Implantação deve considerar diversidade de processos, complexidade das formulações, necessidade de inovação e a crescente demanda por sustentabilidade
Em um ambiente de negócios cada vez mais competitivo, priorizar a eficiência, produtividade, atendimento às regulamentações e satisfação do cliente podem representar um grande diferencial.
O principal instrumento para garantir esses quesitos é a implantação de um Sistema de Gestão de Qualidade (SGQ).
Muito além da ISO 9001
Bastante consolidada, a ISO 9001 é uma das mais conhecidas normas que garantem e atestam a gestão de qualidade, mas não só.
Lara Gallego, especialista de Laboratório da SGS, associado à Associação Brasileira de Avaliação da Conformidade (Abrac), elenca algumas das mais relevantes:
ISO 22000 – Gestão de Segurança de Alimentos
Voltada para empresas que atuam na cadeia alimentar, estabelece um sistema de gestão para garantir a segurança dos alimentos, abrangendo desde a produção primária até o consumo final. Combina elementos da ISO 9001 com o sistema HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Points).
ISO 17025 – Requisitos Gerais para a Competência de Laboratórios de Ensaio e Calibração
É aplicável a laboratórios que realizam testes e/ou calibrações. Estabelece critérios de competência técnica e garante que os laboratórios estão operando com qualidade e fornecendo resultados confiáveis.
ISO 31000 – Gestão de Riscos
Fornece princípios e diretrizes para o gerenciamento de riscos, permitindo que as organizações identifiquem, avaliem e tratem riscos de forma eficaz, contribuindo para a tomada de decisões informadas e a melhoria contínua dos processos.
Gestão de Qualidade na indústria do plástico
Entre os muitos setores consumidores de resinas plásticos, alguns são considerados sensíveis, como embalagens para produtos alimentícios e médico-hospitalares.
Segundo Lara, que tem mestrado em Química Analítica e acumula mais de dez anos de experiência em laboratórios com ênfase em estudos e testes de validação, os principais pontos de atenção nesses casos incluem conformidade com regulamentações específicas, segurança dos materiais, rastreabilidade, controle de processos e garantia de que os produtos atendam aos requisitos de qualidade dos clientes e das normas vigentes.
No setor alimentício, por exemplo, o principal ponto de atenção, é garantir que as embalagens são seguras para contato com alimentos, não liberando substâncias tóxicas ou prejudiciais.
Assim, é crucial seguir as regulamentações vigentes de órgãos regulamentadores, como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para o mercado interno, e internacionais – caso da FDA (nos Estados Unidos) e EFSA (na Europa).
Já no setor médico-hospitalar, ela aponta como principal ponto de atenção a garantia da qualidade de produtos como seringas, tubos e outros dispositivos, que devem ser esterilizados e seguros para uso, sem riscos de contaminação.
“Implementar normas dentro de um sistema de gestão de qualidade integrado como a ISO 9001, ISO 13485 e ISO 22000 permite à indústria do plástico operar com altos níveis de controle, segurança e conformidade, minimizando riscos e atendendo às necessidades tanto dos consumidores quanto dos reguladores”, completa.
Particularidades
A especialista enumera algumas das particularidades da indústria do plástico que influenciam a implantação de um Sistema de Gestão de Qualidade, tais como:
- Controle de matérias-primas;
- Controle de parâmetros de processo;
- Formulações personalizadas;
- Gestão de resíduos; e
- Controles de qualidade e conformidade com as normas regulamentadoras.
Para ela, essas particularidades são moldadas por fatores como a diversidade de aplicações dos plásticos, as exigências regulatórias rigorosas em determinados setores e os desafios técnicos associados à produção e transformação de materiais plásticos.
“A implantação de um sistema de gestão de qualidade na indústria do plástico requer uma abordagem que considere a diversidade de processos, a complexidade das formulações, a necessidade de inovação e a crescente demanda por sustentabilidade”, completa.
Ela acrescenta que adaptar os controles de qualidade para lidar com essas especificidades é crucial para garantir que os produtos atendam aos padrões de desempenho, segurança e conformidade exigidos pelos mercados e regulamentações.
SGQ e Sustentabilidade
Um Sistema de Gestão de Qualidade é um importante aliado numa das questões mais sensíveis para a indústria do plástico, a sustentabilidade. Ela deve ser integrada como uma das prioridades estratégicas das empresas, pois se trata não só de uma conformidade regulatória, mas também da reputação no mercado e da aceitação dos consumidores.
Para manter a atividade sustentável, Lara destaca alguns controles aos quais a indústria do plástico deve dar especial atenção:
Seleção de materiais sustentáveis: adotar materiais alternativos com menor impacto ambiental, como bioplásticos, que são biodegradáveis e compostáveis;
Controle de resíduos de produção: implementar sistemas para monitorar e reduzir os resíduos gerados durante o processo de fabricação, incluindo reciclagem interna de aparas e a minimização de refugos;
Utilização de Energias Renováveis: sempre que possível, adotar fontes de energia renovável, como solar ou eólica, para alimentar as operações;
Reciclagem e Reuso da Água: implementar sistemas para o reuso e reciclagem de água dentro dos processos produtivos, minimizando o consumo e o descarte de água industrial;
Tratamento de Efluentes: garantir que todos os efluentes líquidos sejam devidamente tratados antes do descarte, evitando a contaminação de corpos d’água; e
Cultura de Sustentabilidade: promover uma cultura corporativa que valorize e incentive práticas sustentáveis em todos os níveis da organização.
“Integrar a sustentabilidade no sistema de gestão de qualidade da indústria do plástico não é apenas uma prática recomendada, mas uma necessidade crescente” alerta Lara.
“Todos os controles citados ajudam a empresa a não apenas atender às expectativas regulatórias e de mercado, mas também a liderar no desenvolvimento de soluções plásticas que minimizem o impacto ambiental.”
Desafios
Para a grande maioria das indústrias de transformação do plástico – 79,7% delas são de micro e pequeno porte, segundo o mais recente perfil elaborado pela Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) – as limitações de recursos, falta de conhecimento e expertise em qualidade, resistência à mudança e monitoramentos de melhoria contínua podem representar desafios à implantação de um sistema de gestão de qualidade.
No entanto, assegura Lara, esses desafios podem ser superados com estratégias adequadas e uma abordagem pragmática. “A chave está na implementação progressiva, focada nas áreas mais críticas e no engajamento de toda a organização no processo”, orienta.
Assim, apesar das dificuldades iniciais, essas empresas não só melhoram a qualidade de seus produtos, como também aumentam sua competitividade no mercado.
Se sua indústria já implantou um Sistema de Gestão de Qualidade, comente quais foram os principais desafios e os benefícios alcançados.
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