Ao lado do ecodesign, redução do desperdício, reutilização e reciclagem, a pesquisa e desenvolvimento de plásticos biodegradáveis ou compostáveis são um dos princípios orientadores para acelerar a circularidade dos plásticos. 

De acordo com estudo da ABIPLAST (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), 52,1% das 2,2 milhões de toneladas de bioplásticos produzidas em todo mundo em 2023 são biodegradáveis. 

Isso significa que nem todo bioplástico (produzido a partir de fontes renováveis, como cana-de-açúcar, amido, celulose e outras) é biodegradável. O biopolietileno (Bio-PE) e o tereftalato de biopolietileno (Bio-PET), usados em embalagens, são exemplos de bioplásticos não biodegradáveis.  

Afinal, o que são plásticos biodegradáveis? 

Oscar Asakura, especialista em inovação e presidente do Rotary Club Satélite de São Paulo ESG por duas gestões, explica que plástico biodegradável é aquele capaz de ser degradado por microrganismos (bactérias, fungos), resultando em CO₂, água e biomassa.  

Porém, isso não significa que ocorra em qualquer lugar ou condição. “O meio ambiente natural (solo comum, rios, oceano, aterros) apresenta condições muito variáveis e geralmente impróprias para essa degradação rápida”

Como alternativa, os bioplásticos podem ser degradados por meio da compostagem industrial, que requer padrões como a Norma EN13432: degradação igual ou acima de 90 % em até seis meses em condições controladas de temperatura, umidade e oxigenação. 

Para jogar mais luz sobre este tema, o Mundo do Plástico pediu ajuda a Asakura para explicar se muitos conceitos atribuídos aos plásticos biodegradáveis são verdade ou mito. 

“Todo plástico biodegradável se decompõe no meio ambiente” 

Mito: muitos plásticos biodegradáveis, como PLA (ácido polilático) e PBAT (tereftalato de adipato de polibutileno) não degradam em ambientes naturais porque dependem de alta temperatura (acima de 50 °C), umidade e microrganismos específicos encontrados apenas na compostagem industrial. 

“Em ambientes comuns, esses materiais permanecem intactos por muitos anos, liberando fragmentos plásticos que afetam ecossistemas de forma similar aos plásticos convencionais”, afirma Asakura. 

“Plásticos biodegradáveis podem ser descartados na natureza sem problemas, pois não causam impacto ambiental” 

Mito: como citado anteriormente, bioplásticos não degradam rapidamente no ambiente natural se não houver condições específicas. Assim, podem permanecer por anos na natureza e gerar os mesmos impactos ambientais (poluição, ameaça à fauna e flora, liberação de microplástico e alterações nos ciclos da água e nutrientes) que os plásticos comuns. 

Portanto, abandonar resíduos plásticos, mesmo biodegradáveis, em solos, rios, oceanos ou outros ambientes fora de sistemas apropriados de gestão de resíduos é impróprio. 

Asakura ainda alerta que o “greenwashing comportamental”, ou seja, a percepção de “inofensividade” desses materiais, pode levar ao descarte irresponsável, aumentando a poluição. 

“Todo bioplástico é biodegradável” 

Mito: como descrito no início deste conteúdo, nem todo bioplástico é biodegradável. Alguns materiais são classificados como bioplásticos porque utilizam matéria-prima vegetal, mas apresentam estrutura química quase idêntica aos plásticos fósseis, tornando-os não biodegradáveis 

“Biodegradabilidade está ligada à estrutura molecular, não à origem. 
Plásticos bio-based (à base de biomassa) podem ter durabilidade igual a um plástico derivado do petróleo”, diz Asakura. 

Ele acrescenta, ainda, que blends e aditivos podem mudar a combinação molecular de bioplásticos originalmente projetados para serem biodegradáveis. 

“Plásticos biodegradáveis são a solução definitiva para o problema do lixo plástico” 

Mito: muitos plásticos biodegradáveis só se degradam em compostagem industrial ou digestão anaeróbia controlada. Em aterros, solos ou oceanos, podem permanecer por muitos anos. 

Isso significa que, mesmo se degradados parcialmente, os bioplásticos ainda podem gerar micro e nanoplásticos que afetam organismos e agregam poluição.  

O especialista aponta que, além disso, plásticos biodegradáveis misturados em fluxo de reciclagem convencional contaminam lotes e reduzem a qualidade do material reciclado.  

“Estudos afirmam que os plásticos biodegradáveis não são uma ‘bala de prata’ para poluição plástica. Devem ser usados com infraestrutura e em cenários específicos, não como solução universal.” 

“Plásticos biodegradáveis só podem ser produzidos a partir de fontes renováveis” 

Mito: Existem plásticos derivados do petróleo criados para serem degradados biologicamente. É o caso de certos poliésteres alifáticos. De novo: a capacidade de biodegradar está ligada à estrutura química do polímero, não à sua fonte.  

Como exemplos das diferentes situações, Asakura cita: 

  • Plásticos biodegradáveis provenientes de fontes renováveis: PLA e PHA (poli-hidroxialcanoato) 
  • Plásticos biodegradáveis vindos do petróleo: PBAT e alifáticos 
  • Plásticos não biodegradáveis produzidos a partir de fontes renováveis: BioPE 

“Nem todos os plásticos biodegradáveis são compostáveis” 

Verdade! Embora os materiais compostáveis sejam, por definição, biodegradáveis, muitos plásticos biodegradáveis não atendem a critérios rígidos de tempo e segurança para serem usados em compostagem industrial ou doméstica. Esse entendimento é essencial para evitar confusão e o descarte incorreto

Aqui é importante reforçar o conceito de compostagem: é um tipo específico de material biodegradável que se desintegra completamente dentro de um tempo definido e condições controladas (aeróbico, temperatura, umidade), seguindo normas como EN 13432 ou ASTM D6400, sem deixar resíduos prejudiciais. 

Para um plástico ser compostável, ele precisa se decompor totalmente num prazo de 180 dias sem deixar microplásticos ou substâncias tóxicas, em condições controladas. Muitos biodegradáveis não atendem a esses critérios.  

“Rótulos como compostável verde e internacional (BPI, EN, ASTM) garantem performance verificável. Produtos apenas biodegradáveis não são confiáveis para compostagem e podem contaminar instalações compostáveis”, constata Asakura.  

“Para a sustentabilidade, a biodegradação do plástico é melhor que a reciclagem” 

Mito: a reciclagem mecânica ou química oferece benefícios mais diretos e quantificáveis — como economia de energia, redução de emissões e manutenção de valor — em contraste com a biodegradação, que depende de infraestrutura limitada e pode causar impactos como emissão de gases e formação de microplásticos. 

A reciclagem de plásticos reduz em até 70% o consumo energético comparado com a produção de plástico virgem, além de diminuir a emissão de CO₂.  

Já a biodegradação pode gerar gases (como metano, em aterros anaeróbicos) e raramente ocorre plenamente sem infraestrutura adequada que ofereça as condições controladas. 

Plásticos reciclados retornam para a cadeia produtiva, conservando valor e reduzindo extração de recursos, enquanto a biodegradação elimina o material útil. Assim, quando disponível, a reciclagem é mais eficaz para os objetivos sustentáveis do que a biodegradação. 

Benefícios e desafios dos plásticos biodegradáveis 

Feitos os esclarecimentos, é importante reforçar que, sim, os plásticos biodegradáveis, quando projetados e coletados corretamente, podem oferecer vantagens ambientais e sociais significativas.  

Entre eles: 

  • Reduzem o uso de combustíveis fósseis e emissões de carbono; 
  • Oferecem fim de vida sustentável em compostagem ou digestão; 
  • Possibilitam uso eficiente de subprodutos agrícolas; e 
  • Estimulam inovação ecológica e econômica. 

“Esses pontos os tornam componentes valiosos em estratégias integradas de gestão de resíduos, políticas públicas e economia circular — desde que acompanhados por infraestrutura adequada, normas claras e educação ao consumidor”, aponta Asakura. 

A adoção em maior escala dos plásticos biodegradáveis enfrenta também desafios

Infraestrutura de descarte insuficiente 

As capacidades necessárias para a compostagem industrial ainda são limitadas em nível global. Além disso, os sistemas de coleta seletiva e triagem ainda não estão preparados para distinguir adequadamente esses materiais. 

Rotulagem e comportamento do consumidor 

A falta de padronização nos rótulos (“biodegradável”, “compostável”) pode gerar confusão e levar ao descarte incorreto. 

Microplásticos e emissões de GEE 

Mesmo biodegradáveis, esses plásticos podem gerar microplásticos e  gases de efeito estufa, como metano em aterros e CO₂ na degradação natural. 

Desempenho 

Em comparação aos plásticos convencionais, muitos biodegradáveis ainda apresentam menor durabilidade, resistência mecânica e estabilidade térmica, limitando sua aplicação. 

Custo elevado e competição por recursos agrícolas 

A produção de bioplásticos continua sendo mais cara, dificultando a produção em larga escala. Sem falar que a utilização de culturas alimentares (milho, cana) pode competir com a produção de alimentos, aumentar uso de água e fertilizantes. 

Necessidade de normas, padrões e regulação 

A ausência de legislação clara contribui para greenwashing e dificuldade no gerenciamento dos resíduos biodegradáveis.  

Em resumo, os plásticos biodegradáveis apresentam potencial real na busca pela sustentabilidade, mas ainda enfrentam limitações significativas. 

Na avaliação de Asakura, para cumprir uma função sustentável eficaz, eles devem ser usados com prudência e como parte de um sistema integrado que envolve redução de uso, coleta calibrada, triagem, compostagem industrial, reciclagem e regulação robusta. 

“Somente assim esses materiais poderão desempenhar um papel genuíno na economia circular e na mitigação da poluição plástica”, conclui.