A transformação digital está no cerne da nova fase do programa Brasil Mais Produtivo, lançado em novembro de 2023.

A premissa é que as novas tecnologias do processo produtivo e a capacitação dos trabalhadores vão aumentar a produtividade e a competitividade da indústria brasileira.

Outro aspecto do programa é a sustentabilidade, uma vez que a tecnologia digital facilita o desenvolvimento de soluções que diminuem o impacto ambiental dos processos produtivos.

Abordagem holística

Wagner Monteiro, head de Transformação Digital da BASF para América do Sul, confirma que, de fato, a transformação digital desempenha um papel crucial na promoção de práticas sustentáveis na indústria, sendo responsável por redefinir processos e impulsionar inovações.

“Num contexto global, empresas multinacionais, como a BASF, tendem a adotar uma abordagem holística, conectando suas estratégias.”

Ele cita como exemplo o Centro de Experiências Científicas e Digitais da BASF, que há quatro anos conecta clientes, fornecedores, startups, colaboradores e universidades ao ecossistema de inovação.

Para se ter uma ideia do impacto da inovação em resultados sustentáveis, uma linha de produtos voltada aos fabricantes de produtos de limpeza e de cuidados pessoais desenvolvido nos laboratórios do Centro de Experiências Científicas e Digitais, a Soluprat, promove a otimização dos processos, acelera o time to market (tempo entre desenvolvimento de um produto e sua disponibilização para venda) e assegura a sustentabilidade por meio de uma produção 4,5 vezes mais rápida.

Com isso, reduz em 67% o consumo de energia e diminui em 75% a pegada de carbono.

Benefícios da digitalização na sustentabilidade

Para Monteiro, a integração da tecnologia nos processos produtivos não apenas impulsiona a eficiência operacional nas organizações, como também auxilia nos aspectos ambiental, social e econômico:

“Ao priorizar a sustentabilidade durante a transformação digital, as empresas atendem às expectativas da sociedade e regulamentações ambientais, e se posicionam como agentes de mudança positiva. Essa abordagem fortalece a reputação da empresa e cria vantagens competitivas sustentáveis a longo prazo, alinhadas às expectativas de consumidores e investidores conscientes.”

Entre os muitos benefícios, a integração de soluções digitais permite às empresas monitorar e otimizar o consumo de recursos, reduzindo desperdícios e promovendo práticas mais sustentáveis em toda a cadeia de valor.

O Subway, no Complexo Químico da BASF em Guaratinguetá/SP, ilustra bem este tipo de ganho. Trata-se de um inovador sistema de transporte pneumático de amostras com 2,5 quilômetros de tubulações suspensas e que conecta 13 unidades de produção aos laboratórios.

Ao otimizar o envio e retorno das amostras, o sistema elimina a necessidade do deslocamento físico entre profissionais e resulta em eficiência operacional e na redução do impacto ambiental.

Tecnologia ambiental

A tecnologia pode ser direcionada diretamente à gestão ambiental. A BASF mantém o programa B-Cycle, voltado a oferecer soluções para as várias etapas do processo de reciclagem, desde a triagem, passando pela lavagem até a extrusão e conversão.

Na etapa de triagem é utilizada uma tecnologia de espectroscopia de infravermelho próximo chamada tinamiX NIR. Ela identifica com precisão e em segundos os numerosos tipos de plástico, facilitando a separação de materiais – uma das etapas mais desafiadoras da reciclagem mecânica.

“No contexto da reciclagem, uma separação por tipo de material tem efeito favorável na qualidade do reciclado, além de reduzir materiais que iriam para o rejeito por não terem a identificação possível. Como resultado, é alcançada a produção de reciclados de plástico de grau único de alta qualidade, muito mais lucrativa”, explica o head da BASF.

Ainda durante a operação, são usados aditivos que evitam degradação oxidativa e térmica, asseguram a qualidade e preservam as propriedades do material reciclado, que podem retornar à economia e fechar o ciclo de circularidade.

Estágio digital

Para o executivo, é perceptível que as indústrias estão cada vez mais reconhecendo a interconexão entre transformação digital e sustentabilidade.

Esta integração, na sua visão, não atende apenas às demandas ambientais, mas também cria um ciclo virtuoso.

“Ao otimizar operações por meio de tecnologias digitais, reduzimos impactos ambientais, melhoramos a eficiência energética e promovemos a economia circular”, afirma.

Mas engana-se quem pensa que uma indústria que ainda esteja nos estágios iniciais ou nem deu início à transformação digital não possa, desde já, aumentar a sustentabilidade de sua atividade.

“Como primeiro passo, é essencial que as empresas, especialmente aquelas de menor porte, se organizem e se estruturem antes de traçar estratégias de longo prazo. Essa organização prévia proporciona uma base sólida para a implementação de práticas sustentáveis, independentemente do estágio digital”, orienta Monteiro.

Outra dica é que a gestão eficaz de recursos, a redução de resíduos e a otimização de processos são atitudes tangíveis que podem melhorar a sustentabilidade operacional.

Assim, ao colaborar com outras empresas, instituições de pesquisa ou organizações especializadas, estas empresas podem aproveitar conhecimentos e recursos adicionais para promover essas práticas.

Um ponto essencial para impulsionar a estratégia traçada é a cultura interna, ou seja, a capacitação e conscientização dos colaboradores.

“Estratégias coletivas proporcionam não apenas benefícios imediatos, mas também fortalecem a resiliência e a adaptabilidade das empresas diante de mudanças futuras”, destaca.

“Ao adotar a tecnologia de forma integrada, a empresa não apenas atende, mas supera as demandas do mercado criando um diferencial estratégico que impulsiona o crescimento e estabelece um padrão para práticas empresariais responsáveis e inovadoras”, conclui.

Como sua indústria utiliza a tecnologia para melhorar a sustentabilidade dos processos produtivos?

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