A poliamida é um plástico de engenharia mais conhecido pelo nome seu comercial, náilon (ou nylon, no original em inglês).

Em razão de suas propriedades – resistência a desgaste, estabilidade térmica e química, amortecimento mecânico, deslizamento, baixa densidade – este polímero é utilizado não só como fibras na indústria têxtil, mas também em peças e artefatos pela automotiva, de bens de consumo, eletroeletrônica e outras.

O que é a poliamida?

Como polímero, a poliamida consiste em uma cadeia de moléculas grandes (macromoléculas), dentro das quais há grupos de amidas (CONH) que se repetem centenas de vezes.

Existem diferentes tipos de poliamidas, designadas a partir de sua composição, conforme explica Baltus Cornelius Bonse, professor de Engenharia de Materiais da FEI (Fundação Educacional Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros):

“A primeira fibra totalmente sintética foi o náilon 66, feito de dois produtos químicos chamados de monômeros: uma diamina (hexametileno diamina) contendo 6 átomos de carbono e um diácido (ácido adípico) também com 6 átomos de carbono. Daí a nomenclatura 66. Já o náilon 610 é obtido de uma diamina contendo 6 carbonos e um diácido contendo 10 carbonos.”

Por sua vez, os náilons que levam apenas um número na nomenclatura derivam de um único monômero, como, por exemplo, o náilon 6 e o náilon 12, obtidos de lactamas (amida cíclica) que contêm, respectivamente, 6 e 12 carbonos, e o náilon 11, de um aminoácido com 11 carbonos.

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Como o náilon é produzido?

Os diferentes tipos de náilon se originam a partir de mudanças no processo de produção.

No caso do mais comum, o náilon 66, a fabricação começa com a produção da diamina e do diácido, e segue as etapas descritas pelo professor Bonse:

  • A diamina e o diácido são combinados para formar o sal de náilon, que é dissolvido em água e enviado para fiação;
  • Esta solução é transformada em uma solução concentrada por aquecimento em grandes evaporadores;
  • A solução concentrada é então aquecida em autoclave sob pressão e temperatura para formar o polímero de náilon 66;
  • Após a polimerização, o polímero pode ser enviado diretamente para uma fieira, um dispositivo com dezenas de pequenos orifícios que lembra um chuveiro, usada para extrudar essa substância;
  • Antes da extrusão, o polímero fundido é filtrado para remover impurezas ou partículas indesejadas que possam afetar a qualidade das fibras;
  • Os fios finos extrudados através da fieira solidificam imediatamente em contato com um fluxo de ar frio suave e estável;
  • Os fios resfriados passam por um processo de alongamento para melhorar suas propriedades mecânicas, como resistência e tenacidade. Isso é feito puxando-se os fios através de rolos ou dispositivos de alongamento;
  • As fibras são então enroladas em bobinas ou cones para facilitar o manuseio e o transporte.

Já no caso do náilon 6, composto de um único monômero, a caprolactama, a primeira etapa do processo é diferente:

  • A caprolactama, uma amida cíclica com seis átomos de carbono, é convertida em polimerização por abertura de anel;
  • Depois de aquecer a caprolactama a cerca de 260°C durante quatro a cinco horas, o anel começa a quebrar na presença de vapor d’agua, numa atmosfera inerte de nitrogênio;
  • O anel se abre pelo processo de hidrólise e as cadeias moleculares continuam a crescer em atmosfera de nitrogênio a baixa pressão;
  • A viscosidade da caprolactama vai aumentado de muito fluida para uma semelhante à do mel, resultando num polímero fundido.
  • A partir daí, o processo de fiação é similar ao do náilon 66.

Diferenças entre os tipos de poliamida

A família das poliamidas é grande, mas dois nomes sempre aparecem em destaque: PA 6 e PA 6.6. Ambos são conhecidos comercialmente como náilon e compartilham algumas características, como boa resistência mecânica, leveza e certa flexibilidade. No entanto, suas diferenças estruturais impactam diretamente no desempenho e nas aplicações do náilon.

O PA 6, ou náilon 6, é produzido a partir da polimerização de caprolactama — um composto cíclico que, ao ser aberto em cadeia, forma a estrutura do polímero. Tem ponto de fusão em torno de 223 °C e se destaca pela boa absorção de impacto, além de ótimo custo-benefício. Por isso, é comum em peças automotivas, fios têxteis e componentes industriais.

Já o PA 6.6 nasce da condensação de dois monômeros: hexametilenodiamina e ácido adípico — ambos com 6 átomos de carbono, o que dá nome à sigla 6.6. Esse processo resulta em um material com ponto de fusão mais elevado, cerca de 255 °C, o que o torna mais estável sob altas temperaturas. O PA 6.6 costuma ser a escolha em situações que exigem maior rigidez, resistência térmica e estabilidade dimensional, como em engrenagens, buchas e conexões elétricas.

Há ainda o PA 12, que se diferencia por sua menor absorção de umidade e maior flexibilidade. É bastante usado em tubos, linhas de combustível e componentes de sistemas pneumáticos. Por ser menos higroscópico, o PA 12 também oferece melhor estabilidade dimensional em ambientes úmidos.

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Como a poliamida é transformada?

Os pellets ou grânulos de náilon resultantes destes processos são derretidos e moldados em produtos finais por meio de técnicas de processamento como moldagem por injeção, para produzir, por exemplo, engrenagens; extrusão, para fabricação de filmes, placas, tubos e perfis em geral; e outros processos de conformação dependendo da aplicação do produto.

“Quando reforçados com fibras de vidro, curtas ou longas, a rigidez das poliamidas pode competir com a dos metais. É por isso que as poliamidas são frequentemente consideradas em projetos de substituição de metais, cita Bonse.

Aplicações do náilon

Para o senso comum, a palavra náilon remete imediatamente à uma linha flexível e resistente usada em tecidos e redes de pesca, mas seus formatos e aplicações vão muito além disso.

Veja algumas delas:

Indústria têxtil: Aplicação bastante conhecida, na forma de fibras sintéticas usadas em carpetes e tecidos que conferem flexibilidade, absorção de suor, durabilidade e elasticidade, especialmente em roupas de banho, esportivas e lingeries;

Eletrodomésticos: Peças e partes de geladeira, rotores, roletes e rodas de lava-roupas e outras;

Automobilística: Cobertura do motor, condutores de ar, radiador, carcaças e outras peças e artefatos. A maior vantagem é a leveza do náilon em relação aos metais, o que reduz o peso do veículo;

Indústria geral: Engrenagens, rodas industriais, disjuntores, conectores e interruptores, filmes, placas, tubos, perfis, peças para móveis.

Náilon é reciclável?

O náilon pode ser reciclado a partir dos seguintes métodos listados por Bonse: reciclagem mecânica, química (despolimerização do náilon para seus monômeros pelo processo de hidrólise) e energética (o polímero é incinerado para aproveitar a energia gerada).

A reciclagem do náilon enfrenta desafios que afetam sua eficácia e viabilidade, como contaminação, variedade de tipos de náilon, resistência à degradação, custos de coleta e transporte, tecnologia especializada, viabilidade econômica e falta de conscientização”, relata o professor.

No caso da reciclagem mecânica, isto faz com que muitas vezes fique mais vantajoso para o transformador comprar o material virgem; já na energética, as plantas devem prever sistemas antipoluição, cuja eficiência é proporcional ao custo, pois a queima pode gerar compostos tóxicos.

“Apesar desses desafios, a reciclagem de náilon é fundamental para reduzir o impacto ambiental e preservar recursos naturais”, alerta.

Vantagens e desvantagens do náilon

O náilon, ou poliamida, é um daqueles materiais que parecem ter mil utilidades. Sua popularidade vem de um conjunto de qualidades que o tornam atraente para diferentes setores. Mas, como todo material, também apresenta limitações. 

A seguir, destacamos as vantagens do náilon e as desvantagens da poliamida para ajudar na hora de decidir se esse polímero é a escolha certa para a sua aplicação.

Vantagens do náilon

Alta resistência mecânica e durabilidade

O náilon é conhecido por suportar impactos e tensões com facilidade. Entre os plásticos de engenharia, ele se destaca por resistir bem à tração, abrasão e deformações, o que garante vida útil prolongada mesmo sob uso intenso.

Estabilidade térmica

Modelos como PA 6 e PA 6.6 mantêm suas propriedades estruturais mesmo em ambientes com variações de temperatura. Em engrenagens ou peças móveis, essa estabilidade evita deformações indesejadas e contribui para a confiabilidade dos sistemas.

Boa performance com baixo atrito

O náilon tem baixo coeficiente de atrito, o que permite seu uso em peças deslizantes e componentes mecânicos que exigem movimentos suaves, com menor desgaste ao longo do tempo.

Versatilidade de aplicações

Por haver diferentes tipos de poliamida, como PA 6, PA 6.6 e PA 12, o material pode ser ajustado conforme a necessidade. De roupas e mochilas a buchas industriais, o náilon se adapta a ambientes e exigências variadas. 

Por isso, é comum encontrar produtos com múltiplas aplicações do náilon, incluindo setores automotivo, têxtil, eletroeletrônico e até médico.

Custo-benefício

Comparado a metais e outros polímeros de alto desempenho, o náilon oferece um equilíbrio atrativo entre custo e durabilidade. Assim se reduz gastos com manutenção e trocas, sem comprometer a qualidade.

Desvantagens da poliamida

Alta absorção de umidade

A principal fragilidade do náilon é sua afinidade com a água. Ele absorve umidade do ambiente, o que pode afetar propriedades mecânicas e dimensionais — especialmente em peças que exigem alta precisão.

Sensibilidade a UV e agentes químicos agressivos

Embora resista bem a muitos solventes, o náilon sofre degradação quando exposto por longos períodos à radiação ultravioleta e a ácidos fortes. Para uso externo ou em contato com químicos específicos, pode ser necessário adicionar estabilizantes.

Reciclabilidade limitada

Apesar de ser possível recuperar alguns resíduos, a reciclabilidade da poliamida ainda enfrenta desafios. O reaproveitamento exige processos bem controlados para garantir que o material reciclado mantenha desempenho técnico semelhante ao original — o que nem sempre acontece com eficiência.

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Sustentabilidade e futuro da poliamida na indústria

Embora a poliamida ofereça alto desempenho, sua reciclabilidade ainda enfrenta entraves técnicos e ambientais. Métodos como incineração e aterros geram poluentes e não são recomendados. 

Já a reciclagem química — incluindo hidrólise, álcoolise e hidrogenólise — permite recuperar monômeros de PA 6 e PA 6.6, mas exige temperaturas elevadas, alta pressão e reagentes agressivos, o que eleva os custos e dificulta o uso em larga escala.

A reciclagem mecânica é mais acessível, porém reduz a qualidade do material. Métodos biológicos, com enzimas ou microrganismos, ainda têm aplicação limitada, agindo apenas em compostos de baixo peso molecular.

Nesse contexto, a Loopamid, desenvolvida pela BASF e utilizada pela Zara, representa um avanço. Trata-se de uma poliamida 6 feita 100% de resíduos têxteis, inclusive tecidos mistos com elastano, que pode ser reciclada diversas vezes sem perda de qualidade. Toda a peça — do tecido ao zíper — foi projetada para facilitar a reciclagem.

O futuro da poliamida depende de soluções como essa: circulares, escaláveis e alinhadas com práticas sustentáveis, capazes de manter as vantagens do náilon enquanto superam as desvantagens da poliamida.

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