No dia 21 de outubro, o Governo Federal publicou o decreto 12.688, que instituiu o Sistema de Logística Reversa para embalagens de plástico.
Com objetivo de promover a economia circular, o decreto abrange as embalagens primárias secundárias e terciárias de plástico, além de produtos equiparáveis (pratos, copos, talheres), e confere atribuições e metas a fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes.
Não por acaso, o tema foi um dos focos do evento Reciclagem do Futuro, promovido pelo Talk Plast em São Paulo apenas uma semana depois, 28 de outubro.
Desafios e oportunidades
No mesmo dia da publicação do decreto, a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) divulgou a mais recente versão do seu estudo anual Perfil das Indústrias de Transformação e Reciclagem de Plástico no Brasil e realizou, em Brasília, juntamente com a Abiquim e CNI, o fórum Plásticos: Avanços e Perspectivas para o Brasil, com a presença de lideranças da indústria, movimentos de catadores, parlamentares, ONGs e representantes do governo federal.
“Não foi nada combinado”, garantiu Paulo Teixeira, presidente-executivo da Abiplast, referindo-se à coincidência, na sua palestra de abertura do evento Reciclagem do Futuro, promovido pelo Talk Plast em São Paulo. “Foi um dia de conjunção para a indústria do plástico”, brincou.
Após apresentar números sobre reciclagem e indústria e seus desafios (oscilação no preço da matéria-prima virgem, redução das metas sustentáveis das marcas, questões tributárias), Paulo elencou o decreto do Sistema de Logística Reversa como uma das oportunidades para o mercado – ao lado de temas como o Tratado Global sobre Poluição dos Plásticos, a PEC da Reciclagem e normalização da reciclabilidade de produtos pela ABNT.
Segundo o dirigente, o decreto federal ainda está sendo “digerido” pelo setor: “Há muitos pontos nebulosos que estamos tentando entender, como a citada responsabilidade compartilhada”.
Ações políticas
Chamada para o painel seguinte, mediado pela jornalista Melina Gonçalves, publisher da revista Plástico Sul, a assessora de Relações Governamentais e Comércio Exterior da Abiplast, Magaly Menezes, concordou que o decreto precisa de ajustes, mesmo tendo contado com a contribuição da indústria do plástico para sua elaboração.
“Temos um caminho bem trilhado, mas ainda longo, a percorrer”.
Ela defendeu a importância de a indústria se mobilizar e defender o plástico e a reciclagem juntos aos criadores das políticas públicas a fim de evitar retrocessos – como o famigerado Projeto de Lei 2524/22, que propõe não a circularidade, mas sim o banimento de produtos plásticos.
Neste sentido, destacou o fórum de Brasília: “O evento levou para os poderes Executivo e Legislativo o que a indústria tem feito, os investimentos e avanços tecnológicos para a reciclabilidade do plástico”.
Frente Parlamentar em São Paulo
Rui Katsuno, CEO do MTF Termoformadoras, presidente do Instituto Soul do Plástico e um dos idealizadores da Frente Parlamentar de Economia Circular da Assembleia Legislativa de São Paulo, criada em dezembro de 2024, apresentou dois Projetos de Lei que já foram propostos pela Frente.
O primeiro deles (499/25), torna obrigatória a utilização de etiquetas em embalagens termoformadas a fim de aprimorar a reciclabilidade dos materiais; o outro (508/25) institui um código de cores para padronizar a identificação de materiais plásticos utilizados em embalagens termoformadas.
Katsuno detalhou também as ações do seu instituto em parceria com a ETEC de Mairiporã/SP, que têm como foco a educação ambiental, industrial, comercial e financeira dos alunos a partir da reciclagem de tampas plásticas – o projeto, inclusive, foi demonstrado na edição deste ano na feira Plástico Brasil.
Ele permaneceu no palco para o painel seguinte, sobre a renovação do parque industrial para o mercado de reciclagem, junto com outros fabricantes de máquinas e equipamentos: Alceu Lorenzon (Alcaplas), Oliver Lawrence (Erema/Sorema) e Diego Lessa (Lessa Máquinas).
Os empresários destacaram os avanços na automatização e de recursos da Indústria 4.0 para otimizar a reciclagem e ajudar a resolver um dos maiores desafios na atualidade: a falta de mão-de-obra qualificada.
Por outro lado, chamaram a atenção para as dificuldades que pequenos e médios recicladores enfrentam com o sistema tributário, que afeta os custos, e no acesso às linhas de financiamento para renovar seus parques industriais.
Alceu lembrou que, por exemplo, os produtos reciclados ficaram fora da Reforma Tributária e que estarão sujeitos a uma alíquota de 28%. “A bitributação é um impeditivo para aumentar os investimentos”, completou Oliver.
Aditivos e compostos
No segmento de componentes, Varley Vieira, CEO da Liquid Colours, ilustrou as vantagens dos pigmentos líquidos no processo de transformação.
A empresa vem fazendo uma verdadeira “catequese” com seus clientes para provar essas vantagens, como redução do tempo de setup e, mais importante, compatibilidade com resinas recicladas.
A Liquid Colours ainda oferece equipamentos dosadores do aditivo em regime de comodato, que atuam em conjunto com a extrusora e dispensam a mão-de-obra na dosagem.
Entre os aditivos – para proteção contra raios UV, aumento de fluidez, retardamento de chamas e outros –, Varley destacou os antimicrobianos. “Eles fazem o controle do crescimento microbiano e aumentam a durabilidade não só do produto, mas da própria embalagem”.
Ainda no segmento de compostos, o painel Inovação e Novas Tecnologias em Aditivose Materiais reuniu representantes de empresas que estão desenvolvendo novos materiais para aumentar as propriedades do plástico: Sidnei Nasser (Therpol), Guilherme Nascimento (Intermarketing), Danilo Fortes (Diamond Nero) e Augusto Lopes (Alceplas).
Os destaques foram o uso de grafeno e do látex, que conferem leveza, resistência e flexibilidade. Os palestrantes defenderam que, embora a adição destes compostos no processo de transformação possa aumentar o custo inicial, os empresários devem atentar ao custo final – ou seja, aos ganhos de produtividade e qualidade.
Sobre esse tema, em especial no uso de nanomateriais, Tomás Takito Passarinho e Bruno Rodrighiero Pallazo, sócios da empresa Hyper Nano, mostraram que a incorporação da borracha ao plástico impede a perda das suas propriedades mecânicas ao longo do ciclo de reciclagem.
“O foco da nossa empresa está no desenvolvimento de nanomateriais, sustentabilidade e alta performance”, disse Tomás. Um dos cases apresentados foi desenvolvido em parceria com a Therpol.
Mudanças climáticas
Especialista em Economia Circular, Marcos Iorio ficou responsável pela palestra sobre poluição plástica, e destacou que, dos nove limites que sustentam a vida no planeta, o principal – e mais crítico – são as mudanças climáticas, que estão a 90% do chamado “ponto de não-retorno”.
“Se banirmos os plásticos, esse número explode! As cimenteiras são os maiores emissores de CO2 e, como alternativa, hoje já existem tijolos de plástico para fazer casas”.
Comprovou também que canudos e sacolas plásticas, geralmente tratados como “vilões” do meio ambiente, representam 0,03% e 0,3% das fontes de microplásticos nos oceanos, respectivamente – enquanto os produtos da lavagem doméstica de roupas representam 35%.
“Estamos perdendo espécies porque envenenamos o planeta, e isso não ter a ver com os microplásticos”, afirmou.
Iorio reforçou que 53% dos resíduos coletados são orgânicos e, quando enterrados, emitem muito mais gás metano do que o plástico descartado incorretamente.
Plástico Brasil
Vale registrar que o time Comercial da Plástico Brasil marcou presença no evento para atualização e networking, já que a feira tem a reciclagem e a economia circular como alguns de seus eixos principais.
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