Pesquisa realizada pela Opinion Box em 2021 confirmou que os consumidores estão cada vez mais preocupados com os compromissos sociais das empresas, e que marcas que adotam esse comprometimento se sobressaem na preferência deles.
Segundo o levantamento, 62% levam o fator sustentabilidade em consideração no momento de decisão de compra, sendo que 26% levam muito em consideração.
Em outro estudo do instituto, no ano passado, 75% dos consumidores afirmaram que empresas que possuem práticas sustentáveis têm mais chance de conquistá-los como clientes.
Este tipo de cuidado remete na maioria das vezes aos bens de consumo não-duráveis (alimentos, produtos de higiene e limpeza, vestuário), mas a tendência vem sendo impulsionada também nos bens de consumo duráveis.
Isso fica ainda mais evidente nos produtos eletrônicos – refrigeradores, lavadoras, televisores, eletroportáteis e outros –, o que tem estimulado as empresas do setor em investir no desenvolvimento de produtos mais sustentáveis.
Metas de sustentabilidade
Embora a indústria de eletrônicos seja responsável apenas por 1,7% do consumo de transformados plásticos produzidos no Brasil, qualquer iniciativa para substituir a resina virgem pela reciclada provoca grandes e positivos impactos no meio ambiente.
Uma indústria que vem se destacando neste sentido é a Electrolux, fabricante de eletrodomésticos presente em 150 países e com mais de 60 milhões de produtos vendidos anualmente.
Desde 2015, a empresa mantém uma estratégia global, denominada For The Better 2030, baseada em zerar a emissão de carbono e tornar os negócios circulares.
Em 2019, a Electrolux formalizou, entre suas metas de sustentabilidade, melhorar as entregas em produtos, voltadas para o aumento da eficiência hídrica e energética, circularidade e redução do uso de materiais nocivos ao meio ambiente.
“Temos metas públicas com KPIs [indicadores de desempenho] claros dentro desse framework, incluindo ter 50% de plástico reciclado em nossos produtos até 2030. Sabemos que o aço e o plástico são nossas matérias-primas com mais impacto no meio ambiente e, para apoiar as ações de atingimento das metas, realizamos análise do ciclo de vida de nossos produtos”, afirma João Zeni, diretor de Sustentabilidade do Electrolux Group América Latina.
50% de PCR na fabricação
Atualmente, a Electrolux consome 4.000 toneladas de PCR (plástico reciclado pós-consumo) por ano em todas suas categorias de produtos.
Segundo o diretor, esta estratégia pode ser avaliada por dois prismas. Primeiro, em termos absolutos de utilização de PCR, a linha Fabric Care (máquinas de lavar) é a que tem mais demanda, em razão da penetração que a marca detém no mercado brasileiro.
Já em termos relativos, ou seja, o percentual de resina pós-consumo em um determinado eletrônico, a predominância é da linha Floor Care (lavadoras de alta pressão e aspiradores de pó), na qual alguns produtos atingem mais de 50% de PCR na fabricação.
“Há um trabalho forte com as áreas de engenharia e design durante a concepção do produto para encontrarmos soluções recicladas que mantenham a qualidade, assim como usar o plástico reciclado a favor da estética, pois em alguns casos a coloração do plástico pode variar e, por exemplo, podemos usar isso a nosso favor na hora de conceber o produto”, explica Zeni.
Ele conta que os estudos para utilização do PCR em novos produtos sempre são iniciados em peças não estéticas e estruturais.
Em parceria com os fornecedores, a empresa avança os estudos para aplicação do plástico reciclado em outras peças que demandam desenvolvimento mais avançado e que, no futuro, possam ocupar partes externas e mais estéticas.
Desafio do abastecimento
Sem contar os esforços e investimentos no desenvolvimento destas partes e peças, há também outro desafio, o do abastecimento.
Zeni confirma que existe dificuldade em conseguir PS (poliestireno) e ABS (acrilonitrila-butadieno-estireno) que possam atender as necessidades estéticas dos produtos, além do preço, que pode encarecer o eletrodoméstico.
Ele reforça que os times de engenharia e design se empenham não só na melhoria dos produtos para incluir mais materiais reciclados, mas também no mapeamento de fornecedores que aprimorem soluções para usos em maior escala.
“A cadeia do reciclado como um todo necessita de mais robustez, para garantir volume, qualidade e, consequentemente, preço. A variabilidade da composição do material reciclado por lote torna difícil a estabilização do processo industrial, além da baixa estabilidade na coloração do composto final, principalmente para composições de coloração clara”, diz.
Zeni acredita que a própria reciclagem de eletrodomésticos em fim de vida útil pode ajudar a tornar mais acessível a matéria-prima reciclada: “O consumidor aprender a fazer o descarte responsável do que tem em casa é fundamental para iniciar um ciclo de reciclagem correto”.
Ele defende também que ações governamentais que incentivem a cadeia como um todo podem auxiliar diretamente no aumento do consumo de produtos mais sustentáveis, contribuindo para a circularidade da cadeia do plástico.
Se sua indústria fabrica produtos eletrônicos, conte quais os desafios para aumentar a utilização de PCR.