Aumentar o índice de reciclagem é um dos grandes desafios da indústria do plástico e foco de atenção constante de produtores de matérias-primas, transformadores e brand owners

O Brasil é o oitavo país que mais gera resíduos plásticos no mundo, de acordo com uma pesquisa da Universidade de Leeds, da Inglaterra. São quase 1,5 milhão de toneladas por ano. 

Apesar disso, nosso país recicla pouco. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), apenas 4% dos resíduos sólidos voltam para a cadeia produtiva.  

Empresas e organizações da sociedade civil encontraram nas parcerias e alianças um método para ampliar a reciclagem no país.  

Para Flávio Ribeiro, embaixador do Movimento Circular e professor de Economia Circular, Logística Reversa e Regulação Ambiental Empresarial, incluir diversas áreas da sociedade na economia circular é de grande importância. 

“É fundamental entender que, na economia circular, a gente precisa trabalhar não só nas cadeias de valor, mas nas redes de valor circular. Você amplia aquelas cadeias tradicionais onde você tem fornecedores e clientes das empresas. Se incluem, por exemplo, as empresas, as cooperativas de catadores e os municípios. Isso é fundamental para que a gente tenha maiores e melhores fluxos de materiais.” 

Parcerias estratégicas para reciclar 

Um bom exemplo é a parceria anunciada em outubro de 2024 entre a Dow, empresa líder em ciência dos materiais, e a Ambipar, líder mundial em soluções ambientais, que busca encontrar novas maneiras de tratar os materiais após seu consumo na região da América Latina, transformando-os em novos produtos.  

Até o ano 2030, a aliança visa a aumentar em trinta vezes a reciclagem de polietileno no Brasil, saindo de 2 mil toneladas para 60 mil. 

“Isso é importante para que a gente tenha segurança de investimento e segurança jurídica para trabalhar. Então, quando essas parcerias existem, você fortalece e favorece a atuação de cada uma dessas entidades mutuamente”, comenta Flávio, que também é especialista em Gestão e Tecnologias Ambientais e Análise Pluridisciplinar do Estado do Mundo. 

Outra parceria de destaque é do Instituto Recicleiros com as ONGs Delterra e Espaço Urbano, que unem esforços, testam novas possibilidades e estimulam uma mudança de comportamento da população em prol da reciclagem. 

O embaixador do Movimento Circular ressalta mais algumas uniões que promovem e amplificam a reciclagem: 

  • Catadores: as cooperativas de catadores são responsáveis pela maior parte da separação de materiais para reciclagem, interagindo tanto com a população quantos com os municípios.
  • Prefeituras: estimulam o processo de compostagem (reciclagem do lixo orgânico) em sacolões, feiras e até indústrias. Com isso, os resíduos se tornam adubo e são utilizados como fertilizantes para regenerar o solo. 
  • Aterros: alguns aterros, quando recebem material orgânico, produzem o biometano, uma fonte energética com grande potencial. Algumas empresas também já aderiram a isso, utilizando-o como combustível. 

Desafios na parceria ideal 

Por mais que essas medidas sejam amplamente aplicadas, ainda existem muitos desafios para serem superados.  

Na avaliação de Flávio, o principal deles é encontrar os parceiros para firmar uma aliança que atenda às necessidades e aos objetivos da empresa, mesmo que existam aplicativos e softwares que facilitam a busca por um parceiro “ideal”.  

Outro desafio que é transformar a parceria, de fato, em um negócio.  

“Em muitos casos, as empresas estão acostumadas a trabalhar com fornecedores mais habituais. Só que, no caso da economia circular, a coisa é muito nova. Quem fornece e quem usa não está necessariamente preparado”, cita. 

Flávio menciona algumas dificuldades de tornar esse processo viável e sustentável economicamente para as próprias empresas, que vão desde precificação até capacidade de produção.  

Para ele, o maior desafio e engloba os já citados: a coragem para inovar. 

É preciso perder o medo de testar o novo. As pessoas têm receio da mudança. O jeito de superar é tendo coragem de mudar. É um desafio que a gente vai ter que vencer e muitas empresas já estão conseguindo.” 

Discussão na ONU 

A redução do volume de resíduos plásticos na natureza é uma preocupação global. O tema esteve no centro de um debate recente, quando, no final de 2024, aconteceu a quinta reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) com relação ao plástico.  

Entre as propostas, estão países que buscam limitar a produção do material, enquanto outros visam a buscar novas formas de reduzir o volume descartado por meio da reciclagem. 

O encontro ocorreu em Busan, na Coreia do Sul, e terminou sem consenso. Com isso, novas reuniões serão realizadas em 2025. Para Flávio, a melhor solução é buscar um tratado que viabilize os dois caminhos. 

“Eu vejo que um tratado global dos plásticos precisa caminhar simultaneamente em dois sentidos. Num primeiro sentido, que a gente chama de streaming, rever como a sociedade produz, usa e descarta o plástico. Por fim, sobre aquele plástico que foi descartado, a gente entra no segundo ponto: como eu faço para que ele não chegue ao meio ambiente? Então, a gente está falando aqui de reuso, de reciclagem, de outras estratégias.” 

O professor considera que a dificuldade de consenso é normal, visto que são países com características econômicas muito diferentes, além do fato de a discussão envolver interesses políticos que ultrapassam a questão ambiental. 

Ele opina que a solução momentânea é propor um texto mais genérico e abrangente, que permita diversas possibilidades, até que um acordo seja encontrado. 

Ainda sobre o mercado, saiba como encontrar máquinas para reciclagem do plástico