Você acompanhou aqui a primeira parte do 15º Seminário Competitividade, uma iniciativa da ABIPLAST, SINDIPLAST-SP e Plásticos em Revista, com apoio institucional da feira Plástico Brasil, realizado em São Paulo no dia 18 de setembro.
O encontro deste ano, que reuniu lideranças, especialistas e empresários, teve como tema Transformação – Mercado e Indústria Redesenhados pela Guerra Comercial e Inteligência Artificial.
Valorização da indústria de transformação
Responsável por abrir a segunda parte do seminário, Leo de Castro, CEO da indústria de embalagens plásticas Fibrasa, destacou a relevância da indústria de transformação na economia brasileira.
Segundo os dados apresentados, embora esse setor represente apenas 14,4% do PIB, ele responder por:
- 47,6% das exportações de bens e serviços;
- 62,4% do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento;
- 25,6% da arrecadação dos tributos federais; e
- 17,2% da arrecadação previdenciária
“O Brasil precisa decidir, como nação, se quer ser um país industrializado ou não”, disse, ressaltando que essa opção deve ser uma política de Estado, não do governo de ocasião.
“O que falta é a indústria se ‘vender’ melhor para a sociedade e conquistar uma visão tão positiva quanto a do agronegócio, por exemplo.”
Segundo Castro, o Brasil está se “armando” para responder aos desafios do contexto global, como as tensões geopolíticas e a necessidade da transição para uma indústria mais moderna e sustentável.
Como exemplo, citou o plano Nova Indústria Brasil (NIB), lançada pelo Governo Federal em janeiro de 2024 e que se posiciona como uma política moderna, viável e estruturada, criando incentivos para a neoindustrialização de base verde.
Castro listou os programas de financiamento e investimentos da NIB:
- P+P (o “Plano Safra” da Indústria): R$ 548 bilhões
- B+P (micro e pequenas empresas): R$ 2 bilhões
- Depreciação superacelerada: R$ 3,4 bilhões
- Mover (indústria automotiva): R$ 19,3 bilhões
- Letra de Crédito de Desenvolvimento (LCD): semelhante às já existentes para o setor imobiliário (LCI) e agro (LCA)
- Margem de preferência para compras públicas
Com isso, o CEO da Fibrasa demonstrou que existem recursos públicos, com juros abaixo das taxas de mercado, à disposição para os empresários. Basta, então, estruturar-se para acessá-los.
Explicou, também, como a indústria do plástico se relaciona com as diferentes Missões da NIB, como agricultura (embalagens, sistemas de irrigação), saúde (seringas, equipamentos descartáveis), automotiva (componentes, revestimentos) e as demais.
“É preciso renovar, senão vamos ficar ancorados num mundo de oportunidades”, concluiu.
Petroquímicas e transformadores
Antes do início do debate moderado pelo presidente do Conselho de Administração da ABIPLAST, José Ricardo Roriz Coelho, o fundador e presidente da Videolar-Innova, Lirio Albino Parisotto, falou sobre o cenário atual das petroquímicas, principais fornecedoras de matéria-prima para os transformadores.
Segundo ele, é urgente que haja investimento para garantir o futuro da indústria petroquímica, que se encontra obsoleta e estagnada.
Parisotto falou também da concentração no setor de plásticos: “Hoje, os 20% maiores transformadores representam 80% do mercado”.
Já durante o debate, Carlos Fadigas, fundador da CF Partners, empresa focada em operações de fusões e aquisições, elencou o cenário global que impõe desafios para a indústria:
- Tendência de manutenção de juros altos;
- Defesa de suas próprias indústrias pelos países;
- Busca de incentivos fiscais onde estiverem; e
- Criação de empresas maiores (aquisições e associação) para ganhar competitividade.
Para Parisotto, a China se mantém como uma potência na produção de resinas, uma vez que tem a capacidade em erguer plantas fabris em metade do tempo e com muito menos recursos do que os demais países. A Índia, porém, vem ameaçando essa hegemonia.
Leo de Castro, da Fibrasa, lembrou que é muito difícil um transformador ser produtivo se seu fornecedor não for competitivo.
“Para industrializar o Brasil, é preciso, primeiro, estruturar a indústria de base”, apontou.
Impactos das tarifas norte-americanas
Encaminhando para o final do 15º Seminário Competitividade, Verônica Lazarini Cardoso, diretora na área de Economia do Direito da LCA Consultoria Econômica, abordou os impactos na indústria brasileira causados pelo protecionismo e incertezas na economia internacional.
Ela apontou que a lista de produtos isentos da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos às exportações brasileiras atenuou o impacto na economia, mas novas tarifas podem representar um golpe mais expressivo.
Para se ter uma ideia, a tarifa média aplicada aos produtos brasileiros saltou de 1,9% para 32,2%.
“A média das nossas tarifas aos produtos dos Estados Unidos não chega a 2%. Essa tarifa deles para nós, de 32%, provoca uma contenção bastante relevante.”
Num primeiro momento, em julho, muitos importadores americanos anteciparam suas compras para fazer estoque, explicou Verônica. Porém, em agosto, primeiro mês após as mudanças, já foi possível sentir o impacto: as exportações para os Estados Unidos recuaram 19%.
“A agenda de exportações brasileiras é muito relevante, e nos próximos meses vamos ver os esforços para novos mercados florescerem.”
Para ela, o momento que os Estados Unidos atravessam é de uma ruptura com a ordem mundial, e essa postura traz como consequências para o Brasil:
- A abertura de mercado e troca de parceiros comerciais;
- A economia voltar-se para si mesma, a fim de não ficar dependente de fornecedores e clientes externos.
Mercado global de resinas
Na última palestra, conduzida por Fábio Santos, diretor de Finanças e Planejamento Estratégico da Braskem na América do Sul, o tema das matérias-primas voltou à pauta sob a perspectiva do excedente global de resinas e da transformação da petroquímica no Brasil.
“O protecionismo que estamos verificando hoje deve provocar um freio na economia global”, previu, dando como exemplo o crescimento da China, que depois de muitos anos deve ficar abaixo dos 5%. “E isso impacta no fornecimento de resinas”.
Segundo Santos, as perspectivas para a indústria petroquímica global continuam desafiadoras, considerando o aumento da capacidade previsto até 2030 e o aumento da demanda.
Neste cenário, a China deve continuar perseguindo a meta de autossuficiência petroquímica.
Em relação ao Brasil, o diretor destacou que a indústria química é muito pujante. “É a quarta maior do mundo, e devemos lembrar que temos maior base de matriz energética renovável”.
Por outro lado, ele apontou que essa indústria, que é base da cadeia produtiva do país, vem enfrentando desafios estruturais que pressionam sua competitividade global.
Como exemplo, citou que a indústria química brasileira opera atualmente com maior nível de ociosidade de sua história, desafiada pelos custos e competitividade global.
Por fim, Santos citou as perspectivas:
Positivas: Recuperação da economia chinesa e diminuição do risco geopolítico.
Riscos: Escalada de disputas comerciais e menor crescimento da economia global.
Sobre os desafios e pontos de atenção para o setor, saiba mais sobre a relação da indústria de plásticos com a COP30.
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