Um alerta que atribui o surgimento do câncer ao uso do plástico tem circulado nas redes sociais. A impactante mensagem afirma que a Associação Americana de Médicos encontrou a resposta para as causas da doença.
Segundo a pesquisa, o plástico produziria elementos químicos ao entrar em contato com o calor ou com alguma superfície quente e, em decorrência disso, provocaria 52 tipos diferentes de câncer.
No entanto, essa “corrente” é falsa, pelo menos até o presente momento.
Embora um grande número de estudos sobre os efeitos do plástico na saúde humana tenha sido publicado, há ainda muitas discrepâncias entres seus resultados, tanto nos efeitos observados como nos níveis em que eles ocorrem.
Mas o que é verdade e o que é mentira neste contexto? Conversamos com especialistas na área para ter as respostas.
Confira!
Plástico: elemento primordial para a sociedade
Resistente, inerte e leve, o plástico é um dos produtos que oferece inúmeros benefícios para empresas, consumidores e demais elos da sociedade.
Tudo isso está associado a uma alternativa de baixo custo, versátil e fácil de usar, sendo ideal para substituir vários materiais que têm profundo impacto no meio ambiente.
Sim, entre as opções disponíveis, o plástico é menos agressivo ao meio ambiente, principalmente por utilizar poucos recursos naturais. É também produzido, em grande parte, de subprodutos da indústria petroquímica, reduzindo o desperdício de matéria-prima e de energia utilizada para sua extração.
Todos esses fatores contribuíram para a popularização de bens de consumo, tornando os produtos mais acessíveis e contribuindo para o desenvolvimento de toda a sociedade.
Porém, muitas notícias e “alertas” postados em redes sociais mancham a imagem do plástico, comprometendo sua imagem. Mas suas informações são realmente verdadeiras?
Afinal, o plástico libera substâncias cancerígenas?
Na literatura mundial, não foi encontrado nenhuma referência que crave o plástico como causador de diferentes tipos de câncer ou que afirme que, ao entrar em contato com o calor, gere algum resíduo prejudicial à saúde.
Assim, não existe nenhum estudo que conclua ou nenhum nível de evidência que associe o uso do plástico à doença.
Especulações como essas são recorrentes, principalmente as que relacionam o Bisfenol A (BPA). Esse é um polímero usado na produção de alguns tipos de plástico. No entanto, vale reforçar que não existe nenhum estudo científico que associe o uso ou aquecimento do plástico ao câncer.
Mesmo que houvesse a liberação de alguma substância, seria mínima e não causaria nenhum dano à saúde do consumidor.
Ou seja, o plástico é extremamente seguro quanto a sua participação na formação do câncer, sendo inerte e sem nenhum estudo que comprove seus malefícios quanto à presença do câncer.
Mas Katia Soares da Poça, pesquisadora do Instituto Nacional de Câncer (INCA), destaca que isso não significa que o plástico não possa causar outros problemas à saúde humana ou mesmo ao meio ambiente.
“Os plásticos são classificados em 7 grandes grupos, no qual o aquecimento em determinadas condições, por exemplo em reciclagens, ou mesmo em outras condições permite a liberação de diferentes toxinas.”
Entenda a discussão sobre o Bisfenol A (BPA)
A substância denominada popularmente como bisfenol A (BPA) é utilizada, principalmente, na produção de policarbonato e em vernizes epoxi.
O policarbonato é um polímero que apresenta alta transparência e resistência térmica e mecânica, sendo utilizado na fabricação de mamadeiras e copos infantis (chuquinhas).
A polêmica sobre o BPA surgiu a partir de estudos recentes que levantaram dúvidas quanto à segurança do uso deste plástico, abrindo discussões sobre o assunto em diversos países.
Em 2010 a OMS realizou uma reunião com especialistas de vários países para discutir o assunto e a conclusão do relatório destaca os seguintes pontos:
- A exposição ao BPA é muito inferior aos níveis que causariam preocupações, não incorrendo em problemas de saúde;
- Este material somente apresenta problemas em doses elevadas, quando apresentam;
- Alguns poucos estudos mostraram associação de desfechos emergentes (como desenvolvimento neurológico específico ao sexo, ansiedade, mudanças pré-neoplásicas nas glândulas mamárias e próstata de ratos e parâmetros visuais do esperma) com doses mais baixas de BPA.
Dessa forma, ainda é prematuro afirmar uma estimativa realista do risco à saúde humana, mas é fundamental continuar com os estudos, para que seus resultados reduzam as incertezas existentes.
Por precaução, alguns países, inclusive o Brasil, optaram por proibir a importação e fabricação de mamadeiras que contenham Bisfenol A, considerando a maior exposição e susceptibilidade dos indivíduos usuários deste produto.
No Brasil, essa proibição está vigente desde janeiro de 2012 e foi feita por meio da Resolução RDC n. 41/2011. Assim, mamadeiras em policarbonato não podem ser comercializadas no Brasil.
Para as demais aplicações, o BPA ainda é permitido, mas a legislação estabelece limite máximo de migração específica desta substância para o alimento que foi definido com base nos resultados de estudos toxicológicos.
“Na toxicologia, respeitar os limites de segurança como limites máximos de dose/concentração ou mesmo tempo de exposição, diminui a chance de aparecimento de efeitos deletérios ao organismo exposto”, complementa a pesquisadora do INCA.
Regras e regulamentações garantem a segurança no uso do plástico
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o órgão responsável pela regularização, controle e fiscalização dos produtos e serviços que envolvam risco à saúde pública, incluindo as embalagens plásticas para alimentos.
Neste contexto, Simone Carvalho, membro do grupo técnico do Movimento Plástico Transforma, destaca que, segundo a legislação, as propriedades do plástico dependem de sua composição química e da presença de aditivos na formulação, incluindo aqueles que podem conferir certa toxicidade.
“As legislações vigentes no Brasil, assim como em outros países, estabelecem limites seguros para a presença de substâncias químicas nos produtos plásticos. Essas regulamentações têm como objetivo proteger a saúde humana e o meio ambiente, garantindo que os produtos plásticos sejam fabricados de acordo com padrões de segurança estabelecidos.”
Plásticos são atóxicos, mas é essencial seguir a legislação vigente
Os plásticos, na grande maioria, são materiais atóxicos e totalmente seguros para a saúde humana. Mas é claro que, dependendo da funcionalidade, alguns materiais podem ser aditivados, e tais aditivos podem tornar o contato com alimentos e bebidas, por exemplo, limitado.
Porém todo e qualquer material, independentemente se é plástico, papel, vidro ou metal, deve seguir regulamentações específicas da Anvisa e outras agências para ser considerado seguro e atóxico em contato com alimentos e bebidas.
Simone Carvalho explica que existem regulamentações específicas que estabelecem os limites seguros de exposição a certas substâncias para todos os tipos de materiais utilizados na fabricação de embalagens para contato com alimentos e bebidas, inclusive os plásticos.
“Para essa produção é fundamental considerar a preservação, usabilidade e condições de uso previstas para cada tipo de conteúdo e embalagem. Também é importante cumprir os requisitos das listas de substâncias e limites permitidos na formulação do material”, recomenda.
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