Um polêmico estudo realizado em 2024 pela ONG Center of Climate Integrity, dos Estados Unidos, revelou que o mundo recicla somente 9% do plástico produzido. No Brasil, o índice é de apenas 1,3%.
Segundo especialistas, um dos possíveis fatores para números tão baixos é o fato de o plástico, geralmente, ser misturado com outros materiais no processo de transformação.
Nestes casos, seria necessário separar os componentes antes da reciclagem, o que, muitas vezes, tem um custo elevado e pouco vantajoso para as empresas.
Somado a isso, muitos produtos são feitos para uso único e descartável, desconsiderando a reutilização e contribuindo para a poluição do meio ambiente.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST), o Brasil produziu mais de sete milhões de toneladas de transformados plásticos em 2023. Ainda segundo a entidade, a porcentagem de materiais plásticos que voltaram ao mercado após o consumo é muito superior à do estudo norte-americano e atingiu 25,6%.
Trata-se de um crescimento expressivo na comparação com os 23,4% registrados no ano anterior, o que comprova os esforços que a indústria brasileira do plástico vem empenhando em prol da sustentabilidade.
Reciclagem no mundo
Os principais expoentes mundiais na reciclagem como um todo (não só de plástico), como Áustria, Alemanha e Coreia do Sul, possuem um sistema de coleta seletiva extremamente eficaz que, atrelado a um bom plano de logística, facilita o processo de reciclagem.
Isabela Bonatto, embaixadora do Movimento Circular e mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina, explica em seu artigo “Por que reciclamos tão pouco?” que, no Brasil, menos de 20% da população tem acesso a sistemas de coleta seletiva por falta de planejamento e infraestrutura.
Essa diferença é um dos principais fatores que justificam a disparidade entre nosso país e os outros na questão da reciclagem.
Para se ter uma ideia, na Alemanha, a reciclagem atinge quase 70%, enquanto que aqui, a partir de diferentes fontes, o índice gira entre 4% e 9%.
Até em países com nível de desenvolvimento e renda semelhantes aos do Brasil – Chile, Argentina, África do Sul e outros – a taxa de reciclagem fica na faixa de 16%.
Fórmula de sucesso para a reciclagem
Isabela indica alguns pontos das nações estrangeiras que viabilizam a cultura e a prática da reciclagem.
- A Áustria implementou a educação ambiental desde os primeiros anos de ensino. Além disso, a infraestrutura faz com que centros de triagem consigam reciclar até 80% de materiais como papel e vidro.
- Países com bons índices de reciclagem constantemente envolvem a população por meio de campanhas de educação ambiental. Na Alemanha, vigora o sistema de “Depósito de Embalagens” (Pfand), em que os consumidores pagam um depósito ao comprar produtos em garrafas ou latas, e valor é devolvido quando o recipiente é retornado aos pontos de coleta.
- Na Coreia, o sistema “Pague Pelo Que Descartar” (Pay-As-You-Throw) gera multa aos cidadãos pela quantidade de lixo não reciclável gerada.
Por fim, nesses países as empresas recebem apoio financeiro de longo prazo o que, somado aos pontos acima e a um bom planejamento, colaboram para a criação de uma cultura mais sustentável e responsável.
E no Brasil?
Isabela, que também possui MBA em Gestão Ambiental, aponta que o Brasil encara uma série de desafios de natureza estrutural, geográfica e cultural que dificultam a implementação de sistemas semelhantes aos dos países que mais reciclam.
“A falta de investimento adequado na área ambiental e de priorização política são alguns dos principais entraves. A reciclagem ainda não é tratada como uma prioridade pelos governantes, e isso se reflete na ausência de políticas públicas que sejam efetivamente implementadas, monitoradas e fiscalizadas.”
A embaixadora do Movimento Circular elenca outros desafios que impedem uma melhora no índice de reciclagem no Brasil. Entre eles:
- Participação limitada do setor privado;
- Mercado pouco atrativo para investidores;
- Carência de uma educação ambiental efetiva; e
- Disparidade econômica e geográfica entre as regiões.
Custos elevados
Isabela cita que a coleta seletiva, apesar de eficiente, ainda é cara. No Brasil, isso se dá principalmente pelos desafios logísticos e altos custos de transporte causados pela concentração dos polos industriais.
Aliado a isso, os centros de triagem dispõem de tecnologias antigas e obsoletas, assim como de boa parte de trabalho manual, que geram mais custo e demandam mais tempo.
Outro ponto mencionado por ela é a falta de materiais que torne a coleta seletiva vantajosa. Esse fator está relacionado com a baixa adesão da população em geral, diminuindo a eficiência do processo e comprometendo sua viabilidade econômica.
Para superar esses desafios, Isabela sugere algumas soluções:
- Modernizar sistemas de coleta e processamento;
- Incentivar a colaboração da população por meio de campanhas educativas;
- Criar redes integradas de transporte e tratamento de resíduos; e
- Descentralizar polos de reciclagem e criar outros regionais, facilitando a locomoção e transporte.
Tecnologia e reciclagem
Isabela reforça que a tecnologia pode ser uma grande aliada das empresas de reciclagem, independentemente do seu porte.
“Eficiência e sustentabilidade andam de mãos dadas”, diz. “Por exemplo, poder contar com equipamentos de triagem avançados que utilizam sensores e robôs para separar os materiais recicláveis com precisão impressionante. Esses sistemas não apenas reduzem os custos, mas também aumentam significativamente a velocidade do processo”.
Ela cita ainda as plataformas digitais, que conseguem mapear fluxos e conectar geradores aos recicladores, estabelecendo laços que contribuem para a reciclagem.
Hoje já existem aplicativos que indicam, por exemplo, locais para o descarte adequado de resíduos.
Uma inovação simples que também traz bons resultados envolve o design de produtos e embalagens pensados para depois do seu uso, facilitando sua desmontagem, reuso e reciclagem.
“Essas tecnologias mostram que, com criatividade e investimento, é possível transformar desafios em soluções, tornando a reciclagem mais acessível, eficiente e impactante.”
Nova lei brasileira
No dia 6 de janeiro deste ano, o presidente Lula sancionou a lei 15.088, que proíbe a importação de resíduos sólidos, incluindo papel e seus derivados, plástico, vidro e metal.
A iniciativa, além de promover o incentivo para reciclar os produtos fabricados no próprio país, pode aumentar a demanda por cooperativas, gerando mais oportunidades de emprego e renda.
Da mesma maneira, a nova legislação deve estimular o investimento em estrutura e tecnologia para reciclagem, a fim de atender o crescimento do setor e fortalecer a independência nacional em relação aos produtos estrangeiros.
“Resumindo, a Lei 15.088/2025 representa uma grande oportunidade para impulsionar e transformar o setor de reciclagem no Brasil. Com planejamento e execução adequada, ela pode consolidar uma cadeia de valor mais forte, autônoma e ambientalmente sustentável”, avalia Isabela.
Você sabia que a Plástico Brasil contará com um projeto inédito de Economia Circular? Faça seu credenciamento gratuito e venha conhecer essa e outras iniciativas sustentáveis da indústria do plástico!