cada etapa da cadeia do plástico (extração do petróleo, produção dos polímeros, transformação, produto final, comercialização e os transportes envolvidos em cada fase) tem as suas próprias emissões de gases de efeito estufa. Cada elo da cadeia, dentro de sua área de atuação, deve buscar oportunidades para reduzir suas emissões. 

“Estamos falando de processos produtivos mais eficientes, seja na refinaria, na petroquímica, na própria empresa que produz as peças plásticas. Por exemplo, você pode ter uma empresa que injeta plásticos gastando menos energia, e isso já é uma ação de combate às mudanças climáticas.” 

Reuso: uma das grandes discussões atuais quando se fala em poluição é restringir o plástico de uso único (descartáveis) e priorizar produtos e embalagens reutilizáveis, reaproveitáveis e de vida mais longa.  

“Talvez aí haja uma expectativa na indústria do plástico para mudar o portfólio  de produtos mais descartáveis para outros que fiquem mais tempo em uso, que possam principalmente ser reutilizados.” 

Flávio destaca que, nesse caso, o plástico leva larga vantagem sobre outros materiais, como o papel, por exemplo, que embora tenha origem renovável e possibilidade de compostagem, não pode ser reutilizado como embalagem.

Assim, existe uma oportunidade para a indústria do plástico orientar estrategicamente seus produtos para uma sociedade do reuso.  

Reciclabilidade: fabricantes devem considerar o final de vida de uma embalagem desde seu projeto, para o caso de ela não poder ser reaproveitada. Ou seja, facilitar a reciclagem por meio de embalagens monomateriais, com menos aditivos, rótulo e formato de tampa inteligentes e outros atributos de ecodesign.  

“A gente pode propor que as embalagens tenham melhor reciclabilidade e que, portanto, sirvam de matéria-prima para uma nova embalagem. Com isso, você diminui a necessidade de usar petróleo virgem, reduzindo as emissões.” 

Os dois últimos degraus se referem a estratégias a serem adotadas quando nenhuma das anteriores for possível. 

Vazamento (Leakage): é o resíduo do qual não foi possível evitar o consumo, reutilização, reciclagem ou encaminhamento para aterros, que se encontra no ambiente e pode contaminar os oceanos.   

Evitar que isso aconteça deve ser um ponto de atenção para a indústria do plástico, por meio da melhoria dos sistemas de coleta e tratamento de resíduos sólidos.  

“É preciso fazer com que todo o lixo vá para o local ambientalmente adequado. Se não for por reuso e a reciclagem, que seja um aterro licenciado. Esse é um outro ponto ao qual indústria do plástico precisa ficar atenta.” 

Limpeza (Cleanup): o último “degrau” consiste na remediação quando o plástico chegou ao meio ambiente. Para isso, há dois caminhos: evitar que ele se espalhe – e uma boa solução são as ecobarreiras, estruturas flutuantes instaladas em rios, canais e corpos d’água para evitar que os resíduos cheguem ao mar – e as iniciativas de limpeza dos ambientes costeiros (praias, mangues etc.).  

“Vem daí a importância de as empresas da cadeia do plástico se envolverem para educar a população quanto ao uso consciente, mostrar que os plásticos são bons produtos e que o problema é o uso e o descarte inadequado dos plásticos”

Em resumo, mesmo ainda sem saber como serão pautados os temas, Flávio acredita que são esses os que podem vir a ser discutidos nos dois dias de programação da COP30.  

Na opinião do especialista, caberia à indústria do plástico, por meio de suas entidades representativas, levá-los à conferência para serem discutidos de forma clara, técnica e cientificamente embasada, apontando onde estão os problemas e como se pode solucioná-los. 

Em qual ponto de atenção citados neste conteúdo você acredita que sua indústria poderia colaborar para diminuir as mudanças climáticas

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