A indústria passa por constantes desafios, sejam tecnológicos, sejam estruturais. Com a indústria do plástico não é diferente.
A 15ª edição do Seminário Competitividade, realizada em São Paulo no dia 18 de setembro, elencou em seu tema dois dos desafios mais atuais para o setor: Transformação – Mercado e Indústria Redesenhados pela Guerra Comercial e Inteligência Artificial.
O Seminário é promovido por ABIPLAST, SINDIPLAST-SP e Plásticos em Revista, com apoio institucional da feira Plástico Brasil.
Quais as mudanças profundas que a economia atravessa?
Após as boas-vindas de Beatriz Helman, diretora da Plásticos em Revista, o presidente do conselho da ABIPLAST, José Ricardo Roriz Coelho, destacou o momento de mudanças profundas pelo qual a economia mundial atravessa.
Entre essas mudanças, ele citou o avanço da tecnologia, a nova geopolítica e as incertezas da economia global. Mas garantiu: “Nosso setor responde a esses desafios com competência”.
Roriz comentou, também, que grandes bancos confirmam que hoje, nos Estados Unidos, os grandes fluxos de investimento estão voltados para a Inteligência Artificial (IA).
Fatores de sucesso para a Inteligência Artificial
No primeiro painel do Seminário, Joaquim Alves Junior, gerente de Inovação e Transformação Digital na Unipac, listou os fatores de sucesso para adoção da IA na indústria:
- Ampla leitura do contexto
- Clareza da estratégica do negócio
- Identificação dos problemas
- Processo de negócios robusto e qualidade de dados
- Equipe dedicada e recursos
- Priorização das iniciativas de maior impacto no negócio
Desses, ele destaca a qualidade de dados como o principal fator de sucesso, uma vez que é a partir deles que a IA tomará decisões.
Outra dica é aproveitar o ecossistema de inovação já existente, ou seja, terceirizar etapas de desenvolvimento e implementação para startups. “Isso reduz os riscos e custos da empresa”.
Entre exemplos de processos em que a indústria pode ganhar competitividade com a IA, Alvez Junior citou Manufatura Inteligente, Manutenção Preditiva, Processo de Compras e Análise de Tempo e Métodos do processo industrial.
Digitalização é questão de cultura organizacional
Para Rodrigo Fabian Galvez, CEO da Balq, que comandou o painel seguinte, Posicionamento diante da inovação e a tecnologia disruptiva da IA, o ponto mais importante para adoção da IA está na cultura organizacional.
“Digitalização não é só tecnologia, é um processo de convencimento.”
Ele lembrou que casos como o da Unipac, que se encontra em um processo avançado de digitalização e automação, podem ser considerados exceção, pois não são a realidade de 95% dos transformadores brasileiros.
Assim, indústrias que pretendem começar este processo devem ter muita clareza sobre como toma as decisões, entender por que precisam se digitalizar e perceber que a digitalização é uma jornada com várias etapas, de modo a evitar “queimar a largada”.
Em seguida, expôs as tecnologias e infraestrutura necessárias e disponibilizadas pelo mercado nesta jornada:
- Software as a Service: a locação de programas garante disponibilidade, atualização constante e simplificação da estrutura;
- Big Data: armazenamento em nuvem, sem necessidade de investir em grandes servidores próprios de dados;
- Internet das Coisas (IoT): sensores que mensuram automaticamente e sem erros;
- Protocolos de Comunicação: para interação entre máquinas e periféricos;
- Computação de borda: faz as traduções e correlações;
- Computação em nuvem: faz a correlação dos dados e realiza os cálculos em computadores virtuais; e, por fim;
- Inteligência Artificial: que vai se encarregar de interpretar os dados e dar sugestões, controlar as máquinas, avaliar anomalias e desempenho. Desse modo, a IA se converte em um “copiloto” das lideranças industriais.
“O futuro da IA é ser um dos membros do Conselho das empresas”, prevê Galvez.
Como pequenas empresas podem começar a se digitalizar
Na sequência, Alvez Junior e Galvez permaneceram no palco para um debate mediado por Ricardo Prado, CEO da Piovan América do Sul, que iniciou constatando que das 12.400 indústria de transformação do plástico no Brasil, 77% são de micro e pequeno portes, o que seria um obstáculo para iniciar o processo de digitalização.
Alves Junior lembrou que atualmente a tecnologia está cada vez mais disponível, o que vem barateando os recursos. “Eu penso que o mais importante é o empresário ter clareza de como quer se desenvolver”.
Já Galvez voltou a falar da cultura organizacional, em que muitas vezes o empresário está focado apenas no início e fim do processo: custos, matéria-prima, entrega do produto. “Ele precisa enxergar o meio desse processo, investir tempo para pensar sua empresa de um modo estruturado”.
Outro ponto de atenção levantado no debate foi a idade do parque fabril brasileiro, em torno de 14 anos, o que pode dificultar a coleta de dados e a interação entre as máquinas.
“Para criar cultura de digitalização é necessário que as áreas vão experimentando a tecnologia aos poucos a aprendendo a olhar os problemas de uma forma nova”, concluiu Alves.
Carência de mão de obra na indústria de transformação
A carência de mão de obra especializada não é um desafio específico da indústria de transformação, segundo Marcello Luiz de Souza Júnior, gerente de Relações com o Mercado do SENAI-SP no painel seguinte.
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrou que na construção civil a dificuldade é apontada por 82,4% dos empregadores, 77,3% no varejo e 76,8% na indústria de transformação.
“A verdade é que há menos pessoas disponíveis para trabalhar”, afirmou. Para provar seu ponto, Souza Júnior apresentou um conjunto de dados e pesquisas que demonstram o seguinte:
- Hoje, metade dos fatores que envolvem a escolha da profissão estão relacionados à flexibilidade e equilíbrio com a vida pessoal e com o ambiente de trabalho e perspectivas profissionais;
- A participação da população na força de trabalho não retornou ao nível pré-pandemia: 66,29% em 2019 e 63,01% em 2024;
- O saldo migratório (diferença entre pessoas que chegam e saem do Estado) era de 144 mil no início dos anos 2000, e hoje está negativo em 25 mil;
- A população em idade ativa era de 78,35% em 2022 e deve chegar a 2050 em 66,81%
- A participação de jovens até 24 anos no emprego formal da indústria de transformação caiu 26,49% entre 2006 e 2024;
- A indústria de transformação perdeu uma posição no ranking setorial de participação de jovens nos empregos formais (de 2º para 3º lugar), enquanto a construção civil subiu duas posições e hoje ocupa o 2º lugar (atrás do comércio).
A carência de mão de obra na indústria se dá também pela competição com outros setores. Por exemplo:
- Os salários de admissão pagos pelo setor de serviços são próximos aos da indústria;
- A participação do emprego informal subiu 12,24% entre 2015 e 2024;
- Os salários médios da informalidade têm se expandido a taxas mais aceleradas que os do emprego formal e se equiparam em 2024;
- O número de Microempreendedores Individuais (MEI) em São Paulo cresce exponencialmente (em média, mais de 84 mil novos MEI por mês) e chega a quase 4,5 milhões só no Estado;
- Para se ter uma ideia, esse número é maior que o total de trabalhadores formais na indústria paulista (quase 3,5 milhões);
- Do total de MEI no Estado, apenas 18,35% atuam na indústria;
Por fim, os serviços oferecidos pelas plataformas (mobilidade, entrega) já ocupam quase 730 milhões de pessoas, sendo que o rendimento médio desses trabalhadores (R$ 3.998) quase se equipara ao do trabalhador na indústria (R$ 4.443).
“Como se vê”, fechou Souza Júnior, “não existe uma solução única. A indústria precisa adotar as várias tecnologias disponíveis para aumentar a produtividade e estabelecer uma conexão maior entre os agentes”.
É preciso criar atrativos para os jovens na indústria
Para finalizar a primeira parte do 15º Seminário Competividade, Souza Júnior ficou para um debate com José Roberto Squinello, sócio-proprietário da Squinello & Prado Consultoria, moderado por Albano Schmidt, diretor-presidente da Termotécnica.
Os debatedores comentaram maneiras de a indústria de transformação criar atrativos para os jovens, como oferecer valores e oportunidades.
Mas Squinello lembrou: “Os problemas e a desigualdade sociais acabam por afetar a formação desses jovens, dificultando a colocação no mercado”.
Continue acompanhando o Mundo do Plástico para saber como foi a segunda parte do Seminário de Competitividade da indústria do plástico.