A reciclagem de plásticos no Brasil tem avançado nos últimos anos. Em 2023, o país alcançou um índice de reciclagem mecânica de 20,6%, com a recuperação de 1,4 milhão de toneladas de resíduos plásticos, sendo 984 mil toneladas provenientes de embalagens.
Apesar desse progresso, o Brasil ainda enfrenta desafios, como a taxa de reciclagem de plástico pós-consumo de 23%, inferior à média de 40% observada na União Europeia. Uma das soluções para esse problema é a logística reversa, que promove a economia de recursos, o reaproveitamento de materiais e a redução dos impactos ambientais.
A palestra “Logística Reversa e Produção Limpa como Ferramentas para a Circularidade dos Materiais“, realizada na Plástico Brasil 2025, reuniu líderes da indústria para discutir cases de sucesso que venceram o Prêmio Plástico Sul de Inovação e Sustentabilidade 2024 e trouxeram algumas soluções inovadores de reciclagem para a indústria.
Ambiental from JBS: Big Bag Sustentável
Larissa Rocha, especialista comercial da JBS, apresentou o case “Big Bag Sustentável”, vencedor do prêmio na categoria Logística Reversa. O projeto foca no reaproveitamento de resíduos sólidos, retornando-os ao início da cadeia produtiva. “A gente sabe que é um desafio muito grande e caro”, destacou Larissa.
A iniciativa envolve a coleta de liners utilizados no agronegócio, que são processados pela JBS Ambiental para se transformarem novamente em resina. Essa resina é então utilizada por empresas parceiras na fabricação de novos produtos, como big bags sustentáveis.
Cada big bag produzida utiliza cerca de 120 garrafas PET recicladas, reduzindo significativamente a quantidade de plástico descartado no meio ambiente. Além disso, a substituição de materiais virgens por reciclados resulta em uma redução de até 70% nas emissões de carbono em comparação com as big bags tradicionais.
O projeto conta com a parceria da Cibra Fertilizantes e da Packem. Juntas, as empresas implementaram um ciclo fechado de reciclagem, conhecido como “bag-to-bag”, onde, após o uso, os big bags são coletados e reciclados, transformando-se em novos produtos.
“Queremos expandir esse projeto e pensar com toda a cadeira sobre reciclagem e como diminuir esse impacto”, afirmou Larissa.
PepsiCo: Operações zero aterro e reciclagem de BOPP
Já Priscila Papazissis, gerente corporativa de EHS da PepsiCo, compartilhou dois cases da PepsiCo que também foram reconhecidos no Prêmio Plástico Sul 2024.
O primeiro, “Fábricas Zero Aterro”, premiado na categoria Produção Limpa, visa eliminar o envio de resíduos para aterros sanitários em todas as operações da empresa. “Partindo para o segundo ou terceiro ano de zero aterro, decidimos fazer mais”, comentou Priscila sobre a evolução do projeto.
Com esse pensamento, veio o segundo projeto, que aborda a reciclagem do BOPP, plástico flexível utilizado em embalagens de salgadinhos, que anteriormente não era reciclado. A PepsiCo estabeleceu parcerias em São Paulo, Espírito Santo e Pernambuco para coletar e reciclar 100% desse material. “A gente queria coletar só esses pacotes e o desafio foi enorme”, explicou Priscila, destacando a complexidade da iniciativa.
Embora o material reciclado seja atualmente direcionado para a eficiência energética, evitando o envio para aterros e reduzindo a pegada de carbono, a empresa ainda quer fazer mais e buscar soluções ainda mais sustentáveis. “A gente quer reciclar, mas economicamente tem que ser sustentável”, concluiu.
Desafios e perspectivas
Ambas as palestrantes enfatizaram os desafios econômicos e culturais na implementação de práticas sustentáveis. Larissa Rocha apontou que “as empresas querem ser sustentáveis, mas não querem pagar”, ressaltando a necessidade de um compromisso financeiro para viabilizar projetos ecológicos. Além disso, mencionou o preconceito existente com o plástico reciclado: “Não é porque não é resina virgem que não tem qualidade técnica”.
Priscila destacou as restrições regulatórias, como as impostas pela Anvisa, que impedem o uso de materiais reciclados em embalagens primárias para consumo.
Apesar dos obstáculos, ambas as empresas se comprometeram a continuar investindo em soluções sustentáveis, contribuindo para a circularidade dos materiais na indústria do plástico.