A produção brasileira de resina pós-consumo (PCR), ou seja, aquela fabricada a partir de transformados plásticos que retornaram à cadeia, foi de 1,012 milhão de toneladas em 2024.
Já o índice de reciclagem mecânica do plástico (volume reciclado dividido pelo volume gerado) ficou em 21,0%.
É o que aponta o mais recente estudo anual encomendado pelo Movimento Plástico Transforma, iniciativa do PICPlast – parceria entre a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST) e a Braskem, realizado pela consultoria MaxiQuim.
Ligeira recuperação no mercado de reciclagem
Embora os números apontem para uma ligeira recuperação em relação ao ano de 2023, considerado desafiador pelo setor, não foram suficientes para voltar ao patamar de 2022.
- Produção de resina reciclada pós-consumo 2024: 1,012 milhão de toneladas (+7,7 % contra 2023; -8,5% contra 2022)
- Índice de Reciclagem pós-consumo: 21% em 2024; 20,6% em 2023; 25,6% em 2022.
“O cenário se manteve o mesmo”, explica Solange Stumpf, sócia-executiva da MaxiQuim. “A resina reciclada compete diretamente com a resina virgem no mundo todo, e hoje a indústria petroquímica está com excesso de oferta, o que derruba os preços”.
Segundo ela, empresas que ainda não têm como objetivo a utilização maior de material reciclado em seus produtos acabam optando pela resina virgem, mais vantajosa em termos de custo.
A boa notícia é que, apesar desses períodos cíclicos, o Brasil vem avançando na reciclagem de seus plásticos. No acumulado de 2018, quando o estudo foi iniciado, a 2024, a produção de PCR cresceu 33,6%.
Quando a resina reciclada pós-industrial (PIR) entra no cálculo, o avanço foi de 22,9% no período.
O avanço da indústria brasileira de reciclagem de plásticos entre 2018 e 2024 reflete-se na cadeia como um todo:
- Faturamento: R$ 4,006 bilhões (+66,1%)
- Empregos diretos: 20.034 (+7,7%)
- Empresas recicladoras: 656 (–8,4%)
Este último dado aponta para a maior estruturação da indústria de reciclagem, que vem se unindo em unidades maiores e mais eficientes. Prova disso é que a capacidade instalada em 2024 correspondeu a 2,429 milhões de toneladas, quase 2% acima de 2023.
“O nível de finalização vem aumentando, está mais profissional e migrando para empresas médias e grandes”, diz Maurício Jaroski, diretor de Sustentabilidade de MaxiQuim. “Quando o ciclo voltar à normalidade, a indústria de reciclagem estará pronta para atender”.
Origem do material reciclado
Em termos de origem da matéria-prima para a indústria de reciclagem, em 2024 o fornecimento manteve distribuição semelhante à de anos anteriores, com os comerciantes de resíduos (também conhecidos como “sucateiros”) consolidando-se como principal fonte do volume adquirido pelos recicladores.
- Comerciantes de resíduos (sucateiros): 33% (518 mil toneladas)
- Aparas industriais: 23% (335 mil toneladas)
- Beneficiadores (recicladores menores): 19% (299 mil toneladas)
- Empresas de gestão de resíduos: 11% (164,2 mil toneladas)
- Cooperativas de catadores: 10% (159,8 mil toneladas)
- Direto da fonte geradora (sem passar por empresas de gestão de resíduos ou revenda): 2% (26,3 mil toneladas)
- Aterros: 2% (24,9 mil toneladas)
- Catadores: 0,5% (7,8 mil toneladas)
“O volume ofertado pelas cooperativas e catadores certamente é maior do que aparece no estudo, uma vez que muitos deles não fornecem diretamente para a indústria, e sim para os sucateiros e outras fontes”, analisa Jaroski.
Por outro lado, o diretor da MaxiQuim observa que os catadores informais e as cooperativas perderam participação para os sucateiros como um reflexo da baixa remuneração que tem enfraquecido a força de trabalho das cooperativas.
Setores consumidores do plástico reciclado
Na outra ponta da cadeia – os segmentos industriais que consomem a resina PCR – Alimentos e Bebidas ocupa a primeira posição em 2024, respondendo por 16,5% de demanda (167 mil toneladas), seguida por Higiene Pessoal, Cosméticos e Limpeza Doméstica (13%, ou 132 mil toneladas).
A alta demanda desses setores, muitos deles engajados no desenvolvimento de produtos mais sustentáveis, fica evidenciada pelo fato de que 87% da produção de resina PCR em 2024 foi destinada à fabricação de embalagens, sendo 2/3 para embalagens rígidas e 1/3 para flexíveis.
Não à toa, enquanto o índice de reciclagem mecânica para todos os tipos de plástico é de 21%, o de embalagens plásticas alcançou 24,4%.
No ranking de maiores setores consumidores de resina PCR, a Construção Civil ocupa o terceiro lugar (130 mil toneladas), volume considerado estável, mas menor em termos proporcionais na série histórica.
O destaque do estudo fica para a agroindústria (92 mil toneladas), que consumiu 35% a mais em 2024 na comparação com 2023, em função do aumento do PCR em aplicações como plasticultura, lonas, mangueiras e agroquímicos.
“Se compararmos com 2018, percebemos uma inversão de protagonismo: naquele ano, construção civil era o principal destino da resina reciclada, enquanto o segmento de alimentos e bebidas tinha uma participação menor”, lembra Jaroski. “Essa mudança reflete o avanço regulatório e os compromissos de grandes marcas de consumo com a economia circular e o uso de materiais mais sustentáveis”.
Outros importantes segmentos consumidores de resina PCR são:
- Utilidades domésticas: 81 mil toneladas
- Têxtil: 68 mil toneladas
- Automotivo: 67 mil toneladas
- Industrial: 54 mil toneladas
- Eletrônicos e Eletrodomésticos: 54 mil toneladas
Plástico reciclado por tipo e região
Do 1,012 milhão de toneladas de resina PCR produzido no Brasil em 2024, o PET responde por 39% (397 mil toneladas), consolidando-se como o plástico com maior índice de reciclagem mecânica (46,2%).
Em seguida, vêm o PEAD (20%, ou 204 mil toneladas), o PP (18%, 179 mil toneladas) e o PEBD/PELBD (15%, 152 mil toneladas) – cujos índices de reciclagem mecânica correspondem, respectivamente, a 29,2%, 17,2% e 9,6%.
Jaroski destaca que os índices de reciclagem mecânica por tipo de resina são cíclicos. O PET, por exemplo, registava índice de 54,3% em 2018 e o PP, 14,2%.
Em relação às regiões brasileiras, o Sudeste concentra 47% do consumo de resíduos pela indústria e 55,5% da produção nacional de PCR (559 mil toneladas). A região Sul aparece na sequência: 26% do consumo e 26,2% da produção (266 mil toneladas).
Já o Nordeste se consolida como a terceira força produtora de PCR, respondendo por 13,7% do total (139 mil toneladas). Entre as regiões, foi a que mais cresceu – 16,6% em relação a 2023 – o que reflete a expansão de sua capacidade produtiva.
“A matéria-prima precisa estar próxima de onde é processada, porque muitas vezes o frete não compensa”, aponta Jaroski. “O Nordeste vem crescendo porque criou uma unidade de processamento local na região”.
Potência continental
De todo modo, o volume produzido posiciona o Brasil como uma potência continental na reciclagem de plástico. Para efeito de comparação, toda a América Latina reciclou 3,79 milhões de toneladas de plástico em 2023, enquanto a Europa inteira somou 7,1 milhões de toneladas no mesmo ano.
Os consultores da MaxiQuim concordam que, apesar do avanço, o volume de reciclagem de plástico no Brasil poderia ser muito maior.
Para Jaroski, uma demanda maior garante melhores condições para gerar matéria-prima. “Precisamos encontrar mais aplicações de uso e garantir o interesse das empresas para continuar usando o plástico reciclado”.
Solange acrescenta que a indústria carece de apoio e incentivos para poder operar. “Um ambiente regulado ajuda a evolução constante dos índices”, indica. “A indústria brasileira de reciclagem do plástico se equipara tranquilamente às grandes indústrias de transformação”.
Você pode conferir os resultados do Índice de Reciclagem Mecânica de Plásticos Pós-Consumo no Brasil 2025 no site da ABIPLAST.
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