A adoção de tecnologias diversas em uma indústria, por si só, não representa que ela esteja passando pela transformação digital. O sucesso não depende apenas dessas tecnologias, mas sim da maturidade com que ela é utilizada.

Em resumo, a maturidade digital ou tecnológica segue um sistema de avaliação que ajuda as empresas a entenderem seu nível de desenvolvimento digital e a tomarem decisões mais estratégicas.

Maturidade tecnológica

Esse, inclusive, foi o tema do Demonstrador da Indústria 4.0 na feira EXPOMAFE deste ano.

Conforme o modelo da Academia Alemã de Ciências e Engenharia adotado pela ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) tanto no Guia que elaborou quanto no Demonstrador da Indústria 4.0, a maturidade tecnológica se divide em cinco estágios:

  1. Informatização
  2. Conectividade e Visibilidade
  3. Visibilidade e Transparência
  4. Capacidade Preditiva
  5. Flexibilidade e Adaptabilidade.

Citando o estudo Índice de Transformação Digital Brasil (ITDBr), Luciana Miranda, COO e CMO da AP Digital Services, consultoria especializada em tecnologia e serviços digitais, diz que apesar do avanço da maturidade digital no nosso país (de 3,3 pontos em 2023 para 3,7 em 2024), barreiras culturais e estruturais ainda limitam uma evolução mais abrangente.

Ela explica algumas dessas barreiras:

Resistência à Mudança: cultura organizacional que não pratica ou incentiva a inovação;

Falta de Liderança Visionária: líderes apegados ao modelo atual e que não promovem ou incentivam a transformação digital;

Aversão ao Risco: inovar representa uma mudança sujeita a falhas, e a maioria das organizações são avessas às falhas, mesmo que os resultados possam gerar muito mais retorno que as perdas;

Infraestrutura Tecnológica Deficiente: infraestrutura antiga ou em modernização, mas não preparada para uma conectividade de qualidade e sistemas atualizados e resilientes;

Processos e Estruturas Organizacionais Rígidas: estruturas hierárquicas e processos inflexíveis dificultam a implementação de mudanças rápidas e a integração de novas tecnologias; e

Falta de Estratégia Coordenada: ausência de uma estratégia digital clara e que seja reflexo da estratégia da própria empresa e de seus objetivos de negócio.

“Mas, nesse cenário, ainda podemos criar o ambiente certo e fazer com que todos esses pontos sejam revertidos ou trabalhados ao mesmo tempo que colocamos em prática toda a digitalização”, pondera Luciana.

Entre as práticas que auxiliam na maturidade digital das empresas estão: desenvolvimento de lideranças digitais, promoção de uma cultura de inovação, investimentos em infraestrutura, revisão de processos e estruturas, e elaboração de uma estratégia digital clara.

Transformação digital para quem está começando

É natural que empresas que decidam iniciar sua transformação digital ou mesmo evoluir de um estágio para outro encontrem dificuldades.

Além de precisar superar os obstáculos já citados, Luciana lista alguns dos erros mais comuns cometidos por essas empresas:

  • Foco em esforços somente na tecnologia sem antes focar na estratégia;
  • Ignorar a cultura organizacional;
  • Não preparar equipes, pessoas e processos;
  • Não fazer a transformação de forma gradual, tentando fazer uma virada repentina.

“A transformação digital é uma jornada de negócio com apoio da tecnologia, não o contrário. Tecnologia é um meio de chegar aos objetivos de negócio”, alerta.

Por isso, reforça, é importante estabelecer indicadores de performance e metas claras para acompanhar a evolução, gerar aprendizados ao longo do caminho e mostrar a todos que a mudança pode e será benéfica se bem-feita.

Tecnologias indispensáveis

A executiva da AP Digital Services destaca que algumas tecnologias estão emergindo em 2025 como pilares da competitividade para as empresas em diferentes níveis de maturidade digital. São elas:

  1. Inteligência Artificial: fundamental para analisar grandes quantidades de dados, prever demandas, personalizar o atendimento e automatizar atividades críticas;
  2. 5G: permite a tomada de decisões em tempo real por meio de recursos de Internet das Coisas (IoT) e experiências conectadas, aperfeiçoando o desempenho;
  3. Computação em nuvem: amplia a flexibilidade, adaptando os recursos de acordo com a demanda e eliminando a necessidade de altos investimentos em hardware e manutenção de infraestrutura;
  4. Automação inteligente: redefine processos ao ir além da execução de tarefas repetitivas, otimizando fluxos operacionais e permitindo assertividade de acordo com o core business da empresa; e
  5. Cibersegurança avançada: é mandatória para assegurar a integridade da operação e dos negócios, evitando danos financeiros e reputacionais e garantindo conformidade regulatória.

“Essas cinco tecnologias, quando integradas com inteligência, não apenas otimizam operações, mas também impulsionam a diferenciação das empresas em seus respectivos mercados de atuação”, completa.

Segundo Luciana, dessas tecnologias emergentes estão mais acessíveis a empresas de pequeno porte do que há alguns anos. Como exemplo, ela cita o SaaS (Software as a Service), uma espécie de assinatura que dispensa a aquisição e permite que as empresas comecem a usar as soluções com investimentos bem mais baixos e de forma escalável.

“O ponto principal não é só o custo, é entender como usar a tecnologia de forma estratégica, integrada ao negócio e seus objetivos. Muitas vezes, a barreira está mais na falta de clareza sobre o que priorizar, ou na dificuldade de preparar as pessoas para a mudança, do que no acesso à ferramenta em si.”

O melhor, ela orienta, é começar pequeno, testar, aprender e ir crescendo com consistência — desde que a tecnologia esteja conectada a um propósito claro.

Transformação e sustentabilidade

Além de focar apenas na tecnologia, outro erro que as empresas podem cometer em sua jornada de transformação digital é negligenciar um diferencial atualmente competitivo: a sustentabilidade.

Para Luciana, a transformação digital e a sustentabilidade devem caminhar juntas. “Quando a gente fala em digitalização, não é só sobre eficiência ou automação, mas também sobre repensar processos com um olhar mais inteligente e responsável”.

A tecnologia bem aplicada pode, por exemplo:

  • Ajudar a reduzir desperdícios
  • Otimizar rotas logísticas
  • Diminuir consumo de papel
  • Controlar melhor o uso de energia
  • Prever impactos ambientais antes que eles aconteçam.

“As empresas devem, e precisam, considerar a redução do impacto ambiental como parte do processo de transformação. A sustentabilidade precisa deixar de ser um pilar isolado e passar a ser alinhado e ligado à estratégia de negócios, e a tecnologia pode ser uma grande aliada nisso.”

Além das tecnologias para a transformação digital, saiba como trabalhar a expansão da capacidade na indústria.