Infelizmente, ainda prevalece um certo senso comum de que o plástico é o grande vilão do meio ambiente. Porém, muitas pessoas que “apontam o dedo” para a indústria não fazem a parte que lhes cabe. Atitudes simples do cotidiano poderiam reduzir, e muito, a presença do plástico – e de outras matérias-primas – na Natureza.
É aí que entram os conceitos de consumo consciente e descarte correto. Para Miguel Bahiense, Engenheiro Químico e consultor na área de Plásticos, estes conceitos são a essência do processo de reaproveitamento e reciclagem, e devem envolver todos os atores da sociedade.
“Mas sem dúvida, ali na ponta, o ator final é o consumidor. Cabe a ele a criação de uma consciência que, se não existir, traz um impacto significativo para o meio ambiente.”
Miguel cita alguns exemplos das atitudes simples que ilustram o consumo consciente:
- Ao frequentar um bar, o consumidor pode utilizar o mesmo canudo ou misturador durante toda sua permanência, independentemente da quantidade e da variedade de bebidas consumidas;
- Na churrascaria, o cliente pode manter o prato para a salada e as carnes. “Veja, nem estamos falando de plástico, porque o consumo consciente aqui passa pela lavagem desses pratos, e ao diminuir o uso, o estabelecimento consome menos água”, explica.
- No ambiente de trabalho, o funcionário pode utilizar o mesmo copo descartável para beber água ou café várias vezes ao longo do dia, em vez de descartá-lo a cada novo uso.
Ao mesmo tempo, por mais que se reduza a utilização destes itens, resta a necessidade de descartá-los corretamente. Nos estabelecimentos citados, por exemplo, o consumidor deve esperar e até mesmo procurar se informar se eles fazem a destinação adequada para a reciclagem destes produtos. E dentro de casa, é fundamental que as pessoas mantenham a mesma preocupação.
Miguel destaca que o descarte correto passa por outras ações igualmente importantes, como a limpeza dos materiais encaminhados à reciclagem: “Minha consciência me indica que no centro de triagem estão pessoas, e que se este produto não estiver limpo pode atrair vetores de doenças”, explica. Se esta higienização for feita com água de reuso, ainda melhor!
“Estes dois conceitos, o consumo consciente e o descarte correto, precisam estar muito fortes na nossa cabeça para que a gente diminua a presença do plástico e de outros tipos de materiais na Natureza”, reforça.
O papel da indústria
Na avaliação de Bahiense, a consciência ambiental na indústria do plástico já está estabelecida e ganha cada vez mais força. Exemplos disso são a preocupação no desenvolvimento de embalagens que possam ser reabastecidas por refil, aquelas fabricadas com apenas um tipo de polímero e/ou com design que facilite a reciclagem.
“É verdade que houve uma fase em que os objetivos da indústria eram apenas produzir, vender e lucrar, mas isso já passou há muitos anos. Até porque, o desperdício é ruim inclusive do ponto de vista econômico”, analisa.
Para ele, hoje os fabricantes exercem um tipo de “autopressão”, pois sabem que se não derem a devida importância para a sustentabilidade, dificilmente conseguirão continuar sua atividade.
Isso não impede que os consumidores cobrem que cada vez mais a indústria procure a melhor forma de produzir e de facilitar a reciclagem de seus produtos e embalagens. Mas faz uma ressalva:
“Quando se fala em ‘pressionar’, parece que ninguém quer preservar o meio ambiente, e não é verdade. O que mais a indústria, o consumidor e os demais atores da sociedade buscam hoje é a sustentabilidade. Então, sem dúvida, a cobrança precisa existir, mas acompanhada de uma consciência técnica-científica para que seja feita de um jeito adequado, e não simplesmente criticar por criticar.”
Questão de consciência
Em resumo, a consciência ambiental é algo que deve permear toda a sociedade e se converter em atitudes concretas.
“Eu costumo dizer que quem define se um produto é descartável ou não é o usuário, e não o material com o qual ele é feito. Voltando ao exemplo anterior, se eu utilizar o mesmo copo de plástico de café o dia todo, eu retiro o entendimento da descartabilidade dele, garanto sua reutilização e o equiparo a um copo de vidro ou cerâmica. Não é o plástico que diz se ele é descartável ou não, e sim a pessoa”, lembra Miguel.
São, portanto, estas atitudes que tirarão do plástico a fama de “vilão”: “Nós devemos parar de falar de matéria-prima e passar a falar de processos, de mudanças de comportamento que vão permitir benefícios ao meio ambiente. Do contrário, vamos passar o resto da vida fazendo pressão sobre a indústria do plástico, quando, na verdade, precisa ser feita sobre todos os atores da sociedade”.
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